Por Samuel Celestino
É a segunda vez que o Papa Bento XVI tenta se envolver em questões internas brasileiras que transcendem as religiões. Na primeira, quando da sua visita ao Brasil, queria interferência do governo para impedir o avanço das igrejas evangélicas, especialmente as pentecostais. Agora, de forma súbita, encaminha aos bispos do país orientação para que transmitam aos católicos sobre em quem devem votar. É inadmissível tal procedimento. Bento XVI manda na Igreja Católica. O estado brasileiro é laico, não tem conotação religiosa. Assim posto, seria ridículo se um presidente da República, por exemplo, Lula, interferisse nos negócios do Vaticano, que é, ao contrário, um Estado independente e religioso. Creio que a campanha eleitoral à Presidência abriu caminho para o Papa interferir, na medida em que a discussão sobre o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo extrapolam a posição das religiões. Elas têm posições a respeito. O Estado laico, como o Brasil o é, pode divergir. Cabe responsabilidade pela intromissão aos dois candidatos, especialmente Dilma Rousseff que, com medo de perder votos, fez um pacto com os religiosos, contradizendo as suas convicções pessoais no que se refere ao aborto. O documento que ela assinou foi uma rendição de uma pretendente à Presidência de um país laico, conforme a Constituição, às questões dos católicos e evangélicos. Ao se render, permitiu que Bento XVI usasse a sua rendição. Seria muito interessante se Lula, novamente um exemplo, viesse a público, ou através de documento ao Vaticano, recriminar a pedofilia que mancha as ações dos sacerdotes e os princípios do catolicismo e dos cristãos. Assim posto, o Papa invade espaço político que não lhe compete. Compromete, no meu entendimento, o posicionamento da Igreja Católica Apostólica Romana, que exercita conservadorismos absurdos: convive com a pedofilia sem expulsar da igreja quem a pratica e condena a camisinha que evita uma doença como a Aids, que devasta o continente africano. Se assim continuar, a Igreja acaba voltando ao tempo da Santa Inquisição e às fogueiras às condenava e executava pelo fogo quem entendia ter cometido pecado. Que, aliás, também no passado poderiam ser remido com o pagamento de indulgências.