Paulo Fernando de Oliveira Pires
Estávamos no início dos anos de 1960 e Vitória da Conquista já despontava como uma mini metrópole regional no Sudoeste da Bahia. Em favor da Cidade contava uma expressiva vocação comercial que àquela época já era um Polo Comercial de Média Proporção nos campos do varejo e atacado, especialmente nos ramos de Tecidos, Carnes, Couros e Pedras Preciosas (essas vindo das terras mineiras). A Cidade foi a segunda cidade do interior da Bahia a receber uma Emissora de Rádio e o contemplado com a grande novidade foi o senhor Aurelino Novais, esposo de Dona Ozanira, pais de Maria Emília, Maria Luísa e outros. A Televisão, embora inaugurada no início dos anos de 1950 (por Assis Chateaubriand), era apenas uma longínqua referência de Comunicação que os conquistenses (e os baianos de modo geral sonhavam de forma passageira). E o era de tal modo que o genial compositor baiano Gordurinha fez em sua Defesa de Baianos versos dizendo que a “televisão de baiano não era mais janela de trem”. Confira na íntegra.
Naqueles idos da década de 1950 para início dos anos 60, a Rádio Clube de Conquista começou a inovar em sua Programação e para tanto usou o talento de um grande comunicador, o famoso Jota Menezes.
O Blog do Anderson, o mais acessado do sudoeste da Bahia, em entrevista com o radialista Menezes diz o seguinte: “Saudoso, o radialista recorda o período glamouroso do rádio, quando a voz e a imaginação davam a tônica para o deleite do ouvinte. Sem muitos recursos, mas com bastante criatividade, a programação era construída diariamente. Ele lembra que, antes, quase 90% do que ia ao ar era produção local. Rádio novelas, programas como o Dedicatória Musical e o Valores da Terra – um programa de calouros em que se apresentaram artistas mirins como Xangai e Gilberto Gil – compunham um leque diverso e rico em conteúdo”.
E continua: “Não há como não falar também dos concursos de Reis e Rainhas do rádio, dos concursos de vitrines de lojas e, principalmente, dos programas de auditório. Em Vitória da Conquista, o programa Alegria dos Bairros, que acontecia toda semana em um bairro diferente, levava cultura e entretenimento para as ruas, com shows de calouros e convidados especiais”.
Jota Menezes e a direção da Rádio, antenados com o que acontecia nas grandes emissoras do Rio de janeiro, especialmente Nacional, Mayrink Veiga e Tupi, incrementaram Programas de Auditório na Rádio Clube e o resultado foi o surgimento de talentosos artistas locais, os quais, evidentemente procuravam seguir fielmente o repertório dos grandes nomes da Rádio Nacional (principalmente essa).
Nomes como Mauré Ferreira, Washington França, Naro, Miltinho La Bamba, Tadeu Farias, Heleni Nogueira, Maria da Glória e Maria Helena Menezes faziam parte do “Cast” da Rádio Clube, quase como contratados permanentes da Emissora. Jota Menezes era um Craque e, sem nenhum bairrismo, não ficava muito a dever a Cézar de Alencar, Paulo Gracindo, Renato Murce & companhia (esses, renomados apresentadores da Rádio Nacional do Rio de Janeiro). Convém lembrar que uma das estrelas do Programa de Menezes era o jovem (adolescente) Jorge Luiz Melquisedeque, sensação das manhãs de domingo. Jorge Luiz era considerado o Rouxinol do Sertão da Bahia e uma das maiores promessas sonoras do Rádio Brasileiro; ele era o nosso Joselito, cantor espanhol que foi uma das mais expressivas vozes infantis do século XX; cantava tão bem quanto o artista espanhol, não ficando a dever nada em termos de timbre, melodia, extensão de voz e afinação. Cada artista nosso tinha suas preferências musicais e seguia os ídolos nacionais com muito talento. Mauré cantava imitando Jerry Adriani e o fazia tão bem ou melhor que o próprio Jerry (com todo o respeito).
O conjunto que acompanhava os artistas era formado por Juraci (guitarra solo), Bandola (ritmo), Armando (bateria) e Mozart (no contrabaixo). O Programa de Jota Menezes era uma festa dominical para Vitória da Conquista.
No início desta semana fomos colhidos pela triste notícia da morte de Maria Helena Menezes, a Diva do Programa Carrossel de Alegria. Maria Helena era uma moça muito bonita, charmosa e talentosa. Dedicava-se a interpretação das canções dos grandes compositores brasileiros com um esmero espetacular.
As músicas de Dalva de Oliveira, Núbia Lafayette, Ângela Maria, Dolores Duran e outras de nossa música popular ganhavam interpretações magistrais na voz poderosa e bem colocada de Maria Helena.
Suas roupas, seu perfil físico, seu charme pessoal e o talento musical faziam com que nós, aqui em Vitória da Conquista, esquecêssemos as Estrelas das Rádios do Rio e de São Paulo, ao ponto de nos dedicarmos apenas a reconhecer o talento de nossa Maria Helena. Era realmente um talento primoroso, uma artista que poderia ter alçado lugares mais altos em nosso Cenário Musical se tivéssemos naquela época, agentes, empresários mais profissionais em nossa cidade.
Os demais artistas citados, como Heleni Nogueira, Maria da Glória, Miltinho La Bamba, Washington França, Mauré também eram muito bons, mas a diva Maria Helena ultrapassava a todos com todos os atributos que lhe eram naturais.
Gerações dos anos 50 e 60 (até meados dos anos 70) hão de se lembrar de Maria Helena com um prazer imensurável e mil gratidões pelas canções que ela trouxe para nós de forma exuberante….
Hoje, bem hoje, a gente só pode lembrar de Maria Helena repetindo o primeiro trecho de uma canção de Roberto Carlos: “hoje, eu ouço as canções que você fez pra mim…. não sei porque razão tudo mudou assim”.
Maria Helena nos deixou, mas deixou no vácuo de sua música, explicações porque tudo mudou assim ….
Grande abraço de Paulo Pires e toda sua Legião de Fãs.