Jeremias Macário de Oliveira | se Jesus Cristo retornasse à terra e fosse um brasileiro nordestino

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Jeremias Macário de Oliveira | jornalista e escritor

Poderia ser na Bahia, na Paraíba, Piauí, Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Ceará ou Maranhão, nessas terras áridas e secas de séculos de sofrimento, parecidas com a Palestina antiga dominada por Roma, em meio a um povo explorado pelos senhores coronéis das fortunas e do poder! Como seria sua linguagem evangélica?  Creio que seu discurso seria mais na linha política que filosófica e cristã ao condenar os fantasmas embusteiros e se levantar contra sulistas nazifascistas que desejam morte aos nordestinos. Iria correr trechos numa Kombi, numa Van ou numa moto com seus seguidores convocando as pessoas a se unirem a não baixar a cabeça para os poderosos. Faria diariamente marchas de protestos. Confira na íntegra o artido de Jerêmias Macário.

    Com certeza ficaria horrorizado com esses pastores peritos em lavagem cerebral na corrida para serem eleitos e fazer bandidagens no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto. Repeliria energicamente esses evangélicos fanáticos que em seu nome jogam pedras em terreiros de candomblé, odeiam outras crenças, praticam o racismo e a homofobia.

   Muitos católicos e padres carolas conservadores que só estão ali para pregar aquele evangélio antiquado e enfadonho sem sal nas falas seriam também alvos de suas bordoadas. Suas palavras teriam um tom socialista e seria renegado e chamado de comunista por esses falsos cristãos. Claro que sofreria constantes ameaças de morte e viveria cercado de seguranças.

     Será que Ele rogaria ao Pai para que perdoasse porque eles não sabem o que fazem? Ou pediria que todos fossem castigados e condenados ao fogo do inferno como nas narrações do Antigo Testamento com relação aos ímpios, cruéis e fariseus? Usaria seu poder divino da chibata para expulsar esses vendilhões dos templos?

    Em suas andanças pelo agreste do sertão nordestino, pelas ruas e cidades pequenas e grandes derramaria lágrimas ao se deparar com tanta ignorância, violência, brutalidades, atos desumanos, fome e miséria.  Em suas preces rogaria ao seu Pai misericórdia e punição severa aos corruptos, ladrões, mentirosos, falsários que enganam o povo falando em pátria, família, liberdade e Deus acima de tudo.

  Ficaria enojado com aqueles que passam o dia usando seu nome e o do seu Pai em vão, até em jogos de azar, para praticar a maldade e tirar dos pobres para se enricar, comprar mansões, manter suas orgias e ainda tripudiar da fraqueza alheia.

   Descarregaria toda sua revolta e protestos contra aqueles que fazem do povo massa de manobra em defesa de seus interesses particulares. Seus manifestos seriam duros e impiedosos. Ordenaria que parassem de citar seu nome sob pena de serem jogados nas valas dos esquecidos com morte lenta e penosa.

   Do outro lado, se sentiria infinitamente angustiado com essa justiça feita pelos homens que nada tem de igual para todos, mas que protege os ricos e prende os fracos em presídios sujos, fedorentos e superlotados.

    Como suportaria a dor em ver os bandidos de colarinho brancos soltos por aí, enquanto muitos inocentes encarcerados, inclusive aqueles que não tiveram chances de alcançar uma vida melhor e partiram para o crime? Oh quanta tristeza! Oh quanto desengano, absurdos e trevas ver uma nação caminhar para o amargedon! Diria, Pai afasta de mim este cálice!

     Todos eles não passam de Caifases, aqueles sumos sacerdotes que participaram do julgamento de Jesus Cristo perante o Sinédrio de Jerusalém. Estão mais para traidores do verdadeiro cristianismo, lobos vestidos em peles de cordeiros. Certamente Cristo retornaria envergonhado diante de tanta barbárie cometida por gente que diz, com maior cinismo na cara, ser seu representante na terra.

 

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