Eduardo Moraes: Lagoa das Bateias sofre Estupro Coletivo

Fotos: Eduardo Moraes
Fotos: Eduardo Moraes

Eduardo Moraes | Bancário | [email protected]

O Parque Municipal da Lagoa das Bateias, criado pelo poder público municipal em 05 de junho de 2007 através do Código Municipal do Meio Ambiente – Lei 1.410/07, art. 23º  inclui a Lagoa das Bateias e entorno compreendidos pela pista perimetral, que representa uma área de aproximadamente 53 ha,  contava com três tipos de ambientes: o espelho d’água; o litoral e o ninhal, faz parte da sub-bacia da Bacia do Rio Santa Rita, que integra a do Rio Verruga principal sistema hídrico do município, e esta por sua vez se integra a grande bacia do Rio Pardo localiza-se na zona urbana de Vitória da Conquista.

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A intervenção da Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista, na área da Lagoa, além de uma nova estrutura, teve como intenção resolver em definitivo os problemas decorrentes dos constantes alagamentos ocorridos em épocas de fortes chuvas à população moradora nos bairros adjacentes e transformá-la em uma Unidade de Conservação, deveria desempenhar funções de manutenção dos mananciais hídricos a de ter importância como monumento paisagístico e área de lazer para a cidade. >>>>>

A lagoa, propriamente dita, era a maior área do parque e caracterizava-se por ser uma massa d’água doce com superfície irregular que tinha  aproximadamente 26 ha, e profundidade média de 2metros; o litoral é a área de terras que circunda a lagoa com 13 há e abriga vegetação ruderal e de charco, além da infraestrutura do parque com museu – que não tem qualquer informação sobre o bioma da lagoa -, quiosques, parque infantil (destruído),campos de terra para a prática do futebol, áreas antes  arborizadas , pistas para passeios e ciclismo e por fim o ninhal, uma ilha de 14 ha encharcada (completamente assoreada) na região central da lagoa anteriormente  dominada por taboas, que funcionava como área de reprodução, dormida de várias espécies, principalmente aves. Em uma rápida pesquisa nos sites de busca na rede mundial de computadores logo se apaixona e faz-se transportar para esta idílica paisagem assim apresentada.

Na realidade, nesses nove anos do que poderia ser uma das mais importantes realizações dos 20 anos de Governo Participativo na preservação daquele manancial, estimulando a construção de uma consciência , educação ambiental, conservação, lazer e turismo vem se transformando em um grande problema para a cidade, moradores nas adjacências, o  que poderá custar aos cofres públicos e a população  outros milhões de reais para a sua recuperação, já que o quase completo abandono de tão importante bioma composto por  Typha domingensis (Taboa) uma planta aquática, herbácea, enraizada, emergente, perene, com até 2,5 m de altura de fibra, durável e resistente, pode ser utilizada como matéria-prima para papel, cartões, pastas, envelopes, cestas, bolsas e outros itens de artesanato, etc.

Esse que poderia ser o principal cartão postal do nosso município. Especialmente nos últimos anos, pela a mais completa ausência de qualquer política de preservação ambiental, cuidados com Praças, vem sofrendo todos os tipos de agressões e violências inimagináveis. Aquele espaço hoje é terra sem lei onde violentadores por maldade, ignorância, ódio ou vingança, cortam arvores, põe fogo na vegetação nativa quando lhe bem convier, tiram mudas, descartam entulho e lixo de forma indiscriminada. Diariamente carroceiros, empregados ou proprietários de haras particulares, retiram toneladas de capim ainda encontrado fartamente entranhado nas taboas que no corte com fação, foice manual ou mecânica, vem erradicando toda a flora e fauna na área. As garças e outras espécies de aves antes ali habitual já não são mais avistadas, até mesmo os urubus tão comuns e que colocavam em risco os pousos das aeronaves em nosso aeroporto, abandonaram aquela área, talvez em protesto à devastação imposta pelo homem “civilizado” e descaso do poder público municipal.

Na verdade, o Parque das Bateias vem sofrendo estrupo coletivo e assim como as vítimas desse abominável crime, vive a falta de estrutura do antes e após, da mesma forma como acontece no caso de violência sexual, a humilhação, descaso e violência imposta à natureza jamais chegará a ser apurada ou os autores responsabilizados pelo crime hediondo cometido. De fato, se entende que trata de uma situação cruel. Quantos casos impunes de violência contra o meio ambiente em Vitória da Conquista, como o estupro ambiental da Lagoa das Bateias, Serra do Periperi, Bebedouro da Onça-embiras, Olho D’água, Rio Verruga, Mata do Poço Escuro e seus minadouros, charqueadas regiões de brejo que predominavam em toda a extensão do antigo açude, até a fazenda Santa Marta, etc.  A fim de ser combatido, o descaso com o meio ambiente em nossa cidade, esse problema não só precisa ser exposto e denunciado sistematicamente, como também apurado. Além disso, os responsáveis devem responder exemplarmente pelos crimes cometidos. Para que as gerações presentes e futuras possam efetivamente conhecer, compreender, se apropriar, desfrutar e preservar nossas nascentes, fauna e flora resistentes, esse tema merece ocupar espaço definitivo, não apenas entre os indignados, ONG’s, ativistas, em academias, mas em conversas de botequim, para que atrocidades contra as vidas existentes nesses biomas não continuem a sofrer atrocidades. Cada nascente soterrada, planta dizimada ou ave extinta, é como se um pouco de cada um de nós tivesse o coração arrancado.

