Romélia Lessa: Câncer de Próstata e o Macho Alfa

Foto: Divulgação
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Romélia Lessa | Advogada | [email protected]

A masculinidade que se vincula ao homem desde que o mundo é mundo está intimamente ligada ao preconceito, que se manifesta no nosso cotidiano através do machismo e o resultado é que muitos homens postergam ou deixam de fazer o exame preventivo de Câncer de Próstata, o toque retal. >>>>>

Os órgãos de saúde apontam que apenas um terço dos homens faz o exame preventivo do toque retal. Essa resistência pode custar-lhes a vida, visto que no Brasil o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, ¹estimam-se 61.200 novos casos de câncer de próstata para o Brasil em 2016. Esses valores correspondem a um risco estimado de 61,82 novos casos a cada 100 mil homens, números mais elevados que o câncer de mama no Brasil, daí vê-se a magnitude da doença que afeta aos homens.

Por certo a abordagem distorcida sobre a sexualidade masculina pode comprometer a saúde do homem, inclusive no que se diz respeito a medidas preventivas, consequência disso é a descoberta tardia da doença ou seu agravamento. Estima-se que o índice de câncer de próstata ainda é muito alto porque existe o tabu. Isso mesmo, homens também tem tabus quanto a realização do exame de toque retal, necessário para diagnosticar a doença.

A maioria dos homens apresenta resistências ao exame de toque prostático via reto, incitando a ideia de agressão, violação e comprometimento da masculinidade já que o toque envolve a penetração do dedo do médico, e o homem experimenta o desconforto físico e psicológico por estar sento tocado, numa parte considerada proibida.

Decorrente do imperativo “ser macho” que o homem carrega, alguns podem se considerar molestados em seu brio masculino, além do medo de uma possível ereção que pode surgir a partir do toque, se associado a um indicador de prazer reprimido. Entretanto, a ereção pode ser apenas uma reação fisiológica, portanto homens acalmem-se!

O “menino” desde a mais tenra idade foi educado a ter sua iniciação sexual precocemente, a negar a homossexualidade e a manter certos padrões de comportamento que devem corresponder com as exigências da sociedade para o ser masculino, independente da classe social ou grau de instrução. Como conclusão, a necessidade de cuidar da própria saúde entra em conflito com a necessidade em afirmar sua identidade masculina.

O falo era (e ainda é) em muitas culturas símbolo de virilidade, força e fecundidade transformando em obsessão pelo poder que o pênis carrega e traduz-se na equação simples “ereção = macho = virilidade = homem exitoso = desejado pelas mulheres = admirado e invejado por todos outros homens => PODER”. Entretanto, para a mulher moderna nada mais que um conceito primitivo e néscio atribuído a vulnerabilidade masculina não passando de um órgão que compõe o organismo humano.

Oportuno esclarecer que a Lei 12.732 de 22/11/2012 tutelam os direitos das pessoas com câncer, sendo de grande valia e incontestável prioridade que busquem conhecer e legitimar seus direitos. A referida lei concede a pessoa com neoplasia maligna o direito de se submeter ao primeiro tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), no prazo de até 60 dias contados a partir do dia em que for firmado o diagnóstico em laudo patológico. Ademais, possuem direitos sociais como isenção de IPTU, de IPI para carros adaptados, IRPF na aposentadoria, sacar o FGTS, PIS e vários outros.

Além disso, pessoas com câncer tem prioridade no acesso à justiça previsto na Lei n°-10.173 de 09/01/2001, e desde 2015 os planos e seguros privados de saúde são obrigados a cobrir os custos dos medicamentos orais para tratamento domiciliar do câncer, conforme a Lei nº 12.880/2103.

Por fim, é essencial chamar a atenção dos homens para a realidade do Câncer de Próstata, encorajando-os a se desapegarem do mito “Macho Alfa” e a abandonarem o fardo perverso do preconceito, para que assim possam se submetam ao exame de toque retal sem tanto sofrimento.
Machos da espécie humana, vençam a sombria ameaça do machismo!

¹http://www.inca.gov.br/estimativa/2016/sintese-de-resultados-comentarios.asp
Romélia Lessa – Advogada especialista em Direito Médico – [email protected]


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