Terminou nesta sexta-feira (2) o período mais terrível da vida de um cidadão brasileiro chamado Atercino. Ele tem 52 anos e passou os últimos 15 tentando convencer a justiça brasileira de que não podia ficar preso porque é inocente. Quando os pais se separaram, Andrey e Aline tinham 9 e 6 anos de idade. Foram morar com a mãe e uma amiga dela. Pouco depois, acusaram o pai de abuso sexual. Passados alguns anos, fugiram, alegando maus-tratos. Estiveram em orfanatos. Adolescentes, voltaram a viver com o pai. Leia a reportagem do G1.
Os dois afirmam há tempos que foram forçados e até torturados pela mãe e pela amiga dela para que fizessem falsas denúncias contra o pai. “Eu, quando criança, era ameaçado e agredido para mentir sobre abusos sexuais. Ela falava que deveríamos mentir sobre meu pai”, disse Andrey.
Andrey tentou retirar a queixa, mas não teve acesso a juízes e desembargadores. Registrou uma declaração em cartório, mas o processo seguiu. Chegou ao Supremo Tribunal Federal. Atercino Ferreira de Lima Filho foi condenado a 27 anos de prisão. A absolvição só veio na noite desta quinta-feira (1).
Na manhã desta sexta-feira (2), a libertação e o emocionante reencontro com Andrey, com Aline, com a mulher. Atercino casou de novo há 16 anos, tem outra filha de 12, que só reencontrou em casa.
Nos 11 meses em que esteve preso, até a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, Atercino esteve impedido, inclusive, de receber visitas dos filhos, que já o tinham inocentado, sem que isso tivesse sido incluído no processo. Dentro da lei, eles ainda eram considerados vítimas do pai. O contato era proibido.
As coisas só mudaram quando entraram em cena advogados do Innocence Project, uma ONG fundada nos Estados Unidos para combater prisões injustas. “Um sofrimento enorme, um sofrimento enorme para o Atercino, um sofrimento gigante para essas crianças que foram vítimas de uma violência doméstica terrível e carregavam essa angústia de terem causado esse mal ao pai”, disse Dora Cavalcanti, diretora do Innocence Project Brasil.
Unidos novamente, pais e filhos dizem que não pensam em processar a mãe de Andrey e Aline. Querem seguir adiante, aproveitando as lições do que ficou para trás. “Viver cada dia intensamente perto de quem a gente ama e ter a certeza de que a gente venceu”, contou Andrey Camilo Lima.
“Agora é continuar evoluindo. Essa é tendência, né?“, disse Aline Camilo Lima.
“Hoje eu tenho a certeza que eu vou ser um pai melhor, um marido melhor, um filho melhor, um funcionário melhor. Eu acho que o melhor está na minha vida hoje. E o melhor com certeza é a minha família”, afirmou o vendedor Atercino Ferreira de Lima.