Jeremias Macário de Oliveira | jornalista e escritor
Em 1964 [60 anos do golpe civil-militar] em plena Guerra Fria, o inimigo era a ameaça do comunismo, conforme alegam até hoje, e contava com o respaldo da Igreja Católica, da maioria da mídia, das elites e da classe média. O esquema já vinha sendo tramado desde o suicido de Getúlio Vargas, em 1954, e culminou com a renúncia do maluco Jânio Quadros, em 1961, e a rejeição de João Goulart, o vice-presidente. Em 1954/55, no governo tampão de Café Filho, uma turma de generais tentou tomar o poder e barrar as eleições legítimas, mas o general legalista Lott impediu a trama. Os milicos ficaram irados. Cinquenta e oito anos depois de 1964 aparecem uns coronéis aloprados e uns generais de fraldas [uns falam ser de pijama porque já estão na reserva], comandados por um capitão-presidente da República (quem diria!), com um esquema burro de dar um golpe e anular a vitória e a posse da esquerda política, no caso o PT e companhia. Ah, esqueci de citar o bando de extremistas neonazistas supremacistas brancos e uma ala de pastores evangélicos. Essa intentona golpista já vinha sendo programada antes das eleições de 2022 porque eles sentiam que iam perder e condenavam o pleito de ser fraudulento. Numa reunião no Palácio do Planalto [nem sabiam que estavam sendo gravados], cada um arrotou a sua merda, a começar pelo capitão com seus palavrões impublicáveis. Está gravando? Não, respondeu o capitão e o general Braga Neto. Confira o artigo na íntegra.
Todos com medo (alguns aterrorizados com que estava ocorrendo, mas deviam obediência) até que surge o general de fralda, o Heleno e dá um alerta que o soco e a virada de mesa tinham que ser antes das eleições. Depois não adiantava mais nada. Sobre usar a Abin, o serviço de inteligência, para espionar o “inimigo”, o capitão mandou o general calar a boca.
Podemos dizer que foi um movimento dos coronéis aloprados, só que faltou eles combinarem tudo com o staff maior das Forças Armadas (a maioria não apoiava a maluquice). Mesmo assim, eles continuaram maquinando, como Catilina, na Roma antiga, tanto que depois do resultado das eleições eles aceitaram os acampamentos dos seguidores do Bozó em frente dos quartéis (nunca vi aquilo em toda a minha vida).
Enquanto isso, o capitão-presidente, recluso e atônito em “seus palácios”, silenciou-se diante da derrocada e nem reconheceu a vitória do seu oponente. Ali ele ainda mantinha a esperança de que o jogo poderia ser virado, só que ele ficou praticamente isolado. Nessa hora os ratos pulam fora do barco e nem o boy serve mais um cafezinho para o chefe, como dizia o ex-governador da Bahia, Otávio Mangabeira.
No entanto, o capitão e seus coronéis ainda confiavam em seus seguidores fanáticos acampados e berrando, que lá atrás vestiam suas amarelinhas e de cartazes e bandeiras nas mãos pediam uma intervenção militar, no caso específico, uma ditadura onde seu “mito” continuaria a presidir o Estado. É bom lembrar que tudo isso começou com os movimentos para depor a Dilma Russelff da presidência.
O Lula tomou posse e, mesmo assim, eles tentaram dar a última cartada que, com a conivência de alguns tenentes-coronéis, invadiram, como verdadeiros vândalos bandidos, os três poderes em oito de janeiro de 2023 para pressionar as Forças Armadas a entrarem com suas tropas com o pretexto de manter a ordem pública (a GLP), conforme reza artigo da Constituição.
A esta altura, o capitão não voltaria mais. Uma junta militar tomaria o poder como em 1964. Acontece que seria um desastre para o Brasil e não haveria clima e respaldo internacional, principalmente dos Estados Unidos e países da Europa. O alto comando não iria entrar nessa fria. Muita gente seria presa, como os chefes dos três poderes, o ministro Alexandre de Morais, do Supremo Tribunal Federal (STF), muitos mentores da desordem e o próprio capitão psicopata que se encontrava nos Estados Unidos.
Agora a coronelada e seus “jagunços”, sem armas, estão mijando nas calças pelas atrapalhadas. Os generais de fraldas com seus cuidadores de idosos estão decepcionados com a merda que aprontaram. Muitos dos malucos que invadiram o STF, o legislativo e o executivo vendo o sol nascer quadrado. A vatapada desandou e deu disenteria total. Dor de barriga danada.