Don Corleone e Valfrido Canavieiras

Jorge Maia

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Não há glamour  na máfia. A música adocicada do “Poderoso Chefão” ( Parla più piano e nessuno sentirà) nos transporta para um romantismo  piegas e com tendência a simpatia para com  a família Corleone. Claro, o trabalho de Mário  Puzzo sob os holofotes de  Coppola   é do ponto de vista da sétima arte  belíssimo, Não há como não se encantar com aquelas cenas e com aqueles diálogos.

A máfia é brutal e sem noção de valores, confirmando a regra que os fins justificam os meios, no pior sentido que possamos atribuir a tal expressão. Por essa razão, chamar alguém de mafioso, brincando, pode ter algum sentido de humor, mas uma simples reflexão nos conduz a evitar tal hábito, pois, não devemos banalizar com gestos simpáticos aqueles que geram a dor profunda causada por sua violência e por sua capacidade de corrupção.

Um novo Chico Bento

Jorge Maia

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Em minha casa, todos os domingos, desde que as crianças aprenderam a ler, isso vai há mais de vinte anos, uma frase que permanece em prática é: Vamos à banca comprar revistinhas? É um ritual semanal que, incorporado aos nossos hábitos, permanece como algo de lembrança dos tempos de criança. Todos os domingos nosso encontro com a Turma da Mônica. Além disso, não ficamos na simples leitura. Comentamos os absurdos e a magia dos quadrinhos e sempre pensamos que não haverá outra história igual àquela que tanto nos surpreendeu. Ledo engano. 

Lembranças

Jorge Maia

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Eu era menino, e não faz muito tempo, quando nas tardes  do mês de julho e  do final de dezembro a fevereiro, nas férias escolares, eu  frequentava a Biblioteca Infantil  Monteiro Lobato. A Biblioteca  situava-se na Praça da República – Jardins das Borboletas – hoje, Praça Tancredo Neves.  O prédio foi construído em frente à Catedral de Nossa Senhora das Vitórias, pouco abaixo do monumento  aos mortos da ditadura.

Ainda me lembro das suas paredes externas pintadas em cor amarelo claro  e com personagens de Lobato. O interior da biblioteca era encantador, desde às cores das paredes às estantes e era dividido em dois ambientes para leitura, permitindo a distribuição dos leitores  de modo mais confortável.

Caixa entrega residências em Conquista

Uma breve solenidade na manhã dessa quarta-feira (9), marcou o início das entregas de 1800 residências do projeto Minha Casa Minha Vida, em Vitória da Conquista. O evento presidido pelo superintendente da Caixa Econômica Federal, José Ronaldo Cunha Maia, contou com a participação de servidores da Caixa, representantes da Prefeitura Municipal, moradores e imprensa. Na próxima terça-feira (15), a presidente Dilma Rousseff estará passado sua saudação aos  moradores, ao lado do governador Jaques Wagner, do presidente da Caixa, Jorge Hereda, entre outras autoridades politicas e sociais.

Cartas da Beócia – II

Jorge Maia

Em continuidade, estou publicando outra carta do nosso arquivo, divulgada por Edward Snowden quando da sua espionagem para o Tio Sam:

Beócia, 30 de fevereiro de um ano qualquer.

Prezado Jorge Maia,

Relutei muito em escrever-lhe estas mal traçadas, digo, digitadas linhas, mas, considerando o destaque que o Sr., vem dando à Beócia, o que resultou inclusive no aumento de turistas querendo conhecer o nosso país, o que é bom para mim, acabei encorajada e decidi que escrever é preciso, ao contrário do viver.

Cartas da Beócia-I

Jorge Maia

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Fui surpreendido com a notícia publicada no jornal de maior circulação na Beócia “A Noite” informando que os Edward Snowden divulgou que os meus arquivos foram espionados pelos Estados Unidos e que a ordem partiu diretamente de Obama, temendo as consequências do seu conteúdo explosivo, daí a necessidade de manter sob controle tudo que ali existir.

 Passei a noite em claro, preocupado, pensando se os meus arquivos poderiam gerar um ataque dos EUA à Beócia. Nunca me perdoaria se tal fato ocorresse, pois aquela gente boa da Beócia não merece sofrer as consequências das minhas opiniões e por isso resolvi tornar público aqueles arquivos, evitando mais espionagem na Beócia e livrando o povo de qualquer sofrimento provocado por uma taque devastador.

Ave, Maria!

Jorge MaiaJorge Maia

As Deusas sempre existiram no mundo não cristão. Com o advento do cristianismo e a crença em um só Deus, desaparece no mundo ocidental a figura feminina com acento no céu e com algum tipo de intervenção no destino da humanidade, guardado o poder para um só Deus, cuja palavra é masculina, destronando as Deusas então existentes.

Impossível ignorar que o cristianismo nasce pela chegada do Cristo através de uma mulher. Não foi um disco voador e nem uma nuvem intergaláctica que o transportou para a terra, mas o nascimento igual a todos os terráqueos, embora, filho de Deus, certamente querendo demonstrar a sua boa vontade para com os seres humanos, tornando-se mais próximos daqueles a quem pretendia pregar os seus ensinamentos.

