Jeremias Macário de Oliveira | jornalista e escritor
Você humilha, trata a pessoa de idiota, xinga, debocha; vai minando sua paciência com seu sarcasmo; tira dele o seu direito de viver e até destrói seus bens, até que um dia ela dá um basta e se revolta. É assim que o brasileiro está se sentindo diante de tanto escárnio desse governo que brinca de governar. Tudo tem o seu limite no campo do abuso, mesmo com um povo que demora de reagir e de se indignar, porque há séculos foi submetido ao mourão de tiranos e autoritários. Leia a íntegra.
Os nervos já estão à flor da pele, e a corda pode partir quando ela é muito esticada. Com um punhado de malucos seguidores, generais e coronéis ao lado, que estão manchando suas fardas, o capitão-presidente se sente blindado e segue em sua trilha de destruição.
Mesmo em tempos de pandemia, com mais de 463 mortes, as primeiras manifestações batem nas portas do Brasil, mas ele debocha chamando os participantes de esquerdistas maconheiros que estão “loucos” por uma erva, mas essa erva tem nome que é a falta de vacina, de dignidade, de respeito, de direitos humanos, e não de mais armas, violência policial, palavrões, depredação do meio ambiente e servidão social, com milhões passando fome.
Senhor presidente, se é que assim pode ser chamado, governar é liderar com sabedoria, postura, em harmonia com os poderes constituídos e seus estados federados. Governar não é destruir, discriminar, excluir as minorias, negar a ciência dificultando a compra de vacinas para combater um vírus letal e não isolar o país do resto do mundo. Até aqui, a sua ideologia tem sido da morte, e não da vida.
A sua folha corrida do passado, senhor presidente, não lhe credenciaria exercer um cargo tão vital para dirigir uma nação de 230 milhões de habitantes de culturas diferentes, miscigenações e carências tão diversas. Seus antecedentes de homofobia, racismo, gestos fascistas e rompantes intempestivos desequilibrados de brutalidades são peças mais que contundentes de que o senhor não merecia galgar esse posto.
No entanto, as circunstâncias políticas, sociais e ideológicas do momento de dois anos atrás, com muita corrupção, intrigas, ódio e intolerâncias lhe conduziram a essa chefia pelos eleitores divididos, desesperançosos e cheios de raiava contra um Partido que não soube se penitenciar dos seus erros. Caberia ao senhor que, infelizmente, não possui essa nobre qualidade personalista, conciliar o país e não desagregar e conflitar o tempo todo. O senhor perdeu uma grande oportunidade de ser um dos melhores presidentes da nossa história.
Com seus filhos de passado de malfeitos atanazando seu governo, o senhor fez tudo ao contrário, destilando seu veneno ideológico de extrema-direita e vendo chifre na cabeça dos adversários, como se fossem demônios comunistas saídos do inferno. Está transformando nosso Brasil numa Venezuela de Maduro e, ao invés de governar, brinca de fazer campanha eleitoral.
Com seus generais e coronéis de pijama exercendo posições totalmente fora do contexto técnico, passou a esbravejar contra a mídia, com palavrões de baixo calão, impróprios que invadem os lares brasileiros e até com ameaças físicas. Com isso, o senhor também passou a ofender o povo tão sofrido e maltratado que esperava amparo social, emprego e sentir orgulho de viver em seu país tão rico e lindo de paisagens deslumbrantes.
Senhor presidente, pelo menos pare e reflita, se é que o senhor tem essa capacidade, sobre tudo de ruim que já tem feito! Com suas atitudes truculentas, o senhor incita o guarda da esquina a adotar métodos ditatoriais de amordaçar a liberdade de expressão, com o argumento de segurança nacional. Incentiva uma tropa a atirar balas de borrachas em cidadãos em movimentos democráticos de protesto. Instiga os garimpeiros a atacar os povos indígenas e bases de órgãos de preservação do meio ambiente.
Senhor presidente, não brinque de governar, aprovando a realização da Copa América em nosso país onde o número de casos e mortes de Covid só aumenta, tudo para mudar a atenção do caos em que o Brasil atravessa. Os nossos hermanos vizinhos rejeitaram esse evento em suas casas. Governar não é brincar com os sentimentos dos outros, mentir, propagar fake news e muito menos atentar contra vidas humanas. Brincar com fogo é muito perigoso, senhor presidente!
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