“O livro de Gênesis diz que Adão foi incapaz de desfrutar do paraíso sozinho. Quis dividir com alguém o que tinha ao seu redor. Pediu ao Criador que lhe desse uma companheira, pois, para ele, a solidão seria a pior das experiências”.
Por Ezequiel Sena
Com base nessa percepção, criou-se, ao longo dos séculos, uma imagem profundamente negativa das pessoas que viviam sozinhas. Era castigo ou sinal de fracasso. Agora, esse pensamento foi sepultado, adágio ultrapassado, carta fora do baralho. O tradicionalismo desapareceu. Os sinais estão por aí, atravessamos um momento de transformação na maneira de viver, radical até e turbulento sob vários aspectos. As novas tecnologias abriram portas jamais vistas. “Eu não sou um solitário, mas gosto da solidão”, esta espontânea expressão dum amigo fez-me pensar no ator Walmor Chagas que deliberadamente foi viver numa chácara em Guaratinguetá, onde recentemente se suicidou. Viver só para o intelectual passa a ser uma opção ou, no mínimo, uma imposição da idade, como no caso do ator e desse meu amigo, mesmo de gerações diferentes, no entanto, portadores de dotes e opiniões similares perante a vida, ambos decidiram morar sozinhos.