Jeremias Macário | como fazer turismo em Vitória da Conquista sem fortalecer a nossa cultura?

Foto: BLOG DO ANDERSON

Jeremias Macário de Oliveira | jornalista e escritor

Tenho dito aqui repetidas vezes que nos últimos anos a cultura em Vitória da Conquista passou a se resumir em festa junina e Natal. Podem até me chamarem de chato, mas continuarei batendo na mesma tecla até que um governante tome consciência política e implante um Plano Municipal de Cultura que sirva de base e diretrizes para nortear as atividades do setor e prestigiar os artistas em todas suas linguagens.  Recentemente a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, em parceria com o Sebrae, elaborou o Plano Municipal de Turismo, mas em seu diagnóstico se percebe uma lacuna por não contemplar projetos culturais. A minha pergunta é como falar de turismo sem fortalecer a nossa cultura? Turismo é acima de tudo ter cultura para apresentar ao turista.  Confira o artigo de Jeremias Macário de Oliveira.

    O visitante de fora não quer apenas ver a cidade, fazer trilhas, subir morros, se banhar em cachoeiras, mas conhecer também seu patrimônio histórico preservado e participar de eventos, como uma feira literária, um festival de música com premiações, festival de dança, de um salão de artes plásticas, peças teatrais e outras expressões populares da terra.

   Para uma cidade do porte de Vitória da Conquista, a terceira maior da Bahia, que já viveu no passado momentos de efervescência cultural, lamentavelmente ainda deixa a desejar por falta de uma política que privilegie o setor, com uma Secretaria desmembrada do esporte e lazer e recursos orçamentários suficientes para atender a demanda.

   A Conquista cultural de hoje está com seus equipamentos fechados, como o Teatro Carlos Jheová, a Casa Glauber Rocha e o Cine Madrigal, adquirido no governo Guilherme Menezes por um milhão e cem mil reais, em 2015, hoje sob a gestão da Secretaria da Educação (não dá para entender).

   Temos ainda a Praça J.Murilo (Praça Céus), lá no Bairro Alto Maron, um local multiuso para a comunidade, com espaço de teatro, quadras de esporte, parque para crianças, skate, sala de reuniões e outros serviços, mas funciona precariamente. Além do mais, está a necessitar de reformas gerais em suas instalações.

   Quanto ao Teatro Carlos Jheová, este está interditado desde a pandemia para reforma e não se tem uma definição se será ampliado ou até mesmo demolido. Há um ano os artistas de artes cênicas fizeram um movimento em defesa da sua abertura, mas continua lá sendo destruído pelo tempo.

   O prédio do Cine Madrigal há anos se encontra também fechado. A informação que temos é que existe um projeto em licitação para obras de reformas, de maneira que seja adequado no conceito de acessibilidade com entradas e saídas de segurança em caso de incidentes. A aspiração dos que lidam com a arte e cultura é que ali seja transformado num Cineteatro, mas nada definido.

   Outro equipamento parado é a Casa Glauber Rocha, na Rua Dois de Julho, também comprado pela Prefeitura Municipal. Existem muitas propostas para ocupar aquele espaço, como transformar ali num tipo museu do som e imagem, semelhante ao que hoje existe em Salvador, na Cidade Baixa.

   Por meio de recursos visuais e sonoros, em cada ponto da Casa Glauber poderia ser contada a história de Conquista desde sua formação, com destaques para os principais personagens do município nas áreas da cultura, social, da política, das artes em geral, da economia e da indústria. O nome permaneceria o mesmo do cineasta conquistense.

    Conquista cresce por todos os lados, de leste ao oeste, de norte ao sul e se desenvolve de forma acelerada, mas, infelizmente, estamos atrasados no quesito cultura, sem um plano de ações artísticas para preencher durante todo ano, não somente com São João e Natal.

   Não temos nem um centro cultural ou um centro de convenções para realização de seminários, congressos e outros eventos. Como então pretender atrair turistas de fora sem um suporte forte na cultura? É preciso entender que a cultura, também chamada de economia criativa, rende emprego e dinheiro para a cidade e atrai visitantes, mas os governantes não enxergam assim.

  Nos últimos anos, os prefeitos só têm pensado em ladrilhar avenidas ricas, calçadões para beneficiar o comércio e nem tem cuidado bem das nossas escolas, dos nossos postos de saúde, dos monumentos e preservação do pouco que ainda resta do nosso patrimônio histórico. Muitas edificações estão ameaçadas de desaparecimento. Vamos lutar pela cultura!


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