A emoção tomou conta dos soteropolitanos e turistas que acompanharam a chegada da procissão em homenagem ao Senhor do Bonfim, na tarde desta quinta-feira (16). A imagem peregrina chegou à Colina Sagrada por volta do meio-dia, recebida com aplausos e lágrimas, enquanto o Hino ao Senhor do Bonfim era entoado. Junto à imagem, as baianas, com suas quartinhas, realizaram a tradicional lavagem do adro da igreja, utilizando ervas aromáticas para preparar a água de cheiro. Mãe Nicinha, de 73 anos, falou: “Essa água de flor é para purificar o corpo e a alma. Eu acordo cedo, pego as folhas, faço o amaci e venho para cá. Todos os anos eu agradeço e peço que o Senhor do Bonfim nos dê muita paz e muita vida para todos nós.” Gildete Brasil, de 69, destacou: “É muito lindo. E eu venho em sinal de agradecimento, porque tudo que eu pedi ao Senhor do Bonfim eu tive. Eu aproveito para pedir paz para o Brasil e o mundo. O cortejo da baiana simboliza a fé e a gratidão. Quando a imagem se aproxima, eu sempre me emociono muito, fico toda arrepiada e agradeço muito pela minha vida. O sentimento é de gratidão.”
A imagem percorreu 6,8 quilômetros, saindo da Basílica Santuário Nossa Senhora da Conceição da Praia, e foi seguida por muitos fiéis, incluindo o atleta Alan Nunes, que participa da Corrida Sagrada há sete anos. Ele explicou: “Todos os anos fazer esse percurso da fé, que sai da Conceição até o Bonfim, é como se desse um start no ano, não só agradecendo pelas bênçãos que já tive, mas também fazendo os pedidos para o ano que começa.” O padre Edson Menezes, da Basílica do Bonfim, proferiu uma mensagem de fé e esperança, pedindo proteção e misericórdia para o povo: “A imagem do Senhor do Bonfim tornou-se expressão da devoção de um povo que cultiva e preserva fé e tradição. Através do seu semblante, com os seus braços abertos, deixa transparecer a misericórdia. Com os seus braços abertos vem guiar nossos passos, depois de tantas tragédias, de tantos desastres, depois de tantos acidentes, depois de tantas mortes e crises. Vem, Senhor do Bonfim, nos proteger e nos guardar de todo o mal. Nesse cenário torna-se necessário renovar a nossa esperança e nos manter firmes com a certeza de que Deus está conosco. O Senhor do Bonfim não nos abandona.”
A procissão também contou com a presença de grupos culturais, como os mascarados de Maragogipe, e vendedores de alimentos típicos da Bahia, como mingau e feijoada. O historiador Murilo Mello destacou a tradição das barracas, que vendem comidas típicas e são parte da identidade cultural da festa, lembrando relatos de escritores como Jorge Amado: “As barracas eram um show à parte. Havia algumas lendárias, que vendiam comidas baianas. Há fotos de Pierre Verger dessas barracas, que eram um patrimônio na década de 1950. Há relatos de uma americana que passou por aqui, dando conta da riqueza do colorido e das comidas e bebidas que vendiam, a exemplo do aluá, bebida tradicional baiana feita com a fermentação de frutas, do coco, principalmente. Outras vendiam sarapatel, entre outros alimentos. Eram barracas muito coloridas e que faziam e ainda fazem parte da riqueza de identidade que tem todo o cortejo e trajeto da festa.” A Lavagem do Bonfim é considerada patrimônio imaterial do Brasil O tema deste ano é “Amado Jesus, Senhor do Bonfim, Nossa Esperança, há 280 anos entre nós”. Os festejos começaram com a novena e vão até o domingo (19), com missa solene, a Procissão dos Três Pedidos e apresentações musicais no encerramento.