Um mar vermelho e branco tomou conta das ruas do Centro Histórico nesta segunda-feira (4) para celebrar Santa Bárbara, para os católicos, ou Iansã, para os adeptos das religiões de matriz africana. A festa, celebrada há oito anos pelo cônego Lázaro Muniz, começou logo cedo com a missa campal no Largo do Pelourinho, numa celebração ecumênica e com muita participação popular. Para esse ano, o tema escolhido foi “Santa Bárbara, filha da Virgem Maria, fazei germinar em nós a esperança de um mundo mais humano, fraterno e igualitário”. Morador de Mussurunga, o jovem Rique Blanco, de 23 anos, há dez frequenta a festa. “Essa é a árvore que me sustenta, me mantém em pé, vivo e com esperança. Santa Bárbara e Iansã são minhas amigas mais íntimas, a quem tudo eu devo. Devo muito a elas, pois em 2007 minha casa pegou fogo e não tive nenhum acidente físico, nenhuma perda material importante, e isso aconteceu numa quarta-feira.
Estou muito emocionado de estar aqui no Pelourinho mais uma vez e acreditar na força delas e agradecer por estar aqui com vida e saúde”. O diretor de Turismo da Secretaria de Cultura e Turismo (SECULT), Gegê Magalhães, conta que a festa de Santa Bárbara marca o início das manifestações de rua e de fé na capital baiana. “Essa mistura de religiosidade, da religião de matriz africana com a fé católica, é isso que Salvador representa. Temos os festejos de Santa Bárbara numa segunda com o Centro Histórico lotado, isso mostra a fé do povo mesmo em um dia de trabalho normal. E isso acontece em todas as festas, como Conceição da Praia, Senhor do Bonfim e Iemanjá. E todas elas prometem ser sucesso, com uma grande organização”. Logo após a celebração, a imagem de Santa Bárbara seguiu em procissão, juntamente com as imagens de outros santos, a exemplo de São Miguel, São Jerônimo, São Cosme e São Damião, pelas Ruas Gregório de Mattos e João de Deus, passando pelo Terreiro de Jesus, Praça da Sé e descendo a Ladeira da Praça até o quartel do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBMBA), onde houve um momento de saudação à padroeira da corporação.
O subprefeito do Distrito Cultural do Centro Histórico, Humberto Sturaro, afirmou que é uma emoção muito grande ver o Pelourinho tomado por fiéis, em um clima pulsante. ”Temos que agradecer este momento. Turismo crescendo, segurança fortificada, com um choque de gestão, e logo depois de Santa Bárbara já teremos o nosso Natal”, lembrou. Para o presidente do Conselho Municipal das Comunidades Negras (CMCN), vinculado à Secretaria Municipal da Reparação (SEMUR), Evilásio Bouças, é muito importante que haja a interação entre as religiões. “Nosso povo é um povo que tem muita fé, e a fé nas religiões foi como conseguimos sobreviver às violências que a população negra sofreu todos esses anos. Juntando a fé católica com a de matriz africana foi o que nos sustentou para chegar até aqui. A festa é linda, Santa Bárbara é uma santa reverenciada pela própria história e Iansã é um orixá reverenciado pela sua força, é muita fé, alegria e emoção”. Diplomado na irmandade de Santa Bárbara há cinco anos, Márcio Vinícius Santos, de 40 anos, conta que frequenta a missa em louvor à santa há mais de dez.
“Para mim, como devoto, apaixonado e membro da irmandade, depois do meu aniversário e do Dois de Fevereiro (Iemanjá), é o dia mais feliz. É o dia de pedir, agradecer, renovar a fé, louvar a uma santa que tem uma importância muito grande para nós como seres humanos, católicos e baianos”, ressaltou. “Minha fé em Santa Bárbara é algo que vem de família. Minha mãe sempre foi devota, dava caruru, e eu herdei isso. Quando entrei na irmandade, só fez sacramentar. Eu já durmo no dia 3 esperando o dia 4, preparando a roupa, e dedico o dia todo a ela. Não tem outra atividade hoje a não ser louvar Santa Bárbara”, completou. Após a saudação no quartel do CBMBA, a procissão seguiu pela Avenida José Joaquim Seabra (Baixa dos Sapateiros), parando no Mercado de Santa Bárbara para saudar os filhos de Santa Bárbara e de Iansã que lá estão. Após este momento, a procissão retornou ao ponto de partida pela Rua Padre Agostinho Gomes.