Jeremias Macário de Oliveira | jornalista e escritor
Diante do cenário de calmaria que observamos, a sensação que temos é que a cultura de Vitória da Conquista vai muito bem, aquele abraço! É um céu de brigadeiro, ou um mar de almirante! Como diz o professor Dirlei Bonfim, é tudo melancólico e triste de se ver. Alguma reaçãozinha ali e outra acolá, e o resto é cada um por si, tocando num barzinho de final de semana para ganhar uma merreca de gorjeta, fazendo um teatrinho, lançando um livrinho, uma exposiçãozinha e declamando sua poesia com palavrório de intelectual e “doutor” do universo literário. Outros se contentam com os editais das Leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc, para pegar uma graninha do audiovisual e alguns projetos noutras linguagens artísticas, de olho nas cotas das políticas públicas. Se temos editais, para que reclamar mais. Leia a íntegra da opinião de Jermias Macário.
Muitos aproveitam para embromar com algum projetinho de qualidade duvidosa e usam a grana em benefício próprio. A fiscalização faz de conta que fiscaliza a “prestação de contas” e o selecionado faz sua bajulação.
Temos até baluartes e papas da cultura, sem contar os gênios Elomar Figueira e Glauber Rocha, nossas referências do passado. Para que, então, queimar os neurônios, protestar e se preocupar com o presente e o futuro? Para que reformar e abrir os equipamentos culturais? Sem essa de Plano Municipal de Cultura, coisa burocrática de leis que vai estabelecer orçamento.
Deixa isso para os estressados que não sabem viver e ficam enchendo o saco da Secretaria de Cultura, Turismo, Esportes e Lazer – Sectel! Êita nome bonito e pomposo danado! Nada de aporrinhar e atanazar o poder executivo com esse negócio de cultura, mesmo porque o povão está se lixando!
Parodiando Zeca Pagodinho, deixa o tempo nos levar, leva eu, e vamos tomar umas boas num barzinho da vida, exibindo nossos dotes de conhecimento e sabedoria sobre história, filosofia, política, artes plásticas, pensamentos de escritores, vida de pintores, economia e até de psicologia. Afinal de contas, sabemos de tudo, somos os sabichões neosocráticos e platonistas.
O resto são tapinhas nas costas, falsos elogios, exibicionismo barato, vaidades e criticar os defeitos e as fraquezas dos outros. Quem fica por aí martelando que a nossa cultura está abandonada e foi esquecida é velho ranzinza reclamão que não está contente com a vida.
Conselho Municipal de Cultura é só para enfeite simbólico do prefeito ou da prefeita. É assim mesmo que a banda toca. Os documentos, projetos, manifestos e ofícios com indicações, sugestões e propostas são sempre engavetados. Vida que segue, meu amigo!
Ora, todos os anos temos São João com Amado Batista, sertanejos, pagodeiros e arrocheiros. No Natal é só iluminar a Praça Tancredo Neves com milhões de pisca-piscas com túneis bonitos para as famílias tirarem fotos e selfies para postagens em seus status e redes sociais. Algumas bandinhas ganham uns trocados e todo mundo fica feliz da vida.
Sem essa de fazer manifestações em porta de prefeitura ou nas ruas para reclamar da cultura. Aliás, isso há muito tempo não faz mais parte da nossa cultura, coisa arcaica, atrasada e ultrapassada, meu camarada! Melhor tocar seu burro na estrada e uma viola na praça, de preferência com um chapéu para colher algumas moedas.
Sem demais ironias, o que falta mesmo é coesão dos grupos, coletivos, entidades (Casa da Cultura) e academias de letras da cidade que ainda fazem cultura entre si de forma fechada, sem distinção ideológica, seja de esquerda ou de direita. Por que todos não se unem em torno de um objetivo coletivo? Aquele abraço!
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