Jeremias Macário | o que fizeram com a nossa cultura?

Foto: BLOG DO ANDERSON

Jeremias Macário de Oliveira | jornalista e escritor

Para começar nosso papo, diria que amarraram a nossa debilitada cultura num tronco; deram umas chibatadas de sangrar sua carne; e esqueceram ao léu do tempo, sem dar água e alimento. Outros teriam mais a comentar e a contestar. Quem sabe, até não concordar! No caso específico, estou me referindo a Vitória da Conquista, mas pode ser extensivo a Bahia e ao Brasil. Estou recebendo aqui nas redes sociais, através do “Grupo Cultural do Sarau A Estrada”, a notícia de que será realizada nesta sexta-feira (dia 26/04), no Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima, uma plenária itinerante do Conselho Estadual de Cultura (CEC), com objetivo de levar as discussões sobre políticas culturais para os territórios e dialogar com os artistas, gestores e fazedores culturais. Confira a manifestação de Jeremias Macário.

Não sabia que em Conquista existe uma política cultural, a não ser o calendário do São João (neste ano deve bombar com as eleições) e do Natal (iluminação da Praça Tancredo Neves). Anunciam que são as primeiras sessões itinerárias deste ano e anunciam que vão dialogar com os artistas. Vamos lá prosear, e depois?

No início do ano passado, se não me engano, estiveram aqui gestores da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia – SecultBa, com o intuito de conversar para promover um salão de artes plásticas. Estive lá presente como presidente do Conselho Municipal de Cultura e, como resultado lamentável, nada aconteceu.

Cadê as conferências de cultura? Nem tivemos conhecimento dos relatórios municipal e estadual. Soube que lá em Salvador só teve shows musicais, blábláblá, papo para boi dormir, burocracia e nada mais. Estamos de saco cheio de tudo isso. Queremos resultados, coisas concretas e não ficar discutindo o sexo dos anjos.
Ah, diz o chamado do Conselho que o principal assunto da pauta da plenária itinerante (haja gastos!) será a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB) que investirá mais de 220 milhões de reais na Bahia. É muita grana! Mais um monte de burocracias, exigências e umas atrapalhadas de pareceristas como ocorreu na Lei Paulo Gustavo onde os bons projetos ficaram de fora. Apresentei a proposta de levantar a história da fotografia em Vitória da Conquista e, como tantos outros, fiquei de fora.

Sou até suspeito de reclamar, mas minhas notas foram boas. A explicação que me deram é que fui superado pelas cotas. Ouvi relatos e a revolta de outros, com bons projetos que também foram excluídos. Por que todos estes pareceristas têm que ser de fora? O que é melhor para a nossa cidade?

Bem, voltando à plenária itinerante do dia 26, a informação é que a comissão provisória vai discutir e formular propostas para a execução da PNAB – Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura no Estado. Na ocasião, serão apresentadas as bases da Lei número 14.399, de oito de julho de 2022, e tome burocracia irritante. Depois haverá escuta da comunidade cultural do território.

Informa ainda que, na oportunidade, os artistas terão a chance de conversar diretamente com os gestores da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia – SecultBa. Serão entregues moções de aplausos a artistas fazedores de cultura de destaque no território sudoeste, melhor sudeste. Moções, sem ações?

Gostaria de saber se eles, os membros do Conselho Estadual de Cultura (CEC) e os prepostos da Secult sabem que a nossa cultura em Conquista foi sepultada pelo poder executivo? Sabem que os equipamentos culturais Teatro Carlos Jheová, o Cine Madrigal e a Casa Glauber Rocha estão fechados há anos e que o tempo está se encarregando de destruí-los? Sabem que não temos um Plano Municipal de Cultura?

A Secretaria do Estado vai trazer soluções concretas e recursos financeiros para abrir esses espaços que tanto fazem falta aos artistas em geral nas suas diversas linguagens (música, teatro, literatura, dança, artes plásticas, audiovisual e outras interpretações artísticas)? Estão sabendo que os artistas daqui estão sem locais para fazer seus ensaios e apresentações?

Sabem que a Secretaria de Cultura, Turismo, Esportes e Lazer – Sectel não tem verbas e orçamento para apoiar ações culturais no município? Sabem que o governo do estado não coloca dinheiro no Fundo Municipal de Cultura? Sabem que cada segmento, como escritores e outros, fazem seus eventos na “tora”, por conta próprio, sem nenhuma ajuda ou subvenção do poder público? Sabem que nem veio a público o relatório da Conferência Municipal de Cultura realizada no final do ano passado?

Não queremos ôba-ôba e sim que tirem a cultura amarrada no tronco e dê a ela água e alimentação para que sobreviva. Queremos um papo reto e não desse emaranhado burocrático. Os artistas não suportam mais essas plenárias que, no final, cada um vai para seu canto e tudo continua como dantes na Casa de Abrantes.


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