Na UESB, campus de Vitória da Conquista, a escritora Tertuliana Lustosa participou do VI Seminário Internacional Desfazendo Gênero. Um vídeo de sua apresentação, publicado pela própria artista e pesquisadora, foi tirado de contexto e usado para atacá-la nas redes sociais.
Amon Santos | Conquista Repórter
Na última segunda-feira, 13, no campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), em Vitória da Conquista, aconteceu a mesa de debate intitulada “Desterritorializ[ações] Queer”. A atividade, que fez parte do VI Seminário Internacional Desfazendo Gênero, contou com a presença de Tertuliana Lustosa, escritora, compositora, bacharel em História da Arte pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e atualmente mestranda em Cultura e Sociedade na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Durante sua apresentação, Tertuliana, ao utilizar de uma música de sua autoria, procurou demonstrar como o espaço universitário é engessado e conservador e propôs uma pedagogia do prazer, onde os processos de ensino e os territórios onde essa aprendizagem ocorre não sejam hostis ao corpo e seus significados. No entanto, a proposta da escritora foi distorcida quando um vídeo de sua apresentação foi tirado de contexto. As imagens viralizaram numa tentativa de descredibilizar a pesquisa da artista e atacar as universidades públicas com discursos como “isso é balbúrdia” e “gasto de dinheiro público”. Confira a íntegra deste artigo do Conquista Repórter.
É no mínimo curioso que tais discursos sejam invocados só quando convém, dado que nos últimos anos as UEBA (Universidades Estaduais da Bahia) vem passando por um sucateamento constante com bolsas auxílio atrasadas, falta de professores, precarização dos contratos e estrutura de laboratórios e da universidade decadentes. Nenhuma linha foi escrita por aqueles que agora se preocupam tanto com a universidade. Que dinheiro mal gasto é esse que sequer vemos a cor?
Se querem algo realmente HORRENDO E VIOLENTO para se escandalizar, os ajudo. No último sábado, 11, Tieta Rodrigues, mulher trans, ativista e presidente do Coletivo Finas, foi brutalmente atacada por um homem, enquanto trabalhava na Avenida Bartolomeu de Gusmão. A agressão só cessou porque o criminoso percebeu que havia movimentações de carros ao redor. O caso ocorreu aqui mesmo, em Vitória da Conquista, cidade que sediou o evento com a participação de Tertuliana.
Além disso, é importante apontar que o Brasil é o país que mais assassina pessoas trans, pelo 15º ano consecutivo, segundo dados da Transgender Europe (TGEU). Se querem algo para repudiar, repudiem a violência que sempre encontra esses corpos, não uma pesquisadora que, através de sua arte, ensina que a educação também pode ser prazerosa.
*Amom Santos é discente de Psicologia na UESB, integrante do Laboratório de Estudos Marxista (LEMarx-UESB), do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicologia (NUPEP) e militante no movimento LGBT+.