Jeremias Macário de Oliveira | jornalista e escritor
A nossa humanidade parece reclusa e hipnotizada em seu retiro solitário e se agarra ao seu ritual de fé e religiosidade diante de tantas tragédias e barbaridades. Coloca toda essa desarmonia e desagregação humanitária nas mãos de Deus, como se Ele fosse um carrasco mentor dos castigos, quando o próprio homem é o ator e autor principal da destruição descomunal de si mesmo. Será que o humano perdeu seu rumo e se deteriorou de vez? Ainda existe recuperação para uma solidariedade humanística? Existem os crédulos e incrédulos, estes em sua maioria. Um certo amigo simples comum me disse certa vez, com sua imaginação fértil do realístico-fantástico e fictício, que o nosso grande sol, que nos irradia de luz e vida, vai explodir em bolas de fogo que vão atingir a terra. Os sobreviventes dessa catástrofe apocalíptica, em sua visão profética, serão depois chamados de deuses do fogo. Confira a opinião de Jeremias Macário de Oliveira.
A vida continua naquela correria de sempre no tudo pela sobrevivência, pela idolatria ao capital e ao consumismo. Cada um adota o modelo do si mesmo na busca da satisfação pessoal, do seu sonho, da felicidade, ainda que não seja tão real como se pensa. Estamos vivendo tempos sombrios que seguem o seu curso.
Pelas conquistas, a luta é mais travada no campo individual que coletivo. Faz-se de conta que tudo é normal e natural nessa conturbada vida passageira entre o nascer e o morrer. Praticamente não mais se reflete sobre a finitude, como se ela não existisse, daí a arrogância, o orgulho, a ganância e a prepotência. O outro ao lado, pouco importa se está bem ou não.
O trabalhador acorda cedo para bater o ponto, o pobre miserável do casebre e da favela, em meio ao tiroteio da bala perdida, passa fome e espera por uma campanha de doação. Os golpistas miram suas próximas presas, o poeta faz sua poesia, o escritor escreve seu livro, o filósofo sua análise, o psicólogo e o sociólogo seu prognóstico, o jornalista vive da notícia, o operário é escravo do patrão, os políticos e os governantes fazem seus conluios contra o povo, enquanto a tempestade da destruição leva tudo pela frente.
São tantos horrores ocorrendo ao mesmo tempo no planeta terra que este século XXI entra com a cara das trevas, apesar dos avanços tecnológicos (a inteligência artificial) e científicos em geral, muitos dos quais nos amedrontam. Do outro lado, vejo as pessoas hipnotizadas, como se nada estivesse ocorrendo de anormal.
Levantei hoje a pensar no que escrever nesse meu cotidiano da vida, e pela minha cabeça bateu esse turbilhão de fatos e acontecimentos, não dignos de louvor, que estão assolando a humanidade. Nos noticiários, as telas de televisão, as redes virtuais nos celulares, as rádios, outras mídias e ainda os jornais impressos (poucos leem) invadem nossos lares, escritórios, ruas e avenidas e até no campo com cenas apocalíticas.
Ouço muitos falarem de futuro ainda pior e sempre digo que já estamos navegando dentro dessa nave incerta descontrolada pelas turbulências, só que o labor extenuante da vida pela busca existencial não nos deixa enxergar que a humanidade está se autodestruindo. A impressão é que sou atraído a escrever sobre o aterrorizante e não olho o outro lado bom da história. Será que sou mesmo um terrorista?
Talvez seja assim um tanto trágico das novelas e peças gregas da antiguidade, ou o profeta das lamentações do Antigo Testamento. Que me perdoem, mas é minha maneira única de ver esse conjunto de atos desumanos que nos chamam para estarmos sempre em eterna vigilância.
Muitas vezes, por ser mais cômodo, preferimos o silêncio e banalizamos o anormal diante das tiranias de mandatários opressores neonazistas que promovem massacres em massa, de políticos ditadores e extremistas eleitos por um povo em desespero que se agarra ao pior como tábua de salvação. Pula de um barco afundando para outro aparentemente seguro.
Após séculos de depredação, poluição, incêndios nas florestas e gases tóxicos no ar, a natureza se revolta na forma das bruscas mudanças climáticas, com terremotos, ciclones, tufões, tempestades de areias e um calor de até 50 graus. Colocamos tudo na culpa do El Nino, enquanto nós é que somos os “meninos” malvados do aquecimento global. A humanidade chegou ao ponto do irracional incorrigível porque se recusa a admitir o terror.