Paulo Fernando de Oliveira Pires | professor da UESB
O terreno estéril em que se tornou a política no Brasil é fato que nos deprime ao longo dos séculos. Nosso País, a rigor nunca foi um oásis de ações exemplares no campo da ação partidária e muito menos em outros campos em que pensávamos tomar emprestado modelos (valores) para nos salvar da falta de compromisso ético no exercício da vida pública [desagrado esse com grande repercussão na vida particular]. Não temos mais tantas ilusões no campo da política como tínhamos no final do século 19. Nossa correria em fazer as coisas é tão grande que logo me apresso para lembrar um dos maiores nomes de nossa vida pública em todos os tempos: Ruy Barbosa de Oliveira. >>>>>.
Hoje, 1º de março de 2023, temos a lamentar que esse grande brasileiro, um dos maiores de nossa História, não tenha ganhado substituto a altura para ocupar a lacuna deixada pela solidez intelectual, moral, política, social e pessoal que o grande Ruy Barbosa legou para nossa História. Infelizmente não temos mais Ruy Barbosa para nos oferecer com inteligência e dignidade discursos como aquele que foi proferido por ele no dia 14 de dezembro de 1914, na Tribuna do Senado Federal… Suas palavras e sua postura pessoal fizeram daquele discurso um marco indestrutível para compreendermos um pouco nossa História e nossa trajetória de oportunismos que se juntaram à imoralidade para fazer de nossa Pátria uma Nação complicadíssima em termos de desonestidade e veleidades…. Disse Ruy naquele 14 de dezembro de 1914:
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto…”.
Prosseguindo, acrescentou: “Essa foi a obra da República nos últimos anos. No outro regime (monarquia) o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem perdido para todo o sempre – as carreiras políticas lhe estavam fechadas.
Havia uma sentinela vigilante, de cuja severidade todos se temiam a que, acesa no alto, guardava a redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito da honra, da justiça e da moralidade gerais.
Na República os tarados são os taludos. Na República todos os grupos se alhearam do movimento dos partidos, da ação dos Governos, da prática das instituições. Contentamo-nos, hoje, com as fórmulas e aparência, porque estas mesmo vão se dissipando pouco a pouco, delas quase nada nos restando.
Apenas temos os nomes, apenas temos a reminiscência, apenas temos a fantasmagoria de uma coisa que existiu, de uma coisa que se deseja ver reerguida, mas que, na realidade, se foi inteiramente”, completou o grande jurista brasileiro. Se Ruy tivesse vivendo os tempos atuais diria que nada mudou e os desonestos continuam mandando e que o nosso Brasil está empestado de maus elementos para cuidar da Vida Pública … Para piorar apareceu um político de baixa voltagem intelectual/moral exortando seus seguidores para acabar com a Suprema Corte do País …. Quanta falta nos faz o Águia de Haia, quanto vazio sentimos sem a sua inteligência e indignação… viva Ruy Barbosa, viva o Brasil.