Jeremias Macário | nos tempos dos cartões postais

Foto: BLOG DO ANDERSON

Jeremias Macário de Oliveira | jornalista e escritor

Quando chegar, não esquece de mandar um cartão postal. Os mais velhos se lembram bem dessa recomendação quando algum familiar, amigo, namorado ou namorada viajavam para uma cidade distante ou uma capital, no caso Salvador, que muitos chamavam de Bahia ou Baia. A viagem era sempre aguardada com muita ansiedade. Na véspera nem se conseguia dormir direito. As viagens, em sua grande maioria, eram feitas de ônibus em estradas de cascalho e demoradas, umas com o propósito de passeio e outras até mesmo para ficar de vez na casa de um parente para arrumar um trabalho e melhorar de vida porque o interior pequeno era muito acanhado e não oferecia condições de crescimento. E as malas de couro cru! Cabia tudo dentro. Continue a leitura do artigo de Jerêmias Macário de Oliveira.

As partidas eram chorosas e calorosas como se a pessoa estivesse indo para o fim do mundo, para a China ou para o Japão. Os abraços e beijos eram demorados, e o motorista se danava a buzinar o carro para apressar os passageiros. Na saída eram aqueles adeuses!

Boas recordações daqueles tempos dos cartões postais onde a pessoa ia numa lojinha de lembranças e comprava aquelas belas imagens fotográficas e as remetia pelos Correios. Demorava um pouco de chegar ao remetente, mas era batata! Não falhava e nem desviava.

– Para minha amada, com muitas saudades do meu amor. Este é um lugar que nos une, mesmo tão distantes. Você está sempre em meu coração.
– Para meu pai e minha mãe querida, com muito carinho. Fiz uma boa viagem e estou adorando esta cidade. Em breve envio mais notícias.
– Ao meu amigo, ou amiga, um forte abraço. Aqui tudo é bonito e estou aproveitando esses dias para conhecer vários lugares encantadores. Quando a viagem era rápida, a pessoa trazia na bagagem um monte de cartões postais para comprovar sua visita.

Esses e outros dizeres, de acordo com cada intimidade que um tinha para com o outro, eram escritos nos versos dos cartões postais com distintas caligrafias, não esses garranchos de hoje que quase ninguém entende.

Naquele tempo, muita gente fazia coleção de cartões postais. Eu mesmo conheci uma pessoa que era fissurada nessa mania e tinha cartões de várias partes do mundo, sem contar do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e de outras capitais do país. Quantas saudades!

Por que hoje você diz que tal lugar é um cartão postal da cidade? Em Vitória da Conquista, por exemplo, dizem que o Cristo de Mário Cravo ou o Poço Escuro? Em Salvador, o cartão postal pode ser o Elevador Lacerda, o Farol da Barra ou a Ponta de Humaitá, na Ribeira. No Rio de Janeiro é o Cristo Redentor ou o Bondinho do Corcovado. Em Paris é a Torre Eiffel.

Atualmente não existem mais cartas e nem recantos de cartões postais. Hoje é tudo instantâneo pelo celular através de uma foto ou selfies, com uma legenda troncha cheia de erros de português. Na maior parte, as mensagens são feitas por áudio e, praticamente, sem ligações telefônicas.

Será que alguém aí ainda guarda, lá no fundo do baú, algum cartão postal ou carta de antigamente? Muitos foram jogados fora como velharia imprestável para dar lugar ao moderno. Dia desse encontrei um cartão postal em minha pasta. Só não vou revelar a mensagem.

 

* Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do BLOG DO ANDERSON.


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