Atraída pelo potencial de encomendas das Forças Armadas e das Polícias Estaduais e Federal, a divisão de veículos militares da americana Jeep prepara a instalação de uma linha de montagem na Bahia para atender a este nicho de mercado. O investimento, da ordem de US$ 50 milhões, depende apenas da escolha da área onde funcionará a unidade industrial. Além de dois terrenos disponíveis no Polo Industrial de Camaçari, existe a opção de fabricar o modelo Jeep J8 [montado sobre a plataforma do utilitário Renegade] instalado em Feira de Santana. A meta é iniciar a produção num prazo de seis a dez meses. A operação de montagem, a partir de módulos importados, nada tem a ver com a da Fiat Chrysler Automobiles (FCA), conglomerado automotivo que desde 2015 fabrica veículos de passeio em Goiana, município da Zona da Mata Pernambucana. A divisão de veículos militares da Jeep faz parte de um núcleo que pertence ao Departamento de Estado Americano. Confira a reportagem do Valor Econômico.
À frente do projeto na Bahia está o braço brasileiro da VSK Tactical. A empresa americana fornece equipamentos, armas, munições e treinamento na área de segurança. “A margem [de lucro] aumenta significativamente com a produção no Brasil”, afirma o advogado Marcellus Ferreira Pinto, presidente executivo da VSK Tactical no Brasil. “A intenção é atender aos poucos a demanda contida.”
O planejamento prevê a montagem de 60 veículos por mês, todos do modelo J8, em seis configurações distintas
O executivo conta que estão em negociação acordos para renovação da frota policial em dois Estados brasileiros, mas prefere não revelá-los porque os contratos ainda não foram assinados. Numa primeira fase, o planejamento prevê a montagem de 60 veículos por mês, todos do modelo J8, em seis configurações diferentes, de acordo com a escolha do comprador.
“Esse era um nicho de mercado atendido apenas com importações”, lembra Ferreira Pinto, que anuncia hoje, na feira internacional de defesa e segurança LAAD, no Riocentro, zona oeste do Rio de Janeiro, a construção da unidade industrial no Brasil. A decisão de montar o J8 no Brasil também está ligada à exigência crescente nos editais públicos de que as fábricas que fornecem o chamado “material de emprego militar” (MEM) estejam instaladas no país.
Como se trata apenas de uma linha de montagem, a previsão é de que sejam gerados apenas 50 empregos diretos e 200 indiretos na unidade a ser instalada na Bahia. Os planos da VSK incluem ainda a formação de um polo técnico-militar, com a adesão de outras empresas que deverão se instalar na vizinhança da nova fábrica de veículos militares.
Ferreira Pinto informa que pelo menos três já têm contratos assinados: uma fabricante de armas de fogo, uma empresa de nanotecnologia de uso militar e uma montadora de veículos militares blindados pesados. Outras duas empresas – uma de munições e outra de armas de fogo – também já manifestaram interesse em se integrar ao polo, acrescenta o executivo. A expectativa é de que o complexo se desenvolva no curto ou no médio prazo.
O J8 não estará disponível para venda a pessoas físicas. Embora utilize a plataforma do Jeep Renegade, o modelo militar foi projetado a partir de parâmetros estabelecidos pelo Exército brasileiro. “Criamos um veículo do zero adaptado para rodar na Amazônia”, explica o principal executivo da VSK Tactical no Brasil.
A injeção dos US$ 50 milhões necessários à montagem da fábrica fica a cargo de um investidor estrangeiro não revelado por Ferreira Pinto. Cabe à VSK Tactical cuidar de todas as fases da instalação da unidade industrial, inclusive as conversações com os governos estaduais. E, também, negociar a venda dos veículos com possíveis clientes institucionais.
Entre os potenciais compradores estão, além das polícias civis e militares estaduais, as guardas municipais e até o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).