A aldeia dos divididos

Foto: Blog do Anderson
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Jeremias Macário

Enquanto a humanidade se diverte brincando de sonda pousar num cometa da galáxia universal, cá embaixo a terra pega fogo e o ar está poluído e ardido. Na África milhares de pessoas continuam a morrer de fome e doenças virais, sem contar as guerras de poder, ódio e étnicas que matam na Síria, no Iraque, Afeganistão e na Ucrânia com bombas e rajadas de metralhadoras. Leia o artigo na íntegra.

Guerra nas redes sociais

Jeremias Macário

Jeremias Macário

Confesso que não me atrevo, especialmente nesta época de eleições, a discutir política nas redes sociais, Pelo meu porte físico, não dá mesmo para suportar tantas escarradas partidárias. Ouço comentários de uma verdadeira guerra psicopata fundamentalista das mais cruéis e desumanas. Dizem ser mesmo coisa de terror, com tiros e bombas para todos os lados.

No lugar de instruir e educar, o novo veículo eletrônico de comunicação de massa tem provocado estragos e ruídos na informação, com barbaridades falsas, palavrões de baixo calão, xingamentos e idiotices característicos do próprio animal mais selvagem e bruto da face da terra. Eles passam o tempo esmurrando um ao outro sem dó e compaixão.

Conservadores, ricos e pobres

Jeremias Macário

Jeremias Macário

Em todas as eleições o que mais se houve da mídia, dos juízes e dos eleitores são as palavras “dever cívico”, “cidadania”, “exercício da cidadania” e por aí vai, que correm soltas como se apenas o ato de votar já complementa tudo como dever do cidadão. Pode até ser um dever cívico se a expressão de escolher o candidato for consciente, sem manipulação e compra do voto, direta e indiretamente. Quem se vende e é manipulado não está fazendo o “dever cívico”.

  Bem, mas não é isso que proponha falar. Embora não seja especialista político, ou cientista-político como dizem por aí, os resultados das últimas eleições veem demonstrando um avanço acentuado dos evangélicos que, na grande maioria, adotam uma linha conservadora e muitos deles até de extrema-direita com o velho discurso de tradição, família e pátria, elogios às forças armadas e até apoio à ditadura militar.

O cerco dos fuzis na terra do frio

Jeremias MacárioJeremias Macário

Naquela manhã frienta de seis de maio de 1964 os conquistenses acordavam com um pressentimento diferente em seus corações. A neblina deslizava como fumaça da Serra do Periperi e invadia as principais ruas e periferias da cidade.

Esparramava seus fios finos no horizonte entre o Parque de Exposições; na final da avenida Getúlio Vargas, em direção a Barra do Choça; lá no ponto do “Gancho” da zona sul, que dava para Itambé; e abraçava o outro lado oeste na “Boca do Sertão” que leva a Anagé e Brumado.

Lançamento: Livro aborda a ditadura em Conquista

Foto: Blog do Anderson
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Os efeitos de censura e repressão do Golpe Militar de 1964 no Brasil (que em 2014 completa 50 anos) alcançaram diversos cantos do país. Com o intuito de contar sobre este episódio em Vitória da Conquista, o jornalista Jeremias Macário escreveu o livro Uma Conquista Cassada: Cerco e Fuzil na Cidade do Frio, que será lançado em Conquista nesta quinta-feira (31), às 20 horas, na Livraria Nobel.  Para explicar a chegada da ditadura na cidade, o autor faz um percurso desde as primeiras revoluções socialistas, as influências desses ideais e o começo das rebeliões no Brasil. A densidade de informações históricas é resultado de leituras e entrevistas com figuras que viveram este período.  “Não é um livro acadêmico, é um livro-reportagem”, diz Jeremias, que aproveitou sua experiência como jornalista na sucursal do A TARDE em Vitória da Conquista, onde trabalhou de 1973 a 2005.  Como destaque da obra está o depoimento de José Pedral Sampaio, prefeito de Conquista eleito em 1962 por voto popular e cassado dois anos depois, quando estourou o Golpe. Daí vem o título de “conquista cassada”, que se refere ao prefeito e todos que sofreram repressão por defender as reformas de base propostas por ele. Essa ideia de “reformas de base” se intensificou no governo de João Goulart (presidente deposto pelo Golpe). Segundo o autor, era a época em que a cidade passava por crescente desenvolvimento. “Sou admirador dos anos 60. Foi uma das décadas mais evolutivas na política e nas artes de um modo geral”, diz. Ouça a seguir uma entrevista exclusiva ao Blog do Anderson.

