Marco Antonio Jardim
Aos que me perguntaram como estive no tal dia dos namorados, respondi mecanicamente: “feliz”. É uma tese. Enunciada e sustentada. Confira a Poesia na íntegra.
Meus méritos: chegar em casa cedo, tomar um banho quente, fitar os cachos, ler sobre a guerra dos sete reinos, ver imagens em sépia no instagram, assistir algum programa de confeitaria, postar um sorriso e dormir com algo de bom.
Em minha casa, por incrível que pareça, na solidão do meu templo interior é que consigo ser o mais social possível.
Tanto quanto um neutrino e suas miríades.
Há uma singular energia de proteção, a começar pelas portas, sem trancas ou chaves.
Em casa, definitivamente, sinto-me seguro e diminuo as distâncias, até a que me separa de um novo amor.
Deito na cama sem pressão externa e dilato o pensamento com a franqueza que me cabe.
O pensamento e o gesto das mãos.
Depois de fruir certo júbilo, ouço um jazz de Chet Baker e cantarolo como se minha voz pudesse chegar a algum outro lugar além do teto estrelado.
Se chega, segue às raias das ideias passadas.
Minutos de um retrato com memórias nunca desbotadas.
Talvez, entre um pensamento absorto e outro, haja um espaço intransponível em desencontro.
Ou, como disse um belo rapaz arqueando a sobrancelha, um amor que se aguarda na lamparina de uma esquina (ou de uma estrela).
O fato constatado é: na brisa do andar de cima do meu coração, estou, assim, sozinho.
Com a lembrança do último beijo contundente (e meio tonto).
Se me perguntarem outra vez, repiso: estou feliz e ponto.