Nudd David de Castro | Engenheiro Civil
Li no Blog do Anderson matéria do meu grande e querido amigo, Ruy Medeiros onde ele se refere ao Engenheiro e ao Professor, por ocasião da chamada para a campanha de apoio à Aliança pelo Brasil do Partido de Bolsonaro. O Engenheiro sou eu e o Professor é meu Pai, Everardo Públio de Castro. Todos os fatos ali citados são a mais pura expressão da verdade, mas a sua interpretação carece de esclarecimento. E para que esta verdade seja completa, vou acrescentar alguns fatos que justificam a continuidade da história. Fui preso no início de abril de 1964 e libertado em meados de setembro desse mesmo ano por força de um habeas corpus concedido pela lei vigente, antes do AI5. Ao sair, demitido da Petrobrás, fui procurar emprego em Salvador mas a perseguição política penalizava os empregadores que admitissem em seus quadros demitidos da Petrobrás e/ou ex-detentos políticos. >>>>>>
Atolado em dívidas causadas pela inatividade da prisão, decidi procurar emprego em uma cidade onde não fosse conhecido por ninguém e então fui para o Rio de Janeiro, onde morava um parente de minha mulher. Deixei para trás parentes, amigos e principalmente minha mulher com quem tinha casado em dezembro de 1963 e meu Pai que estava preso na Casa de Detenção em Salvador.
Por muitas razões foi bastante difícil encontrar emprego no Rio, mas finalmente consegui uma vaga numa empresa de um colega que fazia a minha especialidade de Cálculo Estrutural. Então chamei minha mulher e fomos morar num quarto de pensão na Av. N.S. de Copacabana. Com o tempo, fui melhorando de emprego e de morada. Já estava trabalhando na maior empresa de projetos de Engenharia do Brasil, a Hidroservice, quando Rubens Paiva, Superintendente da Geobrás, Engenharia de Fundações, com sede em S.Paulo, me convidou para dirigir um grande projeto de estabilização das encostas da Serra do Mar, entre Paraibuna e Caraguatatuba.
Então, morando em S. Paulo, conheci melhor o Rubens e nos identificamos com a nossa luta comum pelos destinos políticos do Brasil. Naquela época, a Aliança Libertadora Nacional, ALN, composta por militantes da esquerda, contrários à ditadura, sequestrou o Embaixador americano, Charles Burke Elbrick e exigiu, em troca da liberdade do Embaixador, a soltura de 11 presos políticos, entre os quais estava José Dirceu, então líder do PT. O governo dos EEUU obrigou o governo brasileiro a atender à exigência dos sequestradores e os presos libertados foram conduzidos, parte para Cuba e parte para o Chile. Governava o Chile Salvador Allende para onde tinha sido convidado Almino Afonso, ex-Ministro do Trabalho de João Goulart, e amigo pessoal de Rubens Paiva. A ditadura militar passou a procurar os responsáveis pessoais pelo sequestro do Embaixador, quando, em rotineira vistoria feita
com os passageiros vindos do Chile, encontrou mensagem de Almino Afonso para Rubens Paiva dando informações sobre alguns dos presos libertados que lá chegaram. Isto decretou, como já se sabe, a prisão de Rubens que sofreu até a morte torturas nas masmorras do DOI-CODI, Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna em S. Paulo.
A prisão e morte sob tortura de Rubens Paiva, o meu sofrimento pessoal com a demissão do cargo de professor e prisão de meu pai, o meu afastamento da Petrobrás e minha própria prisão e sequestro pela ditadura de que fui vítima, as inúmeras e irreparáveis injustiças cometidas pela ditadura, nada disto pode ser esquecido para justificar meu repúdio ou rejeição ao governo de Bolsonaro. Ele está errado em muitas coisas, como por exemplo, não reconhecer que a ditadura militar torturou e matou e que, apesar da anistia ampla, geral e irrestrita, há memórias que não podem deixar de abalar profundamente nosso espírito de justiça. Mas muita, muita coisa mudou neste país.
As esquerdas já não são as mesmas, o Aldo Rebelo se entregou às mazelas do Governo de Lula, em quem, esperançoso, dei meu voto em 2003 para Presidente. Com Bolsonaro, Sergio Moro colocou na prisão as figuras mais corruptas que já passaram pelo governo e promete muito mais. Nunca a lista de corruptos foi tão generosa. Bolsonaro mantem nossas instituições e garante diminuir, como vem fazendo, com a contribuição competente de seu Ministro da Economia, Paulo Guedes, o flagelo do desemprego. Há uma reforma tributária à vista, a reforma da Previdência poderá não ter sido a melhor, mas certamente foi a viável.
Não sou vaidoso a ponto de considerar que, se fui prejudicado em meus sonhos e direitos, quando jovem pela ditadura militar, um governo sério, só porque é militar, não merece meu apoio e o Brasil, que é o que interessa, não deverá sonhar, com sua presidência, por dias melhores.
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