Paulo Fernando de Oliveira Pires
Um dos fatos mais intrigantes na vida política de um País relaciona-se a aceitação ou não de sua realidade. O Brasil neste momento está vivendo uma situação interessante sob o ponto de vista da convivência com a sua realidade. Há quem afirme que a realidade que ora se apresenta é a ideal e, por outro lado, há quem rejeite essa realidade, sob protestos e argumentos de que essa situação ou essa realidade não representa o que a Civilização Moderna postula em seus estágios mais avançados. Um dos exemplos mais cristalinos da aceitação, rejeição ou deformação da realidade, aplica-se à interpretação do documentário Democracia em Vertigem realizado pela competente cineasta-documentarista mineira Petra Costa. >>>|>>
Documentário cinematográfico conforme os melhores manuais de cinema “é uma produção artística, via de regra um filme, não-ficcional, que se caracteriza principalmente pelo compromisso da exploração da realidade. Isto não significa que represente a realidade «tal como ela é»: o documentário, assim como o cinema de ficção, é uma representação parcial e subjetiva da realidade”.
O documentário de Petra Costa entrou na lista dos quatro filmes indicados para o Oscar (prêmio máximo da Academia de Cinema para a filmografia produzida ano após anos). A obra passaria quase despercebida do Povo Brasileiro se sua abordagem não estivesse relacionada à questão dos acontecimentos políticos que se iniciaram publicamente no Brasil a partir daquele fatídico dia 13 de junho de 2013.
A cineasta mineira, mostrando-se criteriosa e não seletiva em relação às ideologias, procurou dar à sua obra o máximo de fidedignidade aos acontecimentos. Nesse sentido, o filme procura mostrar imagens que não deixam dúvidas sobre o papel dos personagens e fatos, mesmo que alguns dos envolvidos neguem suas intenções e participações. É inacreditável que neguem os fatos, uma vez que vendo as imagens e as seqüências, ninguém tem dúvida do que realmente estava vendo, muito menos sobre questões relacionadas ao que os personagens fizeram.
O documentário aborda o Golpe Político-Midiático-Judicial que foi aplicado contra a presidenta Dilma Rousseff a partir do final do segundo ano do seu primeiro mandato. A presidenta Dilma que apresentava números acima de satisfatórios na Economia e nas Políticas Sociais vinha com aprovação de 86% junto ao Povo Brasileiro. Os números relativos ao desempenho do seu Governo não davam sossego à Oposição que não via como tirá-la do páreo a não ser por um processo de Sabotagem, onde diversos setores do País se avençaram e se associaram para a derrubada de um governo de Esquerda. Essa era a orientação da Casa Branca. O Brasil não tinha como fugir à determinação de Washington, que não aceitava nem digeria (nunca aceitou) governos de esquerda na América Latina. Era imperioso acabar com aquela farra. E a Grande Mídia entrou no jogo.
Junto com a Mídia, vieram os Políticos e alguns do Judiciário, somando-se a Empresários da FIESP e esses conseguiram patrocinar grandes movimentos de rua, arrebanhando extratos populares das Alas mais Conservadoras da Sociedade, fechando-se assim o círculo de fogo para defenestrar inapelavelmente a senhora Dilma Rousseff. O documentário assim retrata os acontecimentos e alguns dos setores envolvidos se insurgem contra as imagens dizendo que aquilo não é verdade, não é realidade. Ocorre um fato muito interessante: quem vê o documentário não tem dúvida que o que está vendo É REAL. SÓ ISSO…..
Curioso foi ouvir do senhor Bolsonaro dizendo que não viu o filme e não gostou (plagiando a frase de André Gide)… Mais tarde ele disse: “Democracia em Vertigem é para quem gosta do que urubu come”… E assim a gente forma (ou deforma) a Realidade.
*Paulo Pires é mestre em Contabilidade e professor na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
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