Pelo menos 11 pessoas foram atendidas nas últimas semanas em Salvador e Valença com sintomas de uma doença misteriosa que causa fortes dores musculares e deixa a urina preta. Segundo o médico infectologista Antônio Bandeira, um dos pacientes chegou ao quadro de insuficiência renal. Especialistas investigam se doença tem relação com consumo de peixe no litoral baiano. O surto, como já é considerado, foi informado à Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (SESAB), que disse, em nota, ter notificado a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Divep) para investigar os casos. Ainda de acordo com o médico infectologista, foram coletadas amostras dos pacientes para identificar possíveis vírus ou agentes transmissivos. Confira a reportagem do Correio.
Segundo o professor Gúbio Soares, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), as amostras já foram coletadas, mas o laudo que deve indicar qual a causa da doença só será concluído em 15 dias.
Peixe suspeito
Especialistas investigam se o consumo do peixe Olho de Boi, também conhecido como Arabaiana, está relacionado à doença. Segundo Antônio Bandeira, os 11 pacientes que estão recebendo acompanhamento médico relataram que consumiram carne de peixe antes ou durante o surgimento dos sintomas. O peixe foi comprado fresco e preparado em casa.
“Uma família de quatro pessoas, que consome muito peixe, falou que, nos dias que antecederam o surgimento dos sintomas, não comeram. Mas temos pelo menos cinco pessoas que se alimentaram de peixe em Guarajuba, que é um casal de namorados, a tia, uma mulher que comprou o alimento e também a empregada dela”, contou o médico.
Segundo ele, a tia do casal chegou a confundir os sintomas com uma virose. “Essas cinco pessoas que tiveram os sintomas comeram Olho de Boi, conhecido também como Arabaiana. E por isso essa é uma via de hipótese. A outra é de que estamos procurando um vírus que pode estar causando isso”, explicou.
Ainda não há certeza sobre as causas da doença, mas a orientação é de que, ao perceber os sintomas, os pacientes se hidratem bastantes, evitem a ingestão de anti-inflamatórios e procurem um médico. “O risco que existe é a pessoa ter a urina escura, não se hidratar adequadamente e acabar tendo uma insuficiência renal. E isso pode acontecer”, alertou o médico.
A identificação da toxina ou vírus que está causando a doença misteriosa vai depender da análise clínica dos pacientes já registrados. “É claro que, se afastarmos as causas virais, e aparecendo mais casos podem levar a crer que haja essa situação”, disse o médico sobre a relação com o peixe.
Segundo Bandeira, a análise nos peixes é mais difícil, já que pode se tratar de uma toxina ou produto químico, que é mais difícil de descobrir do que uma bactéria ou vírus, por exemplo. “Então é importante que a Vigilância Sanitária e os órgãos do governo busquem investigar, pois isso não temos como fazer”, concluiu.
Síndrome rara
Os sintomas apresentados em Salvador e Valença se assemelham à Síndrome de Haff. “Existe uma síndrome parecida que já foi demonstrada após a ingestão de peixe de água doce no Amazonas. Ela dá um quadro muito semelhante, mas a gente não tem registro de casos em Salvador. Tenho colegas em Natal que estão relacionando isso já há algum tempo com o consumo do peixe Arabaiana. Também já aconteceu em algumas regiões do Norte do Brasil”.
O primeiro caso de Haff foi relatado em 1924, nos Países Bálticos, e os sintomas apareceram 24 horas após o consumo de pescados. Também há registros de surtos da doença na Suécia, nos Estados Unidos e China.