Jeremias Macário de Oliveira | jornalista e escritor
O cotidiano nos oferece muitas matérias-primas para escrever nossas crônicas da vida. Tudo hoje, meu amigo do outro mundo, gira em torno do sistema, e não adianta protestar. Se ele sai do ar, é aquele estresse geral, uma reprovação de ira e revolta porque o tempo não para, e seu problema não é solucionado. A tecnologia do aplicativo do passo a passo quase sempre não funciona no Brasil. E você vai para a fila do presencial, levando sol e chuva. Os funcionários burocráticos, técnicos do virtual se tornaram escravos do sistema, e não adianta apelar para sua razão humana, só vale o que está ali. O seu dia a dia vira um inferno, e você tem que ter nervos de aço, senão seu espírito vai para o espaço. O sistema diz que seus dias estão contados, e lá está escrito seu prazo de validade. As câmaras lhe vigiam dia e noite. Nada de reagir e se indignar. Ele é o ditador da sua vida. >>>>|>>>.
É o sistema, meu amigo, e não adianta espernear. Na semana passada, por exemplo, fui garroteado pelo sistema, e por uma cara irredutível que o segue fielmente como se fosse seu Deus Supremo, como no caso de Abraão que foi mandado sacrificar seu filho. Só uma voz do além do todo Poderoso o impediu de derramar o sangue do menino Isaac no altar.
Para não pagar mais caro, fiz outro contrato na Vivo, transferindo meu nome para o da minha esposa, uma saída para não aumentar a prestação, conforme explicou o atendente. Tudo andou nos conformes, mas o operador do tal sistema não deu baixa do meu nome.
O tempo se passou, crente de que tudo funcionou normalmente. Continuamos pagando tudo certo, todos os meses, como manda o figurino do todo mês você é freguês. Lego engano! Foi só eu solicitar uma portabilidade do meu celular da Oi para a Vivo que lá apareceu que não podia fazer porque estava devendo três parcelas. Foi um susto, e me senti constrangido perante outras pessoas no balcão de atendimento.
A solução estava nos comprovantes de pagamento e lá atestavam, como dois e dois são quatro, que tudo estava quitado, mas em nome da minha esposa. Tudo bem, pensei comigo, o que importa é que nada devemos. Não interessa se foi João, José ou Mané. O que conta é que tudo comprova quites. Assim é o raciocínio lógico do mercado, não?
Qual nada, meu amigo! Levei os comprovantes e expliquei como tudo ocorreu, tintim por tintim, nos mínimos detalhes, como dizia aquele cara chato do programa humorístico da “Praça é Nossa”. Gosto de explicar nos mínimos detalhes!
Do outro lado, com cara sisuda de quem não está ali por vontade ou satisfação do seu serviço que faz de receber com humor e gentileza os clientes (isso hoje é coisa cada vez mais rara.), o moço abriu o tal sistema e lá constava e registrava, impiedosamente, que estava devendo.
Entrei com meu argumento, que tudo bem, mas os recibos provavam que as três mensalidades estavam pagas, nada a dever, não importando o nome de quem fez a quitação. Nada adiantou gastar meus neurônios para convencê-lo que foi o colega dele que não deu baixa. Nada tinha a ver com isso. Não se tratava da minha culpa.
Indaguei a ele se era justo pagar tudo novamente para a empresa operadora. Nada adiantou minha pergunta, porque ele só repetia que estava no sistema e assim tinha que ser, sem apresentar, ao menos, uma forma de solução. Só respondia enfático: Está no sistema, está no sistema, está no sistema. É o sistema, meu amigo!
Um funcionário interveio e se dispôs a resolver a questão, mas, até o momento, quem manda mesmo é o sistema, o senhor que nos conduz, nos molda, que funciona como bitola de trem e diz o que você é obrigado ou não a fazer, e aí de que não o obedece cegamente, porque você cai na rede dele e está preso condenado à morte.