O homem com a sua fúria egocêntrica em busca de acumular o vil metal, não apenas faz sangrar a natureza, deixa a terra completamente arrasada, responsabilizando-a pela secura, falta de chuva, fim de peixes, aves, frutos, da mesma forma como a sociedade faz com todas às vítimas de estupro. Mas, enfim, o que esperar de uma gestão pública que em se tratando de política ambiental, cuidado de áreas verdes, mananciais e praças, adota como política pública plantar pneus usados pela cidade ao invés de árvores! Não sejamos hipócritas fingindo que nada está acontecendo ou que também não temos qualquer responsabilidade!

Sabe minha Conquista linda, esse texto não tem como objetivo ser definitivo, trata-se do grito de um filho seu, indignado, que resolveu romper com o silêncio que o angustia ao olhar para à cidade ou a cada volta que faz ao caminhar pelo entorno dessa lagoa!

Eduardo Moraes

Historiador, Contador, Especialista em Gestão Pública

Presidente do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Baiano – IDSB

 


6 Respostas para “Eduardo Moraes: Lagoa das Bateias sofre Estupro Coletivo”

  1. Carlos Santana

    Muito bom o questionamento, só acho que deveriam ter mais cuidado com o título, pois, associar um ”estupro coletivo”, que é uma coisa muito mais violenta e traumática, com a situação de um parque ”abandonado” não cabe principalmente no momento em que vivemos atualmante de tanta violência e falta de respeito com o ser humano. Quando li o título parecia que havia ocorrido um estupro coletivo nesta região acima citada. Apenas uma sugestão simples, refutável ou aceitável.

    • André Sampaio

      Descordo!!! O termo “estrupo coletivo” encaixou-se como roscas… Estrupo Coletivo pelo fato de a administração publica e a população em geral estarem destruindo este importante patrimônio… Lamentável para uma cidade que é carente de alternativas para entretenimentos e até mesmo pesquisas acadêmicas como foi o caso da primeira turma de engenharia ambiental do IFBA ter realizado aí dentre outros, levantamentos biológicos com o propósito de manutenção do local.

    • André Sampaio

      Ou seja meu caro colega Carlos Santana… Não só houve como ainda há um estrupo coletivo neste local…

  2. André Sampaio

    Belíssimas colocações!! Infelizmente todos nós conquistenses sofremos com descontinuidade nos serviços públicos aqui em nossa cidade… Esse governo é idealizador mas lhe falta competência e conveniência quanto a manutenção das obras públicas. No Alto Maron por exemplo, foi cria o CEU, (Centro Esportivo Unificado) uma ideia brilhante onde pensava em fazer um mesclado de esportes junto com assistências sociais através do CAPS por exemplo… entretanto, quem mora nas proximidades percebe-se que os vândalos começam os seus feitos e o que era para esta funcionando na verdade não está. lamentável!

  3. Damone

    Rapaz, você quer saber uma coisa, aquela área ali é totalmente abandonada pela prefeitura, fizeram um parque de preservação ambiental junto a uma área pra as pessoas praticarem atividade esportiva. Porém, o abandono é total. A vegetação disputa espaço da calçada com as pessoas. A sujeira é demais, a iluminação péssima.

  4. Eduardo Moraes

    Agradeço aos que pararam para ler este texto e deixaram os seus comentários. Tenho certeza que todos com a clara intenção de colaborar para que tenhamos uma cidade mais humana, urbana, integrada e de todos.
    Acredito que medidas simples, não onerosas porem eficazes poderiam de imediato serem adotadas amenizando assim as ações humanas que depauperam o bioma do Parque Municipal da Lagoa das Bateias Como: Uma faxina geral, panfletagem e carro volante circulando nas adjacências procurando conscientizar os habitantes do local, responsabilizando cada um para as punições previstas na legislação do município contra aqueles que descartam entulhos ou lixo no parque. Provocar uma solida parceria entre esses moradores e usuários sobre a importância em cuidar, preservar e se responsabilizar pelo equilíbrio da área. Quanto aos que retiram o capim, taboas, mudas, cortam arvores…. Cabe identificar cada um desses cadastrando-os saber que são para qual fim se destina, se uso doméstico ou comercial. E se por ventura for permitido a retirada de qualquer natureza, que se discipline às áreas de onde poderão ser extraídos, quando, e estabelecer uma contrapartida…
    Até que Um projeto de recuperação seja implementado!

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