Carlos Albán González | Conselho Municipal impulsiona a Cultura em Vitória da Conquista

Foto: BLOG DO ANDERSON

Carlos Albán González 

Um ano de trabalho foi o suficiente para que o conquistense observasse que o esforço de um pequeno grupo de voluntários, eleitos em agosto passado para compor o Conselho Municipal de Cultura, deu um impulso num dos ramos mais importantes da política social de qualquer administração pública. A pandemia e o empenho de um governo inteiramente voltado para a reeleição – Cultura, deve ter pensado o gestor, não dá voto – contribuíram para o estado de abandono dos artistas da região.    Na gestão passada, de influência bolsonarista, as atividades culturais em Vitória da Conquista ficaram praticamente limitadas às apresentações da Neojiba, um núcleo de formação de orquestras infantis e juvenis vinculado à Secretaria de Justiça do Estado. Leia a Opinião de Carlos Albán González.

O tratamento dado pelo ex-prefeito Herzem Gusmão (1948-2021) à cultura, dentro da mesma linha do governo federal, com nítido viés evangélico, não traz boas lembranças à classe artística de Vitória da Conquista. Bolsonaristas fanáticos defendiam a queima dos livros do educador Paulo Freire (1921-1997) e do escritor Monteiro Lobato (1882-1948) e modificavam fatos históricos inseridos nos livros didáticos, como por exemplo a ditadura militar (1964-1985).

Manifesto assinado por artistas, intelectuais, políticos e cientistas denunciou na época a “escalada autoritária” do governo Bolsonaro, considerando-o como ultraconservador, colocando-se como censor de livros e de filmes, e dificultando o acesso da ciência às pesquisas nas universidades

Com uma visão menos conservadora, a prefeita Sheila Lemos tem reservado para a cultura parte da sua agenda de trabalho. Depois de nomear para a Secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer (Sectel) pessoas que não estavam preparadas para o cargo, a gestora foi buscar um nome ligado à música sertaneja de raiz, o cantador Eugênio  Avelino Lopes Souza, popularmente conhecido pelo nome artístico de Xangai. Há mais de 50 anos ele divulga a música nordestina nos palcos e festas populares por todo o Brasil.

Frasista, o romancista paraibano Ariano Suassuna (1927-2014) manifestou certa vez ser “a favor da internacionalização da cultura, mas não acabando com as peculiaridades locais”. Na abertura de seu discurso de posse, proferido em julho de 2021, Xangai prometeu, como principal meta de sua administração. “harmonizar o setor, evitar a política e levar a cultura de Vitória da Conquista a todo o planeta”.

Xangai comprometeu-se a batalhar para conseguir recursos com a finalidade de proporcionar, pelos menos sobrevivência, aos artistas conquistenses, “abandonados durante a pandemia”, com muitos deles vivendo no anonimato na zona rural do município.

“Eu estou puto”, protestou Xangai, e completou: “É uma covardia; abuso de confiança”, ao ver o seu nome associado ao do deputado Jair Bolsonaro na campanha presidencial de 2018. Aquela apropriação indébita de seu nome e de sua imagem levou o cantador, ao ser convidado para o cargo, advertir a prefeita de que não se envolve com a política partidária.

Xangai se cercou de pessoas dispostas a colocar em prática seu programa de trabalho, eleitas sem qualquer tipo de ingerência e imunizadas contra a burocracia, um vírus que emperra o serviço nas repartições públicas do país. Assessores diretos do secretário, o Conselho Municipal de Cultura teve recentemente um encontro com a prefeita para fazer a entrega de várias propostas, entre elas a de  criar uma secretaria especial para a Cultura e organizar feiras de livros.

Argumentou o CMC que é inviável para qualquer administrador se dedicar, como o município pede, a quatro atividades essenciais à população. Os conselheiros reforçaram a ideia de que o conquistense não lê (livrarias fechando as portas, quatro ou cinco bancas de revistas em toda a cidade e os jornais de Salvador chegando no dia seguinte), conseguindo arrancar de Sheila a promessa de organizar ainda este ano um festival literário.

“Não dá pra entender que municípios de menor potencial promovam eventos literários, enquanto nós conquistenses, que temos uma população de mais de 400 mil habitantes e contamos com cinco universidades, estamos em débito com a nossa Cultura”, lamentou um dos conselheiros.

Nessa reunião foi lembrada a Feira Literária e Gastronômica de Belo Campo, divulgada em rede nacional pelo G1, onde os visitantes conviveram com variadas mostras culturais do sudoeste baiano, e percorreram estandes de vendas e exposições de livros de autores da região. Ainda este ano cinco cidades vão aquecer a cultura baiana. Uma delas é Cachoeira, no Recôncavo, que realiza, entre os dias 24 e 27 de outubro, sua festa literária internacional, a Flica, considerada como a mais charmosa do Brasil.


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