Marco Antônio Jardim Melo
“Descarta os conceitos. Esquece o que você já viu, ouviu, cheirou e passou a língua – nada mais está selado”. Nem o banho que tomo todo eleito dia parece ter uma síntese. Nem o banho de J., meu gato persa branco. Nem a desinformação dos direitos do homem, quando, por omissão, escolhe seus votos. Escolho os preparados de beleza, a depender do dia ou noite. Distribuo ordenadamente sobre a bacia de louça. Experimento, no tato, a água quente do regador. Respiro o vapor. Ligo o rádio cipó. Toco o corpo, a mente, o entendimento. Deixo a forma molhar, da nuca ao dorso, das costas duradouras ao derrière, da parte interna das coxas à planta dos pés. De tudo escorre lágrima, sorriso, gozo e dança. Meu banho não é liturgia. Mas tem oração contida.