Trânsito, cartórios e estupidez

Jeremias

Jeremias Macário

Calçadas quebradas cheias de carros são sinais de atraso e redução dos negócios na economia de uma cidade, assim como trânsito infernal onde cada um faz o que quer. Prega-se a valorização do pedestre e do transporte público com ruas onde o trafego flua, mas, na prática, não é isso que se vê. Nos tempos atuais, todos defendem o meio ambiente, mas a grande maioria joga papel e lixo em qualquer lugar.

O quadro é geral nas maiores cidades brasileiras, mas falo especificamente de Vitória da Conquista onde comerciantes fazem manifestações porque o poder executivo instalou um sistema binário com ciclovias, eliminando o estacionamento de veículos nas faixas das avenidas. Por falar em ciclovias, elas ainda são pouco utilizadas em Conquista. Deve ser a cultura aventureira de sempre pedalar entre os automóveis. É como pedir passarelas e depois passar por debaixo delas.

Só queria entender

Jeremias Macário

Jeremias Macário

Confesso que não entendi muito bem esse movimento dos comerciantes da Avenida Brumado e adjacências do bairro Brasil contra o sistema binário implantado pela Prefeitura Municipal, no sentido de desafogar o tráfego e permitir o uso de bicicletas com maior segurança através das ciclofaixas.

Aliás, a via de mão única nas avenidas Brumado, Maranhão e Pará tardou a chegar. O ordenamento era um clamor antigo da população. Antes se criticava a bagunça que era a Avenida Brumado, com estacionamentos de veículos nas duas faixas e nos passeios, dificultando a circulação de motoristas e pedestres.

Agora os lojistas fazem coro contra a medida que alivia o trânsito, alegando que o comércio caiu porque os carros não podem mais parar em frente de seus estabelecimentos. Então, vamos voltar à bagunça de antes, com trânsito engarrafado, confuso e perigoso? Assim é melhor!

A “dita cuja” faz 50 anos

Jeremias

Jeremias Macário

A esta altura o assunto deveria estar sendo tratado nas universidades e em todas as escolas do ensino público e privado. Sempre digo que a questão da ditadura civil-militar, ou a “dita cuja” a partir do golpe de 1964, o ano do pesadelo, pertence a todos brasileiros e não apenas aos ex-presos políticos que foram barbaramente torturados, mortos e desaparecidos.

Além de fatos da história ainda estarem sendo reescritos depois de 50 anos, o tema é, lamentavelmente, pouco conhecido entre nossos jovens. O desconhecimento é tão grande que muita gente chega ao absurdo de dizer que a ditadura só pode ser discutida e escrita por ex-preso político que participou efetivamente das lutas pela democracia.

Mistura e quebra-molas

Jeremias

Jeremias Macário

São tantos os absurdos que acontecem no dia-a-dia em nosso país, na Bahia e em nossa própria cidade onde vivemos que fica difícil priorizar uma pauta de discussão. Aí resolvi fazer uma mistura, como dos caras-de-pau que aparecem no programa eleitoral, tipo Renan Calheiros, falando de escolhas com aquela risada irônica e sádica de quem nem está aí para a opinião pública. Outro é o Carlos Lupi, aquele dos “beijinhos de amor” para a presidente. O velho Leonel Brizola, fundador do PDT, deve estar se revirando lá no túmulo.

Audiência e lucro

Jeremias Macário

Jeremias Macário

Não é verdade dizer que o rojão aceso por dois rapazes em manifestações no Rio de Janeiro foi um atentado direto à imprensa, nem que os acusados tinham como alvo o cinegrafista. No entanto, foi essa manipulação da notícia que ouvimos no início dos acontecimentos de uma grande emissora de televisão.

Não estou questionando aqui o ato inconsequente e violento que foi o de acender um rojão numa praça pública com centenas de pessoas no local. Infelizmente, o cinegrafista foi vítima de uma irracionalidade e brutalidade humana. Distorcer os fatos puramente por condenar a ação dos Black Blocks é gerar mais violência e ódio.

Prova de vida

Jeremias

Jeremias Macário

Que seja saudosismo, mas só poucos se lembram dos velhos tempos quando o cliente de um banco era recebido com um cafezinho e tratado com consideração, como gente. Um bancário era respeitado na cidade e tinha o status de uma autoridade. Existia uma relação mais humana e quando alguém ia a uma agência procurava se arrumar para ficar bem apresentável. Com o caixa havia aquele papo como se estivesse entre família e diante de um amigo.

