Jeremias Macário de Oliveira | jornalista e escritor
O povo sempre é o maior culpado e termina levando a pior em tudo. Os governantes, sempre negligentes, sem planos, na base do improviso, são os maiores responsáveis e ainda vão para a mídia com suas medidas demagógicas de que estão empenhados em resolver o problem. Sempre saem de boa, com aparência de preocupados; enganam o povo direitinho. A imprensa não questiona e só noticia os fatos, por linhas tortas. Estou falando da dengue (mais de um milhão de casos neste ano) que já matou muita gente neste país doente, que agora se vangloria de ser a décima economia do mundo onde a concentração de renda das elites aprofunda ainda mais as desigualdades sociais que fazem aumentar a fome da extrema pobreza. Discutir essas questões degradantes é ser chamado de esquerdista comunista. Ainda estamos nesse nível de mentalidade brucutu. Confira o artigo de Jeremias Macário na íntegra.
Quase metade do Brasil não tem saneamento básico e milhões vivem em barracos cheios de vielas de esgotos correndo a céu aberto. Era a Covid-19 que matou mais de 700 mil criaturas e agora é a dengue. Somos um país doente de sarampo, catapora e outras pestes, vírus e bactérias. O sistema de saúde é precário.
Fala-se tanto em prevenção da saúde, mas o governo é o primeiro a não fazer sua parte. No ano passado tivemos altas temperaturas e dizem que foi o El Nino o vilão das mudanças climáticas (o homem sim, é que foi o carrasco da natureza), desmatamentos das florestas, enchentes, catástrofes e tragédias.
Sem obras de drenagens adequadas, nas médias e grandes cidades, principalmente nas periferias, as águas ficaram empoçadas por muito tempo em locais abertos. Os terrenos vazios de propriedades de particulares e até públicas servem de criadouros do mosquito da dengue. Ficam abandonados e não se cumpre a lei de limpá-los e cercá-los sob pena de multas. Vitória da Conquista é um clássico exemplo desse descumprimento.
Tudo isso anunciado e os governos municipal, estadual e federal não tomaram nenhuma providência antecipada para evitar a proliferação desse inseto mortífero. Só agora, com seus longos blablabás, aparecem na televisão, nas rádios e nos jornais com campanhas de combate, vacinas atrasadas e ainda colocando o povo como os maiores propagadores da doença.
Para completar o enredo macabro da história, tem a cara de pau de falar de prevenção, e que a população procure de imediato os médicos nos órgãos de saúde. Quando o doente chega lá, os corredores dos hospitais, das UPAS, dos postos da família dos bairros estão simplesmente superlotados e a pessoa fica horas para ser atendida. Muitas vezes nem é examinada e volta para casa gemendo de dores, febre e outros sintomas agudos no corpo.
Em muitas cidades brasileiras, como aqui em Vitória da Conquista, existem postos sem médicos. Então o pobre desgraçado, que só serve para dar o voto, é largado à própria sorte. Muitas vezes nem consegue o pedido para fazer o teste num laboratório público, que leva 10 e até 15 dias para sair o resultado. Durante este período, ou o paciente fica bom, ou morre.
Não aguento mais esse papo furado de que nos primeiros sintomas, procure o médico, como se cada um neste Brasil sem planejamentos e feio na fita da educação e da saúde, tivesse seu próprio médico. Outra coisa é “não tome medicação sem a recomendação médica”, como se todos tivessem essa assistência na hora. Isso é uma tremenda hipocrisia e estelionato dos governos.
Infelizmente, a nossa mídia não questiona essa situação e não cobra mais ação dos responsáveis que nunca são responsabilizados e punidos. Não se sabe se por preguiça ou incompetência, as grandes empresas de comunicação, principalmente, rezam na mesma cartilha; fazem só o factual; e não mostram o outro lado. Passam o tempo todo condenando o povo, a maioria sem educação, pobres moribundos morando em favelas ao lado dos focos do mosquito.
Vivemos numa pátria que não cuida de seus filhos. Muitos até argumentam que é um exagero e que tem uns, como eu, que são pessimistas e que deturpam e rebaixam a imagem do Brasil. Repudiam a verdade e preferem ficar no limbo da mentira, da enganação e do faz de conta que tudo é uma maravilha.
Que adianta sermos os maiores exportadores de grãos com a fama de depredadores do meio ambiente e de sermos ainda uma nação atrasada? Não temos parques avançados da indústria de química fina e a ampola de um remédio para uma doença grave chega a custar 10 e até mais de 100 mil reais. Pena, mas o nosso nível ainda é de uma colônia provinciana produtora de matérias-primas que imita os países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos.