O interesse urgente do Ministério da Saúde pelos estoques da vacina CoronaVac foi uma mudança radical de posicionamento em relação a tudo o que o presidente da República Brasileira Jair Messias Bolsonaro disse sobre ela nos últimos três meses, consoante reportagem do Jornal Nacional desta sexta-feira (15). Em várias ocasiões, o presidente Bolsonaro menosprezou a vacina CoronaVac. Em 20 de outubro do ano passado, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou o protocolo de intenções de compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, em uma reunião por videoconferência com governadores. Decisão que não durou 24 horas. No dia seguinte, em conversa com apoiadores, o presidente Jair Bolsonaro desautorizou o ministro e mandou cancelar o protocolo de intenções de compra da CoronaVac. Ainda usou uma rede social para chamar a CoronaVac de Vacina Chinesa de João Doria. E escreveu que o povo brasileiro não seria cobaia de ninguém. E que não iria adquirir a vacina. No mesmo dia, durante uma agenda no interior de São Paulo, foi direto: “Já mandei cancelar. O presidente sou eu. Não abro mão da minha autoridade”. Confira a reportagem na íntegra.
No dia seguinte, em uma transmissão ao vivo ao lado do presidente, o ministro Pazuello deixou claro que havia entendido a posição do presidente: “Senhores, é simples assim: um manda e o outro obedece.”
Quando a Anvisa suspendeu os testes da vacina por causa da morte de um voluntario, o presidente comemorou: “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”.
A morte por suicídio não teve relação com a vacina, e o Butantan retomou os testes. A vacina CoronaVac será produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a empresa chinesa Sinovac. A CoronaVac e a vacina Oxford/AstraZeneca — que será produzida pela Fiocruz — e se aprovadas pela Anvisa, serão utilizadas pelo programa nacional de imunização, previsto para começar na quarta-feira.
O governador de São Paulo, João Doria, do PSDB, chegou a marcar uma data para o início da vacinação no estado, o próximo dia 25. Só depois de muita pressão dos governadores, o Ministério da Saúde cedeu e concordou em usar a CoronaVac.
Coube ao ministro Pazuello confirmar a inclusão da CoronaVac no Programa Nacional de Imunização, o PNI: “Toda a produção do Butantan, e aí quero ressaltar, toda a produção do Butantan, todas as vacinas que estão no Butantan, serão a partir deste momento do contrato, incorporadas ao Plano Nacional de Imunização. Serão distribuídas de forma equitativa e proporcional a todos os estados”.
Na última quarta-feira, em conversa com apoiadores no portão do Palácio da Alvorada, Bolsonaro ironizou a eficácia da CoronaVac, anunciada pelo Instituto Butantan: “Essa de 50% é uma boa?”.
No anúncio da taxa geral de eficácia da CoronaVac, o Butantan afirmou que a CoronaVac atingiu 50,38%, acima do limite mínimo determinado pela Organização Mundial da Saúde e pela Anvisa. Explicou que a vacina protegeu 100% – ou seja, todos os voluntários – de terem casos graves ou moderados de Covid. E ninguém morreu da doença. A vacina reduziu em 78% o risco de infecção leve, quando comparados aos que não tomaram a vacina. Além da proteção, os testes mostraram o alto grau de segurança. E no dia da divulgação dos resultados, 13 cientistas independentes referendaram a CoronaVac.