Há cerca de quatro mil anos, quando a humanidade começou a deixar de ser nômade e se estabeleceu em aldeias para o cultivo de alimentos, sempre existiu a necessidade de manter a proximidade com leitos de rios. Esse costume se perpetuou e os primeiros povoados foram crescendo e se transformando em grandes cidades ribeirinhas. Em Vitória da Conquista, não foi diferente. “O primeiro arraial da Conquista, que surgiu motivado por fatores econômicos e de dominação do território pelos portugueses, foi implantado às margens do Rio Verruga, próximo à sua nascente, e foi este mesmo rio que abasteceu a cidade até a década de 1970”, conta a arquiteta Luísa Prazeres Vasconcelos, doutoranda em Memória: Linguagem e Sociedade pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), em reportagem repercutida pelo BLOG DO ANDERSON nesta quarta-feira (23). Buscando compreender os efeitos provocados sobre a memória dos moradores, a partir das modificações geradas pelo poder público no leito do Rio Verruga, Vasconcelos realizou sua pesquisa de Mestrado.
“É de fundamental importância que conheçamos muito bem os fluxos naturais de água em nossa cidade para que possamos elaborar novas diretrizes urbanas, e nisso, a população ribeirinha tem muito a contribuir. Não se pode projetar o futuro sem conhecer muito bem o passado. São as experiências vividas que nos dão embasamento para tomarmos as melhores decisões no presente”, ressalta a pesquisadora. A pesquisa também traz uma reflexão sobre a implantação do Parque Ecológico da bacia do Rio Verruga, criado através do Decreto nº 19.394/2019. De acordo com a arquiteta, o projeto visa “incorporar a área do antigo Aguão e adjacências ao tecido urbano, com o foco, principalmente, na preservação ambiental e no lazer da população”. Com a implantação do Parque, as contribuições para a cidade são inúmeras, como o controle de enchentes, a revitalização do rio, a integração da sociedade com a valorização da natureza no espaço urbano, causando um melhoramento no microclima e ecossistema da área. “As contribuições possíveis são de extrema relevância, mas a execução precisa levar em conta diversos fatores ambientais e sociais, que, geralmente, não são prioritários nas gestões públicas”, pondera a doutoranda.
Desde que passou a residir em Vitória da Conquista, há nove anos, Luísa Vasconcelos, que é arquiteta e urbanista natural de Salvador, busca entender a lógica espacial da cidade. Nesse período, algo que a causou curiosidade, foi a existência de uma área tão grande, no centro da cidade, estar tão esquecida e sem acessos. “Inicialmente, eu não sabia que era chamada de Aguão, nem que existia um rio [Verruga] ali. Essas informações vieram após uma primeira pesquisa sobre a região”, lembra. Desejando retornar à universidade e iniciar um mestrado, Luísa aproveitou suas curiosidades urbanísticas sobre a cidade e decidiu elaborar o projeto para o Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade (PPGMLS). Atualmente, Vasconcelos desenvolve uma pesquisa complementar no Doutorado do Programa, que traz como foco a relação da população das cidades com as águas urbanas, tanto na esfera urbanística quanto no viés do abastecimento. Com um olhar especial para o processo mundial da atualidade de preservação e valorização desse recurso natural, essencial à vida, a pesquisadora ampliará os estudos na Universidade do Porto, em Portugal.