Jorge Maia: Nossos cartões-postais

Foto: BLOG DO ANDERSON

Jorge Maia | Professor e Advogado | [email protected]

Eu era menino, e não faz muito tempo, e eu me lembro o quanto era chic receber um cartão postal de alguém que estivesse viajando. O charme aumentava quando o postal era de outro país. Pessoas colecionavam postais. Enviar um postal implicava em atividades múltiplas: escolher o postal, ir aos correios, pagar a despesa postal, selar e despachar. Havia quem pedisse os selos, pois era colecionador, outros pediam o postam para a sua coleção. >>>>

Receber um cartão-postal era uma festa. Agora tudo foi simplificado pelos celulares que enviam de qualquer lugar a foto do lugar. Não há mais despesas com os correios e nem o carteiro chamando por seu nome, mas apenas o piado do celular anunciando a chegada do zap. A vida já foi mais romântica.

Um cartão-postal é um valor inestimável, tanto para quem recebe, quanto para a cidade a que pertence a foto da sua materialização. Toda cidade precisa ter lugares que sejam os seus cartões postais. Já tivemos postais referentes a nossa cidade. Isso foi em outro tempo. Eram postais do Jardim das borboletas, Praça Barão do Rio Branco, com destaque para o Lindoia e os prédios ali existentes, a Escola Normal e mais algum outro do qual não me lembro.

O cartão-postal registra um momento da cidade. Às vezes as suas mudanças, às vezes a sua permanência. As cidades que possuem lugares que sejam transformados em postais se eternizam e as mudanças apenas revelam a sua importância e desafios do imaginário. Precisamos construir cartões postais que justifiquem o envio de zaps das suas paisagens  mais queridas ou significativas para a sua população.

O que merece ser transformado em cartão-postal deve trazer um significado para o fotografa. Pode ser um significado histórico e aí não entraria na avaliação a beleza do local, mas apenas a memória registrada como documento que perpetua momentos de uma sociedade, ou de um movimento social e político.

Mas o cartão-postal pode ser do que é belo ou aprazível. Aquele lugar cativante que gostamos, ou que gostaríamos que outras pessoas conhecessem. Para isso é preciso que na construção da cidade, a beleza e o conforto dos espaços públicos sejam a Tônica da administração pública, aliada com a vontade popular na direção de erguer espaços destinados às diversas práticas coletivas ou mais particularizados nos casos das artes ou das ciências.

Precisamos construir estes bens que serão futuros cartões postais. Tenho certeza que muitos esperam por tais obras. Sentir a vaidade de enviar para as pessoas e outras terras a lembrança e a imagem do que nos pertence. É preciso sentir vaidade em relação as nossas coisas, mas é preciso, antes ter nossas coisas.

A cidade que possui elementos que se transformam em cartão-postal vive a multiplicidade da sua existência, pois vive o momento real e o momento fotografado, mundo afora, por isso ela é várias cidades. A cidade que eu vejo e a cidade que foi, embora alguns lugares, por suas características e seus valores históricos, permanecerão imutáveis. Nesse caso os postais confirmam a eternidade do fato social ou histórico. Precisamos construir os nossos cartões- postais. 031218


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