André Ferraro*
Há alguns meses, ao analisar o quadro eleitoral de Vitória da Conquista, afirmei que o favoritismo estava com o prefeito Herzem Gusmão, diante de um governo que, apesar de mediano, não era avaliado como desastroso, e pelo tempo que tinha para se recuperar na opinião pública, com entregas de obras, e a velha política de asfalto e iluminação em ano eleitoral, que sempre alavancam candidaturas. >>>>>
De lá para cá o quadro pouco mudou, mas o encurtamento do período para a recuperação que não se deu na proporção devida, equilibra as chances da frente de esquerda que visa a retomada da prefeitura de Vitória da Conquista, que assim consolida sua liderança nas pesquisas, apresentada ao longo do ano passado.
Essas forças, entretanto, não podem se ater apenas ao passado positivo na disputa, mas também ao futuro, e assim retomar a capacidade de se aproximar dos sonhos e esperanças da gente de Conquista. A estratégia da esquerda para ser realmente efetiva deve passar pela unidade em torno do PT, na tentativa de definir a eleição logo no primeiro turno. Afinal, a divisão dos votos do campo à direita, de Herzem Gusmão com o vereador David Salomão, torna essa uma possibilidade bem razoável, e certamente é um dos motivos da estagnação do prefeito na opinião pública.
Se a esquerda não subir no salto e subavaliar o potencial ainda existente de crescimento do prefeito, e a força da máquina municipal, as chances estão com ela. E para isso deve se atentar para duas coisas fundamentais: primeiro a necessária intensificação do trabalho de desgaste político, com denúncias sistemáticas, amplificadas pelos diversos meios de comunicação, de todos os desmandos, trapalhadas e as duvidosas ações da prefeitura, que sugerem um nível de desorganização, fisiologismo e patrimonialismo nunca antes vistos na cidade. A legislação eleitoral ampliou os espaços e possibilidades de pré-campanha, que certamente serão ocupados e utilizados adequadamente pela oposição, para desespero do prefeito, com a verdade dos fatos.
Uma segunda coisa importante, e que certamente está na pauta, é uma articulação política que possa ampliar o arco de alianças, se reaproximando da classe média urbana e produtores rurais, distensionando relações com as associações, cooperativas e conselhos empresariais. Uma aproximação que talvez possa sinalizar com a simbologia de uma vice-prefeitura, para um projeto comum de realinhamento da cidade com a modernização administrativa e busca do desenvolvimento econômico sustentável, com justiça social e cuidado com as pessoas, que caracterizou as duas décadas do PT no poder, quando a cidade se transformou e cresceu exponencialmente, mas agora com nova repactuação política e novos objetivos de gestão.
Essas duas ações talvez impeçam ou represem a possibilidade natural de crescimento do prefeito pelas entregas de final de mandato, e conquistem parte da sua base de apoio e do seu eleitorado, consolidando uma possível vitória da esquerda, sem desconsiderar a capacidade de convencimento e talento comunicacional de Pereira. E mais que isso, sem menosprezar seu argumento principal: de que quatro anos é pouco comparado com vinte anos do PT, e que por isso merece continuar numa prefeitura que não é desastrosa para a maioria, apesar de ter pouca coisa pra chamar de sua, além da continuidade de obras já viabilizadas pelas gestões anteriores.
Como todos sabem que Conquista pode mais que isso, que não deve se contentar com pouco, e merece um governo compatível com sua dimensão, a estratégia não é nada complicada. E passa por agregar, tanto do ponto de vista político quanto de comunicação, apoiadores que não se deixam enganar, e buscam uma renovação administrativa, se colocando além da segurança do passado, mas como uma alternativa que materialize o forte desejo de mudanças, que se apresenta consistente desde 2012, e mesmo que frustrado pela atual gestão, está ainda pressente e não pode ser mais subestimado.
As pesquisas indicam que há uma ampla parcela do eleitorado, dispersa em diversos bairros e níveis de renda e escolaridade, que anseia por algo inovador, por uma novidade empreendedora, com a cara da cidade, com uma prefeitura focada em resultados, que projete uma efetiva modernização do discurso político, das práticas de gestão, e das intervenções e projetos idealizados por ela, alinhados com profundas mudanças de costumes e novas formas de governança. E esse eleitorado não pode ser desprezado pela esquerda, ou deixado à solta, à mercê de argumentos, entregas e promessas de continuidade de Herzem Gusmão. Afinal é tradicionalmente progressista e mais alinhado às teses de uma esquerda moderna, menos dogmática, que endurece sem perder a ternura. .
Vitória da Conquista tem um dinamismo cultural e econômico que se mostra um campo fértil para a energia construtiva das novas ideias, contra um fascismo conservador irracional que assombra a política nacional, daí a necessidade da repaginação da frente de esquerda, seguindo o exemplo do Governador Rui Costa, direcionando-a para o futuro, conectada, sendo capaz de produzir novas propostas, novas lideranças, e intervenções urbanas que despertem e venham a atender aos maiores desejos e sonhos da população, suas utopias.
Ou seja, a esquerda e o PT de Conquista estão com a faca e o queijo para retomar a prefeitura, faltando apenas a mão habilidosa para reencantar o coração da maioria dos conquistenses, com humildade suficiente para ter atitudes e discursos precisos para consolidar essa tendência, articulação política para ampliar bases de apoio político, e capacidade de comunicar tudo isso. Esse é o desafio: rejuvenescer e olhar pra frente, sem desprezar o passado glorioso.
*André Maurício Rebouças Ferraro, é publicitário e cientista político