A Bahia é o Estado Brasileiro com a maior população quilombola, abrigando mais de 1.800 localidades quilombolas, com cerca de 400 mil pessoas. Dentro deste contexto, Vitória da Conquista se destaca, com 33 comunidades quilombolas registradas na Fundação Cultural Palmares, a maioria delas na Zona Rural. As comunidades de Lagoa de Maria Clemência e Oiteiro, que juntas somam cerca de 3.500 pessoas, são beneficiadas pelo projeto de extensão “Atenção à saúde aos moradores de comunidades quilombolas de Vitória da Conquista: da prevenção ao diagnóstico de doenças crônicas”, também conhecido como Saúde nos Quilombos. Coordenado pelo professor Raphael Queiroz, do Departamento de Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), o projeto iniciado há oito anos e retomado neste ano com uma abrangência ampliada de atividades. Localizadas em áreas distantes dos centros urbanos, essas comunidades enfrentam desafios significativos no acesso a serviços de saúde.
O programa busca levar atendimentos médicos diretamente às localidades, com ações educativas, preventivas e exames laboratoriais, além de diagnósticos e encaminhamentos para tratamentos gratuitos através do Sistema Único de Saúde (SUS). O foco inicial está nas Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), especialmente diabetes mellitus e hipertensão, doenças mais prevalentes entre a população negra, em função de fatores genéticos. Além disso, o projeto realiza rastreamentos para outras condições, como cânceres, com base em questionários de saúde aplicados durante as visitas. Os encontros com as comunidades ocorrem quinzenalmente e as atividades do projeto seguem até o final do próximo ano.
Um dos aspectos de destaque da iniciativa é a atenção à anemia falciforme, uma doença hereditária mais comum entre a população afrodescendente. A doença causa a deformação das hemácias, impactando a circulação e a oxigenação do corpo, e pode causar sintomas como dores, fadiga e infecções. O projeto também busca identificar indivíduos com o traço falciforme, um fator genético que pode, em alguns casos, resultar na doença quando duas pessoas com o traço geram um filho. A equipe do “Saúde nos Quilombos” é composta por professores e estudantes do curso de Medicina da UESB e do Programa de Pós-Graduação Multicêntrico em Bioquímica e Biologia Molecular, além do apoio do Laboratório Central de Vitória da Conquista e da Secretaria Municipal de Saúde. Com esse esforço colaborativo, o projeto não só proporciona acesso à saúde para populações que historicamente enfrentam desigualdades, mas também atua na educação e prevenção de doenças, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida nas comunidades quilombolas do Centro Sul Baiano.