Jeremias Macário | o inferno é aqui, e também o céu

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Jeremias Macário de Oliveira | jornalista e escritor

As religiões (nem todas), pelo menos a judaico-cristã e o islamismo apontam que o céu fica lá em cima e o inferno embaixo. Confesso, e não tenho nada a esconder, que hoje não sou mais religioso (já fui por muito tempo) e tenho meus questionamentos. Acho que o inferno é aqui e também o céu, nos seus devidos momentos e circunstâncias. Não existem as fases boas e complicadas?  Pelo menos é um direito de liberdade de se expressar dessa forma que todos têm porque, em outros aspectos da vida, existe atualmente um patrulhamento do politicamente correto e o incorreto a se seguir, senão, meu amigo, você estará ferrado perante aos olhos dos outros. Niettzsche diz que o Estado é o mais frio dos frios monstros. “Eu, o Estado, sou povo, é uma mentira”. Como membro dessa sociedade hipócrita, de leis desiguais entre pobres e ricos, temos que obedecer suas normas, sejam absurdas ou não. Isso é um inferno, diria alguém. O cancioneiro Raul Seixas “criou” a sociedade alternativa onde “fazes tudo quanto queres”. Não é possível porque existem os limites até onde você pode ir. Não pode atravessar a linha do sistema, senão o trem lhe pega. Leia na íntegra.

Sou um descrente em muitas coisas, talvez hábito do jornalismo de ser cético, não acreditar em tudo e nem em todas as pessoas que dão tapinhas em suas costas e lhe chamam amigo-irmão quando se está tomando umas cachaças no botequim. Quando sai, é pura falsidade, cheio de invejas. Infelizmente, é isso que acontece no mundo atual e também do passado milenar.

Mais uma vez, estou fugindo do assunto. Digo que o inferno é aqui, parodiando até Caetano Veloso que em sua canção escreveu que o Haiti é aqui. Quem aqui faz o mal, aqui paga e, quem com o ferro fere, será ferido. Com seus fantasmas não resolvidos, você pode ser o inferno de si mesmo e também o inferno para os outros, contaminando quem está ao seu redor.

Dizem que tenho um lado macabro de ver as coisas, mas é só dar uma parada para reflexão e verá nos noticiários do dia a dia, nos casos de sofrimentos e problemas das pessoas, nas tragédias e catástrofes, nas guerras, nas discórdias, no ódio e na intolerância, nos preconceitos, nas desavenças entre famílias, nas mentiras e violências hediondas, na luta pela sobrevivência, e chegará à conclusão que o inferno é aqui.

Convencionou-se falar que quando uma celebridade, um famoso ou um ente querido, seja da família ou não, morre, esta pessoa vai direto para o céu, até que sentado ao lado de Deus. Como se tem essa certeza? De forma inconsciente, talvez esteja confirmando que o inferno é aqui pelo qual o falecido passou em vida, convivendo com gente ruim e maldosa, com intrigas infernais, doenças exóticas e tendo que aturar calúnias e infâmias.

A fome e a miséria, as tormentas, torturas nas prisões, a correria desenfreada do dia a dia, principalmente nas grandes cidades congestionadas e abafadas, sem ar para respirar, o medo de sair de casa e não voltar mais, os traumas psíquicos, as desigualdades sociais são verdadeiros infernos na vida de cada um, se bem que a maioria mentaliza que a vida é bela porque impede olhar o outro lado assombroso.

Por uma besteira, coisa fútil e torpe, muitas vezes uma pessoa, vizinha e até “amiga”, passa a atanazar o outro, e aí, então, sua vida vira um inferno e até lhe leva à morte natural e matada. Entendo que foi o próprio ser humano, desde os tempos primitivos da pedra lascada, que criou esse negócio de inferno e céu, um embaixo e o outro lá em cima.

Quem já não ouviu de um companheiro ou amigo falar que sua vida depois de determinado relacionamento, após uma mudança de lugar e endereço, de uma decisão tomada que não deu certo, virou um inferno. Aí você pede calma, dar uns conselhos e conforta que tudo passará e dias melhores virão. O mais comum é que o tempo cura tudo, até de um amor não correspondido ou traído. Nem tudo, meu camarada!

Para outros, o céu também pode ser aqui quando tudo está correndo bem, a mil maravilhas, enquanto não vem a reviravolta de coisas ruins. Então você vive entre o inferno e o céu. Não precisa ser material no sentido literal das palavras, de fogo e tridentes de belzebus, ou anjos de asas passeando com você em campos floridos celestiais na maior felicidade e paz de espírito.

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do BLOG DO ANDERSON

 


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