Márcio Barbosa | a intolerância religiosa e o intercâmbio entre o plano espiritual e os homens

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Márcio Barbosa | @marciobarbosa.oficial

21 de janeiro é o Dia Nacional Contra a Intolerância Religiosa. A data faz referência ao dia da morte de Mãe Gilda de Oxum, em seu terreiro no bairro Lagoa do Abaeté, em Salvador, no ano de 2001, vítima de um infarto causado após a leitura de uma manchete no jornal da Igreja Universal, que apresentava um ato de perseguição e intolerância. Por muitas vezes, presenciou a invasão e depredação de seu terreiro, a agressão de seu marido, a interrupção de celebrações religiosas. Em tempo marcado pelas perseguições aos praticantes das religiões originárias de matriz africanas, notamos a forte ligação com o racismo e com os resquícios da escravidão no Brasil, consoante ao puritanismo das correntes que professam o antigo testamento como verdade absoluta. Contunue a leitura.

É importante salientar que o crescimento de igrejas da Teologia da prosperidade, e consequente demonização de crenças que se utilizam do intercâmbio e comunicabilidade entre espíritos e homens aumenta consideravelmente e deve ser tratado e combatido como ato de intolerância, sem perseguição e violência, mas com o respeito e o amor preconizados por Jesus.

O espiritismo utiliza esta intermediação. Originado na França sob influência do cientificismo, do evolucionismo e do cristianismo original, e teve em Allan Kardec, pseudônimo do egrégio professor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, efetivamente, a codificação dos principais dogmas nas obras básicas da doutrina.

Desde o início sofreu oposição da igreja cristã, que professou um auto de fé (procedimento adotado pela inquisição durante a idade média). O Auto de fé de Barcelona, em 9 de outubro de 1861 teve padre portando cruz e tochas, multidão assistindo e a queima de 300 exemplares de vários livros, revistas e publicações espíritas.

O Brasil é hoje o país com maior número de praticantes do espiritismo e tem em Vitória da Conquista um movimento caracterizado por forte fidelidade doutrinária, unificado aos órgãos federativos, tendo como base a divulgação da doutrina espírita e a prática da caridade alinhada ao Evangelho de Jesus.
O respeito a todas as religiões foi um dos legados de Kardec. Nós Espíritas já fomos vistos como pessoas alucinadas, loucas, obsediadas pelo “demônio” por quem desconhece a sua base doutrinária.

Hoje, observamos a ressignificação do Movimento Espírita Brasileiro, que já vem se ensaiando há algum tempo, com aprofundamento filosófico, científico e cultural, considerando a diversidade do nosso país e a necessidade de se aproximar das pessoas, não necessariamente como uma religião.

E é a partir deste pressuposto que o Espiritismo é progressista/evolucionista em sua essência, que percebemos e sentimos uma nova onda de preconceito, inclusive entre Espíritas conservadores, advinda de uma extrema direita que se serve, explora e manipula, não compreendendo a essência que deve nos nortear: o amor!

Neste sentido, é papel dos espíritas se posicionar contra a miséria, a exploração de uma imensa massa de brasileiros à margem dos requisitos mínimos de vida digna e na busca de valores originais do cristianismo, aqueles que assim defendem, entram na mira dos setores de extrema-direita e do cristofascismo. Isto porque, segundo eles, ao optar pela defesa da justiça social e da dignidade do ser humano, enfrentam abertamente, o materialismo, o capital e seus acumuladores. Em resumo, lutam contra o obscurantismo da mesma forma que Cristo enfrentou Roma: Pregando o amor, a caridade, a indulgência e o combate aos mercenários da fé.

Márcio Barbosa é administrador de empresas, empreendedor e diretor presidente do Instituto Assistencial Anália Franco, médium e palestrante espírita


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