Edvaldo Paulo de Araújo
Na nossa vida, temos as nossas escolhas!
Muitas pessoas fazem sempre algumas escolhas, com as quais particularmente não concordo; travas para isso, bloqueio de pessoas, sempre com artimanhas que, a meu ver, não deixam a pessoa com sentimentos de liberdade. Pedalo de bike muito e participo de um aplicativo – chamado Strava – que lhe dá todos os dados da sua pedalada e possibilita você seguir pessoas nas suas atividades e de ser seguido nas que você faz. Vejo que muitas delas são cheias de restrições , impeditivos, todos eles de uma maneira para ludibriar pessoas. Consultado por que não tinha isso no meu canal, respondi: se for para evitar pessoas, bloqueá-las, prefiro não ter. Me sentiria também mentalmente restritivo e gosto de me sentir livre, gosto de acreditar, gosto de confiar, gosto de, nas pedaladas, respirar livre o ar que está disponível, uma gentileza do criador. Ele restringiu alguém? Ele fez escolhas de os que podem e os que não podem respirar a maravilha do vento e do ar? Leia na íntegra.
Vejo muitos relacionamentos cheios de posso fazer isso, não posso fazer aquilo; analiso sempre como âncoras penduradas no pescoço das pessoas. “Meu marido não me deixa estudar, minha mulher não permite que saio com meus amigos, quero fazer uma viagem, mas minha mulher não permite”; e por aí vão as âncoras.
As embarcações fazem uso de imensas âncoras a depender do seu tamanho, justamente para que elas fiquem ancoradas, quietas, seguras, salvas das ondas e do vento, no porto ancoradas. Assim são as pessoas nas suas limitações, nas suas falta de perspectivas, na sua preguiça mental, no seu comodismo, na sua falta de ambição criativa; tudo isso e mais são âncoras nas nossas vidas.
A vida é linda, ela é uma imensa bênção do criador; não podemos deixar as âncoras nos impedirem de realizar, de buscar, de seguir sempre em frente, pois esse é o nosso destino. Pergunte ao presidiário o valor da liberdade. Pergunte a um viajante o valor de viajar, conhecer novas paragens, novos lugares. Pergunte a quem ama alguém o valor de um gesto gentil do ser amado. Pergunte a um cientista o valor da ciência. Ao escritor, o valor de escrever. Tenha certeza de que todos eles removeram as âncoras de suas vidas, para chegarem onde chegaram.
Estou em um emprego de que não gosto, trabalho numa profissão que detesto, sou casado com uma pessoa que não me ama, moro numa cidade que detesto; tudo isso são âncoras na sua vida. Foste feito para amar, para entender o grande projeto do amor e da bondade. Foste feito para apreciar a beleza do mundo, que o criador disponibilizou para todos. Será que é justo ficares preso a uma âncora qualquer? Entenda que quem ama quer o melhor para o ser amado, incentiva, abre caminhos, busca facilidades para ajudar, confia, como um porto aguarda sempre a chegada, que não será uma viagem, um novo emprego, uma dificuldade intransponível aos olhos da mente, que vai impedir que o amor continue sempre.
Na minha vida, fui onde quis ir, visitei as cidades que quis visitar. Ao invés de juntar recursos para bens materiais, me dediquei a conhecer o mundo e suas belezas. Elegi lugares e fui várias vezes para conhecer, entender, verificar a sua história. Há alguns anos, resolvi fazer, de bike, o caminho de Santiago de Compostela, saindo de Lisboa, Portugal e chegando a Santiago na Espanha, num total de 610 km. Muitos me falaram do perigo que eu iria correr na bike. Todos os fatos funcionaram para mim como âncoras, pois o que foi principal para o fim fora meu objetivo, ou seja, fazer a viagem. Depois de um dia violentamente chuvoso, sofrido, molhado, percorri 90 km e cheguei à cidade encantadora de Coimbra. Depois de uma procura na chuva, águas nas ruas, encontrei o hotel em que iria ficar. Após me hospedar, dirigi-me, muito cansado, para a piscina térmica do hotel e me deparei com uma frase que me marcou; não tem o nome do autor…”Na vida não é prever os perigos das viagens: é tê-las feito”. Eu a fiz. Hoje, sento na minha cadeira onde estudo, e penso na beleza dos momentos vividos, dos trechos, das chuvas, da gentileza das pessoas, da fantástica chegada a Santiago de Compostela, dos aplausos inesperados, do meu agradecimento ao meu Deus, por, naquele momento, me sentir tão perto dEle. Valeu a pena tanto sofrimento e jogar fora a âncora do medo. Valeu a pena orar e ser salvo por anjos pelo caminho, um caminho de orações e sem âncoras.