Veio a máquina com o avanço tecnológico e tudo isso se acabou. A violência se incumbiu de destruir o resto. Hoje as agências bancárias mais parecem currais de bois logo que se atravessa aquela porta giratória que detecta metais. Foi assim que me senti na semana passada quando fui fazer a “prova de vida” (denominação ingrata e discriminatória) como aposentado do INSS.

Cardápio pronto

Jeremias Macário

Jeremias Macário

A questão, meu camarada, é seguir o cardápio do politicamente correto e nada de sair por aí expressando sua própria opinião. Tem que acompanhar o consenso geral, senão você está ferrado! Condenar a corrupção já é visto como de “direita”. Ser contra as cotas universitárias e políticas é racismo. Contra casamentos gays, nem falar! Além de ser taxado de homofóbico, você corre o risco de ser linchado.

É isso aí! O rei fala; faz suas alianças com o diabo e os súditos escutam calados. Descumprir as regras do cardápio e ser politicamente incorreto é crime de lesa pátria. Nada de sair por aí criticando e falando o que não deve, sem antes observar as normas de conduta, ou sem ler a cartilha do poder. Viva a mediocracia e abaixo a meritocracia! Você quer ser execrado e excluído do processo? Então é só fazer sua escolha fora dos padrões recomendados.

O moleque das palavras

Jeremias Macário

Jeremias Macário

Prometi a uns amigos falar do parque eólico do sudoeste baiano (Caetité, Igaporã e Guanambi), cujas torres logo mais vão virar atração turística do sertão, mas foi de outra energia que me veio a luz. Não aquela que está lá no agreste sem girar e sem gerar.

Um dia conheci um moleque das palavras e confesso que fiquei encantado e com inveja. Logo eu que nem sabia o bom português escorreito. Meio cabreiro e, com cuidado, fui me aproximando dele, como que não querendo nada, mas querendo. Não podia espantar a presa porque o moleque era cismado.

O monstro de quatro cabeças

Jeremias Macário

Jeremias Macário

Ganhou forma e tamanho logo após ter desembarcado das caravelas de Cabral. Terreno propício onde que “plantando tudo dá”, como anunciou o escrivão Pero Vaz de Caminha. Logo após, outro Pero, procurador do primeiro governador geral era um exímio trambiqueiro e corrupto. No início, o monstro das imensas florestas e das pequenas urbes acanhadas que massacraram os índios e roubaram nossas riquezas, tinha apenas três cabeças, mas com o tempo outra foi surgindo para disputar seu espaço. Não estou falando de um fantasioso ser mitológico grego de outro mundo dos deuses do Olimpo. Melhor que fosse, mas estou me referindo ao monstro real de quatro cabeças, que domina a nossa terra chamada Brasil. Com o passar do tempo, essas cabeças monstruosas ficaram com suas estruturas obesas e criaram milhares de tentáculos, muitos venenosos como serpentes. Estão sempre famintas e são insaciáveis.

Passando a limpo

Jeremias

Jeremias Macário

Ia visitar no dia do Natal meus amigos Ricardo Benedictis e Paulo Andrade que estão se recuperando de um tratamento de saúde, mas aconteceu um imprevisto no aeroporto, que é a maior vergonha de Vitória da Conquista. Meu filho que ia embarcar para São Paulo, às 7 horas da manhã, e depois para o Rio de Janeiro se sentiu mal e terminou vomitando na sala de entrada. Foi impedido de embarcar por questão de segurança no avião.

Até aí, tudo bem, mas o que nos deixou constrangidos foi o tratamento dos atendentes no balcão da Passaredo e da viação Azul. Ficaram irredutíveis e houve uma ligeira discussão em ambas as partes. Ao invés de tentar ajudar, pois o rapaz estava passando mal, chamaram a polícia (um militar e uma militar) que chegou aos gritos. Na confusão tive que responder à altura e, por pouco, não fui preso por “desacato à autoridade”.

Vale dos desvalidos

Jeremias Macário

Jeremias Macário

Vi uma senhora de idade na fila do SUS, tentando marcar uma consulta médica, clamar para o repórter que não tinha nenhum orgulho de ser brasileira. Dentro do hospital público, que mais parecia campo de concentração em tempos de guerra, vi um jovem numa maca do corredor da unidade dizer que aquilo ali não era um hospital, mas o inferno. Foi operado de apendicite “por engano” e estava há quatro dias sem se alimentar direito e sem receber uma visita do médico.

