Marco Antonio Jardim
Depois de meses, passando por inverno, outono e solstício de verão, volto atrás pra pensar o caminho trilhado. Antes disso, vou buscar o significado literal de amor, pra distinguir dos incômodos alheios. Amar, até onde penso, não tem nada de patético, nem é tão ridículo quanto as cartas de Pessoa e soa muito maior que simplesmente comover. Não amar me parece reflexo de um mundo febril. E não dizer a este mundo que há amor, se há amor, me parece, aí sim, um tanto quanto trágico, pra não dizer desleal. Pois que amo. A Deus, amo alguém, e o próximo de alguém, ao meu gato persa, e ao chão que piso quando acordo dia após dia, ao tempo, ao vento, à liberdade, ora aqui por perto, ora perdida na esquina do meu coração. Eu amo e grito, adoravelmente brando, suave, mas sem qualquer tempo ajustado. E – por que não? – grito no Facebook! Eu subo a serra, mesmo que num olhar distanciado, vejo o horizonte azul, os parapentes flexíveis e suspensos no ar, o mar invertido, plácido, ladeado pelas rochas, cactus, flores, e grito: amo! E fotografo esse aceno e esse som com exclamação. Não há como refutar, entende? Amar é uma inclinação ditada pela lei universal.