Para termos a força, personalidade, determinação de tirar as âncoras de nossas vidas, é necessário um comprometimento com a reforma intima que é o primeiro passo para a transformação. Contudo a execução não é simples, pois envolve a superação de persistentes vícios que nos têm atrasado sobremaneira nesta escalada. Mas querer, enfatize-se, é um passo de extrema importância. Não nos esqueçamos de que o espirito é a soma das suas experiências ao longo das reencarnações; o que não foi realizado no passado é transferido para outras oportunidades com a carga das consequências a que faz jus. Desatar as amarras da sua liberdade é, com toda sua força, se livrar de âncoras indesejáveis.
Um dia alguém me disse que sou tão dinâmico, sonhador, que meus sonhos correm atrás de mim; não é tanto e nem tampouco. Tudo o que sonho, planejo, verifico tudo e vou em frente, com fé em mim, em Deus e na vida. O medo é uma das maiores âncoras na vida das pessoas. O medo cria uma série de perspesctiva negativas; é uma âncora poderosa; remova-o de sua vida. Cuidado, precauções, esperar, com paciência, o tempo certo, nada tem a ver com o medo, é apenas algo agregado a sua segurança, portanto salutar.
Willy Brandt (1971) disse que “A paz, como a liberdade, não é algum estado original que existe desde sempre; nós teremos que fazê-la, no sentido mais verdadeiro da palavra”. Fixo em paz e liberdade: como termos liberdade se ficamos sempre preso a âncoras ? Como sermos felizes sem liberdade? Como sermos livres com tantas âncoras a nos segurar? MENACHEM BEGIN, num discurso em 1978, diz que “ A paz é o mais belo da vida. É o sol, o sorriso de uma criança, o amor de uma mãe, a alegria de um pai, a união de uma família, o avanço do homem, a vitória de uma causa justa, o triunfo da verdade. A paz é tudo isso e muito mais”. Como ter paz cheio de âncoras?
“A paz começa no interior de cada um. Quando temos a paz interior, podemos estar em paz com aqueles que nos cercam. Quando nossa comunidade encontra-se em estado de paz, ela poderá compartilhar essa paz com comunidades vizinhas e assim por diante. Quando sentimos amor e bondade para com os outros, isso não apenas faz com que outros se sintam amados e cuidados, mas também nos ajuda a desenvolver a paz interior e a felicidade.” Dalai Lama(1989).
Ser livre, ter paz interior, é afastar as âncoras que limitam a nossa liberdade, a nossa felicidade.
A pior âncora é a que você coloca em si. É a que coloca no seu espírito com ignorância, com limites abusivos ao seu ser, a sua falta de fé no mundo, nas pessoas e em Deus.
A vida aqui na terra é muito difícil. Às vezes, ao caminhar por esta vida, aparecem barreiras terríveis, mas, se estamos livres para pensar e agir, será muito mais fácil a vitória; mas fica difícil quando estamos cheios de âncoras.
Mas há um momento em que uma âncora pode servir quando precisar ficar quieto, pensar na vida, quando o silêncio se faz necessário no seu existir.
Nascemos livres, somos livres aos olhos do Criador; por isso, em amor a Ele, livre-se de suas âncoras.