Jeremias Macário de Oliveira | jornalista e escritor
São tantos assuntos que nos instigam a comentar, a dar uma opinião nessa vastidão de absurdos na Bahia e no Brasil que somente poucos se arriscam a palpitar e colocar a cara a tapa. Dizem alguns que eu sou inquieto, um tanto polêmico e até que não devo me meter nisso porque não vou mudar as coisas ou consertar o que na minha visão está errado ou merece ser corrigido. No meu comentário de hoje vamos começar pelos 60 estudantes, de um universo de 2,7 milhões de participantes, que tiraram mil na prova de redação do ENEM do ano passado. As notas médias foram 516 em linguagens, 522 em ciências humanas, 497 em ciências da natureza e 534 em matemática. Na redação, a nota média foi de 641. Alguém colocou nas redes sociais que não há muito o que comemorar. Também digo o mesmo, mas esses 60 foram anunciados com estardalhaços, e quem conseguiu mil foi considerado como gênio. E se a gente mandasse esses 60 para uma olimpíada internacional de língua? Será que teríamos um primeiro lugar? Para maior vergonha do nosso ensino, desses, somente quatro foram alcançados por alunos da rede pública. Um internauta postou que isso só demonstra a profunda desigualdade na educação do país, aprofundada mais ainda com o “novo” ensino médio. Confira a manifestação de Jeremias Macário.
Do total de mil nas provas redacionais, vinte e cinco foram do Nordeste, 18 do Sudeste, sete do Sul, cinco da região do Centro Oeste e cinco do Norte. Até que o nosso Nordeste, tão discriminado pelos sulistas, se saiu bem, mesmo quando se faz uma comparação em termos proporcionais, sendo 26,91% de nordestinos, 41,78% (Sudeste) e 14,74% (Sul).
Outro tema para uma reflexão foi o anúncio de devolução de 500 mil reais de sobras do orçamento da Câmara de Vereadores para a Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista. “Estou sensibilizado. Vou chorar. Será que nossas excelências foram afagadas pela deusa da Honestidade? Mandem essa notícia para os famintos do “Centrão” – cutucou um comentarista virtual.
Para a ativista cultural Maris Stella, do Grupo a Estrada, do nosso sarau de mesmo nome, em seu entendimento, essa devolução não tem nada de heroica. Segundo ela, numa postagem do Grupo, existe uma Comissão de Cultura e Educação na Casa que poderia utilizar essa vultosa verba no sentido de viabilizar projetos para o Memorial onde prestaria um melhor serviço para a população. Também, ainda Stella, para publicação de livros, entre outras ações.
Na minha opinião, é uma prova que o orçamento da Câmara é polpudo, tanto que os vereadores deram aumento em suas verbas de gabinete e as cadeiras dos edis vão passar de 21 para 23. É tudo uma questão eleitoreira de campanha.
Esses 500 mil bem que poderiam ser direcionados para reformar os equipamentos culturais do Teatro Carlos Jheová, Cine Madrigal e Casa Glauber Rocha. Outra alternativa seria doar para o Fundo Municipal de Cultura, a ser gerido pelo Conselho. Por acaso eles querem saber de cultura? Já disseram por aí que o setor não dá voto.
Vamos agora tratar do naufrágio anunciado de um barco entre Salvador e Madre de Deus que resultou em seis vítimas fatais. Só para rememorar (afirmam que o brasileiro não tem memória) há poucos anos houve um acidente dessa mesma natureza em Itaparica com muito mais mortes.
Quando ocorrem essas tragédias anunciadas, logo aparecem as “autoridades” da Marinha, delegados, comandantes, entre outros, dando entrevistas montadas, informando que vão apurar os fatos e estabelecem 90 dias para conclusão das investigações. Ora, fica uma pergunta no ar que a nossa mídia não faz.
Por que nesses locais de atracações não existe um fiscal para impedir que embarcações irregulares ou superlotadas naveguem nessas condições precárias? Só depois é que falam que o veleiro particular não tinha permissão para realizar rotas com passageiros.
São coisas absurdas que só acontecem em nossa Bahia e em nosso Brasil atrasados, como se fossem terra de qualquer um, da impunidade e sem leis. Depois esses processos levam anos na justiça e os responsáveis nunca são exemplarmente punidos. Por outro lado, essas “autoridades” são as maiores culpadas porque a tragédia poderia muito bem ter sido evitada.