Matheus Silveira Lima | a praça sempre é do povo

Foto: BLOG DO ANDERSON

Matheus Silveira Lima | cientista político

Correu pela cidade as notícias do fechamento dos portões do Centro Cultural Glauber Rocha tão logo a lotação de segurança foi atingida e quem chegava ao local não conseguia entrar. Já havia acontecido em anos anteriores e isso é um pequeno arranhão em uma festa que está muito bonita e pacífica e com uma programação muito bem feita. O que ocorre é o que aquele espaço conseguido junto ao Governo Federal nas administrações anteriores foi elaborado sob a influência momentânea da falta de inteligência, que construiu um prédio (o Planetário) no meio do que seria a praça de eventos, diminuindo significtivamente sua capacidade. Agora, ou se muda os eventos daquele espaço ou se coloca o prédio abaixo, do jeito que está fica claro que não serve ao propósito a que se destina: como fazer uma festa popular com capacidade para vinte mil pessoas em uma cidade que tem quase quatrocentos mil moradores? Pensando no absurdo, temos o precedente: em nossa Vitória da Conquista já foi feito algo parecido, quando na década de 1930 a Rua Grande foi dividida em três, sendo loteada a parte do meio que divide as praças Tancredo Neves e Barão do Rio Branco. Esse quarteirão onde já esteve o Banco Econômico e as Lojas Insinuante impediram que a nossa cidade tivesse uma grande praça onde a vida da cidade, inclusive os eventos culturais, pudessem acontecer. Em Jequié os administradores foram mais sábios e a Praça da Bandeira foi mantida íntegra. Mas para não imaginarmos que foi apenas um acidente de percurso, os administradores da época achando pouco lotear a Rua Grande, avançaram na Barão do Rio Branco onde foi edificado o prédio que ficou conhecido como “Lindóya”, de modo que a cidade por algumas décadas sequer tinha uma praça central de eventos, já que o Lindóia espremia ainda mais o diminuto espaço.

 Assim, temos essa três lições históricas: a da Rua Grande, a do antigo Lindóia e a do atual prédio do Planetário, todos mostrando que uma decisão errática de um governante pode se reverberar na vida da cidade por longas décadas e até séculos Dito isso, fazendo coro ao que muitos conquistenses têm publicado nas redes sociais, é preciso um novo compromisso com o espaço público e com o povo da cidade em relação ao único grande espaço público que sobrou na cidade, o Velho Aeroporto, que pode ser convertido em um grande parque público com arena de eventos, pista de ciclismo, pequenos quiosques gastronômicos permanentes (mas nunca no meio da praça, como tem sido de praxe).  Tal obra depende mais uma vez dos gestores e nesse aspecto a cidade está, nesse ano de eleição, muito bem servida por três candidaturas de postulantes experientes e com uma longa folha de serviços prestados à nossa cidade. Resta a cada um deles responder se suas respectivas concepções de política e de governo acenam para a possibilidade de lutar para devolver a cidade pro povo e os espaços públicos para quem lhe é de direito, pois sendo um terreno federal que foi doado com a finalidade de construção de um Aeroporto, a extinção de sua finalidade dá uma boa margem para a tentativa de se retomar o espaço com uma nova função totalmente pública e de amplo acesso de todos, especialmente dos três bairros populares que lhe cercam: Patagônia, Kadija e Brasil.  Assim, é preciso deixar bem claras duas questões: as decisões tomadas agora são irreversíveis; e a praça é do povo, como o céu é do avião. Que se pronunciem e que o povo julgue com sabedoria no dia da eleição.


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