Jorge Maia: Beóciavírus

Foto: BLOG DO ANDERSON

Jorge Maia | Professor e Advogado | [email protected]

Beócia 30 de fevereiro de um ano qualquer. Querido Jorge Maia, posso chama-lo de querido? Há tanto tempo não nos falamos que uma intimidade dessa pode parecer um assédio e quero evitar interpretações maldosas, sobretudo por causa de Francis, que embora não revele, morre de ciúmes. Não sei porquê, pois nem quer saber de mim. Depois da minha viagem para pela Europa, quando fiz várias palestras sobre “O Fenômeno das Periguetes e a Crise nas Famílias” retornei para a Beócia. Mantive-me em silêncio. Uma leve depressão tomou conta da minha alma e isso sempre acontece quando me lembro de uma manhã fria em Oslo. Leia na íntegra.

 

Em breve caminhada em direção a Universidade, na qual faria a minha palestra, um grupo de corredores passou por mim, faziam algazarra e riam. Ao dirigir o olhar para um deles eu percebi que era Francis, o qual, cabisbaixo, desviou o olhar e fingiu que não me conhecia. Foi decepcionante. Não foi fácil fazer a palestra, mas acho que me sai bem e defendi o valor das periguetes na reformulação da sociedade.

Retornei à Beócia e cruzei os céus do Brasil. Ao passar sobre Vitória da Conquista avistei a Serra do Periperi, que Dr. Ruy insiste em chamar Serra do Piripiri, mas conhecida pelos nome “Alpes da Suíça Baiana”. Naquele momento eu me lembrei de você e por isso escrevo para matar a saudade.

Depois de tantos meses na Europa, comecei achar estranho os nossos antigos hábitos. Vivenciei os costumes de outros povos e aprendi a importância de respeitar as normas destinadas a uma convivência mais sociável.

Aqui as pessoas continuam dirigindo e falando ao celular, cortam filas, estacionam em lugares proibidos, dirigem embriagados e às vezes por conta disso entram em luta corporal com a polícia de trânsito. Outros reclamam pela falta de vacinas, vagas nas escolas, falta de asfalto, ruas esburacadas, segurança pública, falta de leitos hospitalares e assistência médica. Alguns daqueles que reclamam do poder público não costumam pagar os seus impostos, mas exigem os serviços públicos. Sempre alegam que os recursos dos impostos serão objeto de corrupção e por isso não os recolhem. Tenho a impressão que se trata de uma lógica invertida; é preciso pagar os impostos e fiscalizar a sua aplicação.

Sabe? Eu adora a Beócia! Seu clima, o doce encanto das suas ruas um povo alegre, mas sinto falta daquela vida mais amena em que o cidadão é assistido, mais educado e em que poder público e sociedade possuem uma boa convivência.

Tudo isso parece um vírus contra o qual não há vacina e talvez seja preciso uma mobilização nacional com vistas a um ambiente mais sadio.
Por favor, não fale com Francis sobre esta carta. Não sei o que ele pensaria sobre isso, pois sempre falo dele quando escrevo para você.
Um grande abraço, destas doces e suaves terras da Beócia. VC13032020


2 Respostas para “Jorge Maia: Beóciavírus”

  1. Marcos Antônio Dias dos santos

    Aparência. E desta forma que o ser humano vive. O que fala ( onde tem convivo ) não quer dizer , que seja , assim. “ ser humano “

  2. Thiago Fernandes Galdino

    eu estava com saudades da beocia rsrs só consigo noticias por este canal professor. embora sempre me encontro entre esses cidadões “beioences” gosto de ler e refletir principalmente as minhas decisões perante a sociedade com base nas interessantes cartas.

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