O riacho deveria estar correndo no meio da Caatinga, Zona Rural de Curaçá, no Norte da Bahia. A temporada de chuva no Sertão Baiano começa em novembro e vai até março. Era com essa água que Fábio dos Santos Dias contava para matar a sede dos animais. “O riacho ‘botava’ no período de vinte, trinta dias escorrendo, ultimamente, as vezes que passa, passa uma semana, já seca (…) então, cada vez mais está mais tá sendo um pouco ‘precário’ a chuva nessa região”, conta o agricultor. Na Zona Rural de Feira de Santana, Centro-Norte da Bahia, Liolino Pereira já perdeu quatro animais.
Ele mantém os dezesseis que restam com mandacaru, uma espécie de cacto. “Quando chega ali que vê aquela ali fraquinha, vai levantar, não pode levantar, chega adiante, encontra outra morta, ele é capaz até de esmorecer e querer abandonar o criatório, mas eu não abandonar, não”, diz Liolino. Em um Povoado, onde toda a produção de milho foi perdida, os moradores apelam para o que resta no reservatório: uma água barrenta. Quase duzentos municípios, onde vivem dois milhões de baianos, estão em situação de emergência.
No Oeste, produtora de soja e algodão, choveu apenas 15% do volume esperado para o mês de dezembro. O Governo do Estado da Bahia anunciou um plano emergencial para o enfrentamento da seca. São medidas como a distribuição de cestas básicas e a isenção de taxas para que as prefeituras possam enviar caminhões-pipa. A seca não é, por enquanto, uma preocupação para a maioria dos moradores das Zonas Urbanas. Os cinco reservatórios que abastecem Salvador e região metropolitana, por exemplo, operam com 90% da capacidade. Porém, em outras regiões, os sistemas de abastecimento das cidades sofrem os efeitos da falta de chuva.
A Barragem de Piripá virou terra seca. A Empresa Baiana de Águas e Saneamento (EMBASA) teve que recorrer a outro reservatório para não deixar faltar água. Na mesma região, a vazão dos rios que formam esta outra barragem caiu abaixo da metade. É um dos dois reservatórios que abastecem Vitória da Conquista, uma das maiores cidades da Bahia, com quase 400 mil habitantes. “Por enquanto, está sob controle, mas a gente tem monitorado diariamente por conta disso, não é uma barragem de grande proporção e depende realmente dos mananciais que abastecem”, afirma Leonardo Goes, presidente da EMBASA.