Foi trabalhando na Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital de Niterói, no Rio de Janeiro, há dezenove anos, que a médica Bianca Tanajura Oliveira Bastos, 43, se apaixonou por tratamento de feridas, conforme reportagem extraída pelo BLOG DO ANDERSON do UOL neste sábado (17). Em 2008, ela abriu em Vitória da Conquista, sua terra natal, uma clínica especializada em cuidar de feridas. Investiu R$ 20 mil no negócio. 2019, ela mudou o nome para Cicatrimed. Hoje, a rede tem 21 unidades e faturou R$ 11,3 milhões no ano passado. O lucro não foi revelado. “Eu me apaixonei por feridas quando, ainda trabalhando com UTI, tive a oportunidade de acompanhar o tratamento de uma paciente grave na câmara hiperbárica. O resultado foi fantástico e conseguimos salvar a paciente. Por se tratar de uma paciente jovem e lúcida, me apeguei muito a ela e à sua família, que pediu que eu acompanhasse o caso até a resolução total”, declara Bianca, que era diretora médica do serviço da hiperbárica no Hospital de Cirurgia Plástica RP, em Niterói.
O tratamento em questão é a “oxigenoterapia hiperbárica”, em que o paciente inala, dentro de uma câmara hermeticamente fechada, oxigênio puro em uma pressão maior que a pressão atmosférica normal. De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica, entre outros benefícios, o oxigênio produzirá uma série de efeitos terapêuticos, como “potencializar a ação de alguns antibióticos, tornando-os mais eficientes no combate às infecções e ativa células relacionadas com a cicatrização de feridas complexas”. “A hiperbárica acelera a cicatrização de feridas. Faz uma diferença grande no tratamento do paciente”, afirma ela. A médica diz que a área de tratamento de feridas no Brasil não é uma especialidade. Ela fez alguns cursos na Undersea, que é a sociedade norte-americana de tratamento com medicina hiperbárica, na Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica e na USP (este sobre curativo a vácuo), além de frequentar congressos nacionais e internacionais sobre o assunto. Ela se formou em medicina em 2004, na Universidade Gama Filho, no Rio. Confira a reportagem na íntegra.
A Cicatrimed tem equipe multidisciplinar (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, etc.) para tratar todos os tipos de lesões, desde as mais simples (retirada de pontos e pós-operatórios) até as mais graves, como queimaduras, lesões em diabéticos e escaras. Além da hiperbárica, a rede tem outros tipos de tratamento, como a laserterapia (à base de laser) e diversos tipos de curativos, entre outros. Ferida que complica é cada vez mais comum. Além de dor, secreção e mal-estar, as feridas mal tratadas podem complicar e evoluir para internações, amputações e cronificação dos casos. Por isso, o conceito de uma clínica de feridas com equipe especializada é poder tratar esses casos precocemente, acelerando a cicatrização e evitando complicações”
Para ela, o maior obstáculo do negócio é a falta de informação, tanto para os pacientes, como para os médicos, de que existe um espaço especializado para encaminhar pacientes com feridas. “Clínica de tratamento de feridas é um conceito novo no Brasil”, declara. Segundo Bianca, um tratamento de ferida dura, em média, um mês. Ela não informou os preços dos tratamentos, mas disse que os serviços são cobertos pela maioria dos planos de saúde. Apenas na unidade de Vitória da Conquista, são feitos 600 curativos por semana, em média. Bianca diz que os protocolos de atendimentos e os insumos usados são padronizados em todas as unidades da rede.
Franquia custa R$ 100 mil
A empresa tem 21 unidades (sendo três próprias), em oito estados (BA, SP, RJ, MG, PR, RS, PE e MS) e no Distrito Federal. São três modelos de negócio: Ambulatorial: O paciente é atendido e tratado nas clínicas pela equipe. Para isso, ele agenda uma consulta e se desloca até uma das unidades Hospitalar: O paciente é atendido dentro do hospital (alguns hospitais compram a franquia e implantam o modelo dentro de suas instalações). Os atendimentos podem ser de pacientes internados na instituição ou encaminhados para atendimento ambulatorial após a alta médica Domiciliar: É direcionado a empresas de home care (assistência domiciliar). . A equipe vai até a casa do paciente para realizar os curativos O investimento inicial gira em torno de R$ 100 mil, dependendo muito da estrutura a ser implantada. As franquias são direcionadas para médico, enfermeiro ou empresário dono de hospitais, clínicas ou empresas de assistência domiciliar. Outro negócio da empresa é a Cicatrimed Educação, uma plataforma com cursos online e presenciais de prevenção e tratamento de feridas. Os cursos são voltados para profissionais ou estudantes da área da saúde que trabalham ou queiram trabalhar com feridas. Custam de R$ 300 a R$ 600.
Empresa não pode descuidar dos processos
Alexandre Giraldi, consultor de negócios do Sebrae-SP, diz que Bianca identificou uma oportunidade de negócio, que é o tratamento de feridas, um serviço ainda pouco conhecido no país. “Ela percebeu que os clientes poderiam ter outras necessidades. Então, passou a oferecer serviços adicionais, como psicólogos e fisioterapeutas. Isso fideliza o cliente e diminui os custos de captação de novos pacientes”, afirma. Para que a empresa consiga atingir um número maior de pacientes que precisam dos seus tratamentos, Giraldi diz que vale fazer uma divulgação mais direcionada e específica, como em hospitais especializados no tratamento de queimados ou de diabéticos. Outro ponto positivo foi ampliar a área geográfica de atuação da empresa, por meio de franquia. “No entanto, ela não pode descuidar dos processos. O atendimento precisa ser idêntico em todas as unidades. Isso requer profissionais capacitados, com treinamento de procedimentos bem detalhados, para que o paciente tenha um mesmo padrão de atendimento em qualquer unidade.”