Vi na fila do recadastramento do bolsa família vários idosos e mulheres aflitas com crianças nos braços em desesperados choros incontidos, com medo de perderem o auxílio que os mantêm ainda na pobreza do vale dos desvalidos, ou dos esquecidos. Vi aposentados catando o minguado “benefício previdenciário” do mês para comprar um remédio na farmácia. Do outro lado, vi o lucro astronômico do sistema financeiro dando gargalhadas em suas confortáveis poltronas.

Essa é a cara do nosso país!

Jeremias MacárioJeremias Macário

Tem um provérbio chinês que diz: “Enquanto se briga por um quarto de porco, perde-se um rebanho de carneiros”. A discussão em torno da condenação e da prisão dos mensaleiros nos fez clarear como as leis não são iguais para todos, embora a Justiça se esforce para nos dizer o contrário. Todos nós sabemos que as penitenciárias no Brasil estão cheias de presos com doenças graves, como cardiopatias, AIDS, tuberculose, diabetes e acabam morrendo à míngua sem tratamento justo, adequado e humano. Quem importa com isso! Qual condenado no regime semiaberto neste país consegue um emprego tão rápido, com tão alto salário?

Conquista: “Conquista Urgente” vai cobrar demandas, dentre elas segurança pública

Fotos: Blog do Anderson
Fotos: Blog do Anderson

Um grupo de empresários esteve reunido na noite desta segunda-feira (25), discutindo uma série de demandas para Vitória da Conquista, tendo como foco principal a falta de investimentos na segurança pública, motivo este que tem deixado a maioria da população em pânico.

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Pelo auditório da Fundação Getúlio Vargas passaram os empresários Daniel Soares (Silva Calçados), José Maria Caires (Maxtour/Nobel), Ronaldo Bulhões (Zab), Onildo Oliveira (Labo), Geraldo Meira (Hotel Ibis/Drogaria Bahia) o jornalista Jeremias Macário, o artista plástico Edmilson Santana, o radialista Humberto Pinheiro, além da diretoria do Blog do Anderson. Dentro de alguns dias o movimento nomeado “Conquista Urgente”, retorna a se reunir e deverá oficializar uma série de demandas que serão cobradas juntamente aos setores responsáveis.

Na base do tranco

Jeremias MacárioJeremias Macário

Sabe como é aquele carro de muitos anos de uso, maltratado, chaparia enferrujada e cheio de problemas no motor, que só pega na base do tranco? O dono sempre deixa o veículo num declive para quando sair pegar no tombo. Sempre está pedindo a galera para dar um empurrão. Dessa vez vai, acredita o proprietário. Qual nada, lá na frente torna a parar no meio da rua. O cara gasta o que não tem na troca de válvulas e peças, mas não adianta. Só mesmo um novo resolve. Pois é, já tive um desse e era aquela dor de cabeça! Toma vergonha na cara e compra um carro conservado! É o que sempre recomendam os amigos. O pior é que, para “economizar”, o dono sempre está colocando peças não confiáveis, indicadas por terceiros e fazendo serviços em oficinas suspeitas. Assim é o nosso Brasil, meus caros! Está sempre pegando na base do tranco. Quando se imagina que tudo vai mudar, é só uma questão de tempo para começar tudo de novo. O cidadão se enche de dívidas até a tampa e ainda tem o seu bem desvalorizado, dificultando a aquisição de um novo.

Democracia ou impunidade?

Jeremias MacárioJeremias Macário

O decano do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Celso de Mello, fez um belo discurso do julgamento do mensalão, em defesa do recurso infringente (que nome repugnante!), baseado na jurisprudência do regimento interno da magna casa. No seu voto de duas horas, elogiou ainda a nossa incipiente democracia por propiciar ao réu esse leque de recursos em sua defesa.  Do ponto de vista técnico e jurídico dá até para entender o argumento do ministro, mas na minha modesta leitura como jornalista, não engulo tudo isso. Indagaria se essa infinidade de recursos que temos valoriza mesmo nossa democracia, ou conta pontos para a impunidade? Na minha concepção, ficou bem cristalino que a lei não é igual para todos.  Aos mais fortes e poderosos existe um sem fim de brechas para se livrarem dos processos. Aos mais fracos só resta a prisão medieval na primeira instância. Outro aspecto que ficou claro é que as leis foram justamente elaboradas para cumprir esta finalidade, que é, no último caso, a engorda da impunidade.