
Mais uma noite memorável no Sarau A Estrada movimentou o Espaço Cultural de mesmo nome, no último sábado (12). O encontro teve como tema principal “A Coluna Prestes e seus desdobramentos políticos” , apresentado em uma instigante palestra do companheiro Eduardo Morais. Mais de 30 pessoas participaram da atividade, entre jovens, artistas, intelectuais, professores e entusiastas da cultura. Os trabalhos começaram com Dal Farias, membro da comissão organizadora. Na sequência, o jornalista Jeremias Macário e sua esposa Vandilza Gonçalves anunciaram a mudança para uma nova residência, garantindo a continuidade do Sarau, que completa 15 anos de trajetória cultural. Jeremias aproveitou a ocasião para prestar homenagem ao ativista cultural Massimo Ricardo De Benedictis, com um minuto de silêncio. Ricardo, falecido na semana anterior, deixou legado importante na cultura de Vitória da Conquista, com projetos e eventos significativos. Cleu Flor, presidente da comissão, compartilhou informes sobre a prestação de contas do fundo de arrecadação e o andamento do processo de registro oficial do Sarau em cartório. Durante sua exposição, Eduardo Morais traçou um panorama histórico e político da Coluna Prestes, surgida a partir do movimento tenentista de São Paulo, em 1918.
A marcha começou em Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, sob a liderança de Luiz Carlos Prestes, percorreu mais de 25 mil quilômetros pelo interior do país e encerrou no Sul do Mato Grosso, por volta de 1927/28, quando os integrantes se dispersaram e seguiram para a Bolívia, em meio à perseguição do governo de Venceslau Brás. Inspirado pelas ideias socialistas da Revolução Russa de 1917, o movimento defendia reformas sociais e educacionais. A Coluna enfrentou o coronelismo e as injustiças sociais que afetavam o sertanejo urbano e rural. Coronéis da época espalharam boatos sobre violência praticada pelo grupo, o que gerava medo nas cidades por onde passavam.
Eduardo também lembrou da Semana de Arte Moderna, em 1922, em São Paulo, liderada por Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, entre outros. O movimento, chamado de “antropofágico”, valorizava as artes nacionais e defendia a liberdade cultural e democrática. Na Bahia, a Coluna passou por cidades como Condeúba e Mucugê. Muitos combatentes morreram nas batalhas contra as tropas do governo. Restaram poucos ao chegarem ao Mato Grosso. Prestes seguiu para a Bolívia e depois se exilou na União Soviética. Viviane Gama prestou homenagem às mulheres, destacando seus enfrentamentos por igualdade. Relembrou o tempo em que eram vistas apenas como donas de casa e reforçou que muitos direitos ainda precisam ser conquistados.
Após os debates, o músico, poeta e compositor Manno Di Souza iniciou as apresentações, acompanhado por Alisson Menezes, Dorinho Chaves e Alex Baducha. Como sempre no Sarau, abriu-se uma rodada de declamações de poemas autorais, oferecendo espaço à expressão artística de todos. A noite seguiu em clima de confraternização, com comes e bebes, trocas de ideias e partilha de saberes. Ao longo de seus 15 anos, o Sarau A Estrada consolidou-se como espaço de convivência, liberdade e respeito às diferenças ideológicas. Participantes registraram o evento em mensagens no grupo. Cleide destacou a luz da lua cheia e a alegria dos benfeitores da cultura. Humberto descreveu o ambiente como pleno de paz e harmonia, e elogiou a escolha do tema, ainda pouco abordado no cotidiano, mas atual diante do cenário vivido no Brasil. Dal Farias celebrou a trajetória do Sarau, marcada por aprendizados, encontros e emoções. Em um momento comovente, Jeremias e Vandilza anunciaram a mudança para um novo ambiente e agradeceram pelas experiências vividas no espaço acolhedor, repleto de adereços, livros e a conhecida coleção de chapéus. O Sarau A Estrada segue adiante, com novos caminhos, encontros e memórias. Vida longa ao Sarau. As informações são do jornalista e escritor Jerêmias Macário de Oliveira.