Eu era menino, e não faz muito tempo, quando eu costumava ouvir esta expressão: chuva das águas, sempre acompanhada do artigo a no singular indicando um período de chuvas e não apenas a uma chuva, pois estas eram muitas, fortes e duradouras. A expressão sempre me cativou, pois, soa de modo harmonioso e tem conotação poética.
Inicialmente, pensava que se tratava de um pleonasmo. Mas eu ouvia isso de pessoas simples, em especial do homem do campo, do catingueiro que depositava nas chuvas das águas a esperança de plantar e colher feijão e milho. Depois, percebi que o mundo mudou tanto que nem sempre chuva é de água: chuva ácida, chuva de meteoros e chuva de besteiras e de corrupção. Assim, não tem importância preocupar-se com vício de linguagem e nem de aprisionar em uma qualificação uma expressão popular carregada de otimismo.