Claudio Carvalho
A tendência geral das eleições apontou um deslocamento da extrema-direita para a direita pragmática (também conhecida como centrão, com adesão a quem está no poder) e a retomada de espaço para nomes “testados” como Eduardo Paes no Rio de Janeiro e Maguito Vilela em Goiânia. Mas esta eleição trouxe também uma semente de renovação da esquerda e de protagonismo feminino e antirracista com a vereadora Tainá do PT no Rio de Janeiro e a vereadora Laina do PSOL em Salvador e tantas outras companheiras e companheiros. Temos muito que avançar, mas temos também motivos para comemorar. É a síntese. >>>>>>.
A extrema-direita de Bolsonaro perdeu nos grandes centros, mas ainda continua forte no interior. Importante fazer esta avaliação separadamente, o que acontece nas capitais e o que acontece nos milhares de municípios pequenos do Brasil. Senão sempre haverá análises distorcidas sobre o que de fato está ocorrendo no território e, mais uma vez, temos as considerações do que ocorre nas metrópoles como se fossem generalizáveis para os interiores. A meu ver ainda estamos longe de acabar com o Bolsonarismo, ou melhor com os anticiência, os antiesquerdistas, os sociopatas da política. A direita pragmática vai manter o presidente no desgoverno e no cabresto até 2022. E ainda quem sabe chamar para um acordo eleitoral. O PP já se coloca como alternativa para um alinhamento de Bolsonaro com esse grupo.
A proliferação dos candidatos “Delegado”, “Capitão”, e Pastor e Pastora representa um desafio político. Aqui colocado no campo daqueles que trazem/vendem “segurança” e “salvação”. As derrotas de Capitão Wagner em fortaleza e Marcelo Crivela no Rio, apontam que com unidade do campo popular e progressista e possível realizar a derrota desses setores.
Outro elemento que os números não trazem é a questão subjetiva que envia uma mensagem que é qualitativa, de fato, comparativamente às últimas eleições de 2018, a presença do bolsonarismo na rua, nas intimidações, na visibilidade foi menor. Portanto, eu tendo a achar que esse crescimento quantitativo da extrema-direita é uma diminuta fração do que ele teria sido se o processo de fascistização tivesse prosperado. Isso coloca esses resultados de crescimento no campo subjetivo, da derrota, a promessa sinistra de explosão não ocorreu e parece de agora por diante, será mais difícil.
O que fica evidenciado para o campo popular é a necessidade da retomada política do território e do trabalho de base. Hoje temos milícias, narcotráfico e igrejas fundamentalistas neopentecostais (além de mídia hegemônica, fazem trabalho de base à direita) realizando “ações” nas comunidades. Os evangélicos (aqui de maneira ampla) se transformaram em uma força política decisiva, ou a esquerda compreende isso e traça estratégias eleitorais, ou seguirá perdendo nesse segmento. Em 2022 eles serão 35% dos eleitores.
Não é matemática que define quantidades de eleitores ou de cidades, é política!
As eleições dizem que a esquerda está viva, e as cidades governadas como Belém por Edmilson (PSOL), estão desafiadas a radicalizar o processo democrático. Mesmo com a “derrota” em São Paulo, Porto Alegre e Recife, houve um volume de votos grande para o campo (manteve uma capilaridade). A principal lição eleitoral: não há tarefa mais vital do que a construção da frente de esquerda. Não se trata apenas de somar votos, mas de gerar um movimento com programa comum e candidaturas únicas para 2022. Ou isso, ou será um desastre.
Mas acho que há também de se fazer um trabalho na base da população para desfazer o estrago que a grande mídia fez na esquerda. Incutiu-se na cabeça de milhões que a esquerda é um mal. Globo, Globonews, jornais e rádios fizeram um trabalho pra lá de competente. O PT precisa enfrentar a narrativa do Petrolão, que colou no Partido a pecha de ladrão, onde milhões de pessoas acreditam nessa ficção da Lava Jato apoiada pela velha Mídia.
A direita pragmática está onde sempre esteve. Nos pequenos municípios de 10 até 50 mil a esquerda sempre teve menos prefeituras que a direita. O resultado nessas eleições foi normal, não teve derrota. Não podemos admitir é o Rodrigo Maia (DEM) colocando esse dito “centro” como espaço do diálogo! Esse é o grupo que defende a saúde, mas criou o teto de gastos que tirou 20 bilhões do SUS, a direita que defende a economia mas acabou com o mercado de trabalho, que criou a escravidão 2.0 (intermitentes) e que eliminou as chances reais de aposentadoria. Essa direita que foi contra a prorrogação do auxílio-emergencial.
Vitória da Conquista apenas reproduziu essas questões colocadas que são estruturais. Herzem Gusmão obteve 54% (97, 364 votos) e Zé Raimundo 46% (82,942 votos). Praticamente uma repetição da eleição de 2016 em que Herzem ficou com 57% (95,710 votos) e Zé ficou 42,42% (70, 515 votos). A “receita” foi simples: Propaganda do candidato a reeleição no 2º. turno foi centrada na tônica do “Zé do PT” (ligando a narrativa de ladrão). Bastou juntar com a quantidade de fake News (a mais absurda a de sacrifício animal praticado pelo governador pós 1. Turno na estrada de Barra do Choça) e uso deslavado da máquina pública em ano eleitoral. Pronto!! O milagre da transferência automática dos votos de David Salomão (PRTB), Romilson Filho (PP), Cabo Herling (PSL) e ainda a diminuição pela metade dos votos nulos e brancos. Para Zé Raimundo, os votos combativos de Maris Stella (REDE) e Ferdinand (PSOL).