O presidente da República Brasileira Luiz Inácio Lula da Silva reuniu nesta segunda-feira (10) todos os ministros em um evento para marcar os 100 primeiros dias de Governo. Ele defendeu a economia e a proposta de arcabouço fiscal e voltou a criticar previsões pessimistas. O tema da cerimônia foi “O Brasil voltou”. O slogan esteve presente no tom de todos os discursos. O primeiro a falar foi o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Ele estabeleceu que o Brasil voltou a ter governo e gestão pública. Depois, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, que comanda o Ministério da Indústria e Comércio, comentou que foram mil dias em 100. Mas foi o próprio presidente Lula quem detalhou o que o governo fez até agora. Buscou demonstrar que está conseguindo união e reconstrução, e tentou afastar previsões pessimistas. “Ninguém acredita em um governo que levanta todo dia ‘ah, o PIB não vai crescer’, ‘ah, a economia não está muito boa’, ‘ah, porque o FMI disse tal coisa’, ‘ah, porque o Banco Mundial disse tal coisa’, ‘ah, porque o mercado financeiro disse tal coisa’. Olha, se a gente for governar pensando nisso, é melhor desistir”, abonou Lula. Ao enfatizar a importância da democracia, o presidente relembrou o 8 de janeiro, dia do ataque golpista.
“Não se constrói um país verdadeiramente desenvolvido sob as ruínas da fome, dos ataques à democracia, do desrespeito dos direitos humanos e da desigualdade de renda, raça e gênero. Não se chega a lugar nenhum deixando para trás a metade mais sofrida da nossa população”, frisou o presidente. Lula destacou ações de promoção de igualdade racial e de gênero e de inclusão da população mais pobre, prometeu acabar com as filas na Previdência. Defendeu, também, que pretende proibir a entrada no Palácio do Planalto de quem não apresentar comprovante de vacinação em dia. Depois da fala improvisada, o presidente passou a ler um texto. Ele enfatizou a importância da reforma tributária e do arcabouço fiscal, programa que busca o equilíbrio das contas públicas e deve ser encaminhado ao Congresso até sexta-feira (14), segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Apresentamos um novo arcabouço fiscal, que traz soluções realistas e seguras para o equilíbrio das contas públicas, que dá um fim às amarras irracionais e sistematicamente descumpridas do falido teto de gastos; que garanta a volta do pobre ao orçamento e que possibilita a aplicação de recursos no desenvolvimento econômico do país. Estamos trabalhando em uma reforma tributária que corrija as distorções históricas de um sistema de tributação regressivo e injusto para os brasileiros e os entes federados”. Lula elogiou o trabalho do ministro da Fazenda. “Aqui, Haddad, de vez em quando, eu sei que você ouve algumas críticas. Eu tenho que elogiar você e a equipe, que trabalham. Porque, certamente, em se tratando de economia, em se tratando de política tributária, a gente nunca vai ter 100% de solidariedade”, afirmou o presidente. E acrescentou que, apesar das críticas, está certo de que o Congresso vai aprovar o arcabouço fiscal. “Eu tenho certeza que vai… Eu tenho certeza que vai ser aprovado e tenho certeza que a gente vai colher os frutos que foram plantados na nossa proposta”. Lula voltou a criticar os juros altos. A taxa básica de juros no país está fixada em 13,75% ao ano e é estabelecida pelo Banco Central para controlar a inflação. O presidente Lula já falou em outras ocasiões que considera que a taxa deveria ser menor.
“É muito alta a taxa de juros. Continuo achando que estão brincando com o país, brincando sobretudo com o povo pobre e sobretudo com os empresários que querem investir. Só não vê quem não quer”, reafirmou. O presidente discursou por mais de uma hora, sempre repetindo o slogan “O Brasil voltou”. Citou medidas que pretende adotar nas áreas de educação, saúde e sobre o meio ambiente. “Nós temos um compromisso até 2030 de chegar ao desmatamento zero na Amazônia. Eu sei que não é uma tarefa fácil, até porque a Marina (Silva) ainda está em uma fase de montar o que foi desmontado. Desde contratar gente até equipamento para que a gente possa voltar a ter um padrão de fiscalização que a gente tinha há 10 anos. Então, é importante que as pessoas compreendam que as coisas não são fáceis, mas que nós vamos cumprir”, afirmou. Essa pontuação dos 100 dias de governo foi o último compromisso público do presidente antes da viagem à China. Lula embarca nesta terça-feira (11) com uma comitiva de oito ministros, cinco governadores, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e mais sete senadores e 19 deputados. A viagem prevista para a última semana de março havia sido adiada porque o presidente Lula apresentou um quadro de pneumonia leve.
O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN) criticou a postura do governo nesses 100 primeiros dias. Em entrevista à GloboNews, o senador acredita que o Congresso ainda não recebeu projetos do governo para começar a discutir. “Esses 100 dias são emblemáticos para qualquer governo. É o início de uma trajetória de quatro anos iniciais, que eu particularmente espero que não sejam renovados. Nós esperamos que o governo comece. Ainda não votamos nenhum projeto de interesse do governo federal no âmbito do Parlamento, não tivemos a oportunidade de discutir a agenda desse governo, o programa desse governo. Tivemos uma série de declarações desencontradas que geram muito ruído na vida real das pessoas”, disparou Rogério Marinho. O deputado José Guimarães, líder do governo na Câmara dos Deputados, lembra que o governo mostrou que tem forte preocupação com o equilíbrio das contas e que esse compromisso gera estabilidade e confiança. “Ele foi muito firme no rigor que ele quer tem com as contas, mas também, evidentemente, preservando o investimento público, preservando o investimento público e aquilo que é fundamental para colocar os pobres no orçamento. Por isso que vem a reforma tributária, por isso que vem as metas fiscais, o novo arcabouço fiscal, por isso vem as MPs que estão tramitando. Tem que recompor as finanças públicas para poder fazer os investimentos que são necessários, porque senão não tem emprego, não geração de renda, não tem emprego”, argumentou José Guimarães.