Jeremias Macário de Oliveira | jornalista e escritor
Existem coisas no Brasil que só acontecem mesmo no Brasil, e não em nenhum outro lugar do planeta. Essa do capitão-presidente, com anuência desse Congresso Nacional nojento aumentar o auxílio de 400 reais para 600 em período eleitoral, com mais o absurdo do executivo autorizar empréstimo consignado para quem recebe essa grana eleitoreira, é mais uma de estarrecer e deixar qualquer ser pensante com a cabeça baratinada. Leia a opinião do jornalista Jeremias Macário.
Como se dizia no programa humorístico “Planeta dos Macacos”, só queria mesmo entender! Não é para entender, meu caro! Tudo que sai desse governo aloprado, que já transgrediu todas as leis, inclusive da gravidade e de que a terra não é redonda, se tornou normal. Não constitui mais nenhuma surpresa! Você aí pode me explicar alguma coisa, pois sou um burro de baixo QI que já passou fome na vida e dormiu na rua.
Os ditos agressivos, palavrões, expressões homofóbicas, racistas, misóginas, xingamentos a jornalistas, desprezo pelos índios e meio ambiente, ataques contra a democracia e completa falta de postura, se tornaram marca registrada de um governo. São ações negativas que vão ficar como inéditas na história brasileira. Quem se importa com tudo isso? São palavras levadas ao vento!
Às vezes dou uma escorregada e lá vou eu entrando em outras questões. É porque o recheio do bolo indigesto é muito grande, mas o assunto principal é o empréstimo consignado para quem está recebendo o auxílio. Como é que o propósito desse programa de 600 reais, que visa especificamente a compra de alimentos para matar a fome de mais de 30 milhões, pode ser desviado e retalhado para aquisição de outros produtos que não sejam de primeira necessidade? Qual a prioridade entre a comida e um celular?
É até hilário, para não dizer ridículo! O governo dá 600 reais e aí você pode tomar um empréstimo, baseado nesse auxílio, para, em prestações com juros a perder de vista, descontar todo mês cerca de 200 ou mais, a depender do montante contratado. No final das contas, o indivíduo só vai ter os 400 de antes, ou menos que isso, que já não são suficientes para adquirir todos alimentos. O restante retorna novamente para os bancos oficiais.
Existe alguma coerência nisso? Coisa de louco! Além do endividamento dessas pessoas a curto e a longo prazo, a fome vai aumentar mais ainda. A maioria dessa gente, vamos ser realistas e verdadeiros, é desprovida de formação educacional e é facilmente levada pela empolgação do consumismo, estimulado pelo comércio e a mídia, que distorce seu papel de informar. As “matérias” no âmbito lojista viraram propaganda publicitária para as pessoas consumirem mais, sobretudo em datas comemorativas. É um tal de já comprou seu presente?
Essa massa coitada é fácil de ser manipulada. Deslumbrada por itens do consumo supérfluo, vai tomar empréstimo consignado, gastar o dinheiro que vai fazer falta na hora de ir à feira ou a um supermercado. O auxílio não é para matar a fome dos milhões que estão aí nas filas das peles de frangos e ossos bovinos? Você é uma besta mesmo, inocente! A intenção é deixar terra arrasada.
O esquema é especialmente comprar o voto do miserável que já vive na sarjeta da vida. Povo gado! Povo ferrado no estouro da boiada! Governo não é para atuar dentro da lógica. É para confundir, polarizar, dividir e criar clima de ódio e intolerância. Governo é para comer o fígado dos ignorantes e triturar as massas numa máquina de moer pedra. Governo tem raiva e pavor dessa tal de consciência política. É para transformar o errado no certo, o anormal no normal.
Quando esse pessoal estiver endividado pela carestia dos produtos, quem vai pagar a conta social? Tudo é incerto. Tudo é confuso quando não existem planejamentos e políticas públicas para tirar essa miséria do buraco sem fim. Qual vai ser o futuro desse país quando terminarem as eleições? Ficar no mesmo? Voltar ao passado, ou seguir em frente com novas ideias para juntar os cacos e tentar limpar toda essa sujeira jogada debaixo do tapete?