Zanoni Demettino Castro | Arcebispo de Feira de Santana
No dia 20 de novembro, em milhares de cidades brasileiras e em seis estados (Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro) celebra-se o Dia Nacional da Consciência Negra. Os dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a realidade brasileira, da qual 53% da população, é formada por negros e negras, mostram que 70% da população que vive em situação de extrema pobreza são negras. Leia na íntegra.
A chance de um negro ser analfabeto é 5 vezes maior que um branco. Eles representam 68% dos analfabetos do país segundo o IBGE. Somente 1 pessoa a cada 4 com ensino superior é negra. A cada 12 minutos, 1 pessoa negra é assassinada no Brasil. 75% da população carcerária no Brasil é de pessoas negras.
A data, incluída em 2003 no calendário escolar nacional, se refere à morte de Zumbi dos Palmares, o último líder do maior dos quilombos do período colonial, o Quilombo dos Palmares. Comemorado há mais de 30 anos por ativistas do movimento negro, a data foi oficializada pela Lei 12.519 de 2011.
Para o arcebispo de Feira de Santana (BA), referencial da Pastoral Afro-Brasileira, dom Zanoni Demettino Castro, os(as) negros(as) sofrem as consequências desta realidade porque os 300 anos de escravidão, que marcaram profundamente a história brasileira, ainda não foram suficientemente reparados.
“Por que a maioria absoluta dos pobres são negros? Por que os que superlotam os presídio são afrodescendentes?”, questiona o referencial da Pastoral Afro da Igreja no Brasil. O religioso aponta que aumenta assustadoramente o extermínio de jovens e adolescentes negros no Brasil.
Superação das desigualdades – Para superar estas desigualdades que atingem os negros e negras no país, dom Zanoni afirma ser necessário o país trilhar o caminho da superação da fome, oferecer educação de qualidade e também oportunidades à esta população. “As ações afirmativas, como cotas raciais para ingresso na universidade, são essenciais nesta empreitada”, afirma dom Zanoni.
Para dom Zanoni, o reconhecimento e a valorização das comunidades remanescentes de quilombos também é um passo importante neste caminho de superação das desigualdades entre brancos e negros. “O povo brasileiro precisa ser assumido. O negro deve ser visto como protagonista da gestação de nova sociedade”, disse.
Por ocasião do Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado neste 20 de novembro, Dom Zanoni retoma os ensinamentos da V Conferência Geral do Episcopado Latinoamericano e do Caribe, realizada em Aparecida (SP), de 13 a 31 de maio de 2007: “Como nos ensina a Conferência de Aparecida, os afrodescendentes hoje, como protagonistas, têm uma responsabilidade muito grande na gestação da sociedade de partilha e solidariedade e na construção da civilização do amor e da implantação da cultura de paz”.