O Frio é Nosso!

Jorge Maia

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A nossa cidade é apelidada de Suíça Baiana em razão do clima serrano. Frio durante o inverno e temperaturas amenas ao longo do ano. É algo tão característico que sempre somos indagados se a cidade está fria, quando falamos com pessoas à distância. O frio está de tal modo ligado ao nosso jeito de ser que ao menor calor ficamos a reclamar e parece que não é mais a nossa cidade. O nosso frio tem, nos rendido muito pouco, diante do potencial que é promissor.

Quando recebemos visitas de pessoas de outras cidades elas brincam com o nosso clima, afirmando que parece existir um sistema de ar condicionado em a cidade. Com certo orgulho, lembramos que no passado o frio era mais intenso e foi modificado por conta da urbanização e desmatamento e cada um tem a lembrança de um frio que foi “ maior” que outro. O nosso frio é um patrimônio incorporado à nossa alma, portanto, faz parte da nossa vida.

Palavras não são apenas palavras

Jorge MaiaJorge Maia

O antigo bordão de Valfrido Canavieira, personagem de Chico Anísio em Chico City, “palavras são palavras, nada mais que palavras” era uma resposta da sua indiferença sobre o que dele falavam os adversários. Dava às palavras um sentido desprovido de valor, nunca se sentido atingido por comentários que ele considerava maldosos.

A evolução do ser humano se deu graças à possibilidade de falar, usar as palavras e usar as mãos, mas, destas falo em outra oportunidade. As mãos, ah, as mãos! Minhas mãos. Bom, depois falaremos das mãos. A vez é das palavras, tão importantes que costumo dizer que Deus não fez o mundo, Deus falou o mundo, que foi criado pelo falar, mais que pelo fazer, enfim, o mundo foi feito pelo falar, e não poderia ser de outro modo, se não usando as palavras.

Uma Periguete na Beócia

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Meninos eu vi! Era trinta de fevereiro de um ano qualquer. Naquela manhã o sol era de outono, lembre-se que as estações do ano na Beócia não tem data certa. O tempo e o clima são móveis de tal modo que o serviço de meteorologia anuncia as previsões do tempo a cada meia hora. Aquele dia foi diferente. O sol se anunciava tépido e o brilho era suave, o toque em nossa pele era quase uma saudação de bom dia, era diferente e para mim significava um prenúncio de algo inusitado. Por alguns instantes pensei ouvir aquelas notas da quinta sinfonia: tan,tan,tan,tan, síntese do prenúncio de uma catástrofe que se aproxima ou que se anuncia. Segui em frente desprezando a minha intuição, absorvido pela beleza do dia.

Jerônimo, o Herói do Sertão

Jorge MaiaJorge Maia

Eu era menino, e não faz muito tempo, quando ao findar de cada tarde, próximo das dezoito horas, corria esbaforido para casa, saindo do campo de futebol, onde hoje é o supermercado Cuiabá, na Rua Jonas Hortélio, para, após o banho, sentado à mesa onde ficava o rádio da nossa casa, buscar a sintonia da rádio nacional do Rio de Janeiro e, ofegante, aguardar o início de mais um capítulo das aventuras de Jerônimo, o Herói do Sertão. Sim, eu ouvia aquelas aventuras em que nosso herói enfrentando banidos, sequestros de mocinhas filhas de fazendeiros, assaltos a bancos por intrépidos bandoleiros.

Aprendiz de Pistoleiro

Jorge Maia

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Eu era menino, e não faz muito tempo, na primeira metade da década de sessenta e ajudava meu pai na empresa Bazar Maia, de propriedade  de um tio. Aquele comércio era situado na entrada da Avenida Lauro de Freitas, na sua parte superior, ali, onde os veículos que descem da Regis Pacheco entram na Lauro de Freitas, era uma esquina e foi desapropriado para alargar a entrada da avenida.

Naquele tempo não havia muita fiscalização quanto ao comércio de armas e munições e era fácil comprar uma arma, as quais ficavam expostas na vitrine do balcão, sem qualquer outra segurança. Uma simples autorização do delegado já era suficiente para adquiri um trinta e oito cano longo.

Entre Fezes e Urina

Jorge Maia

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Nunca assisti a um parto. O único do qual participei foi o meu, mas não me lembro de nada, se não daquilo que contam para mim. Sei que alguns pais, em rasgo de heroísmo, resolvem assistir ao parto de filho que vai chegar e terminam desmaiando, dando um trabalho extra para a equipe que cuida mãe e do nenê que está nascendo.

Nunca tive natureza para enfrentar esse tipo de cena, e, certamente, não resistiria sem desmaiar, mas nem por isso ignoro a grandeza das forças da natureza, emergindo em vida nova, em sua forma criadora, trazendo ao mundo uma criaturinha que representa esperança.

Outros sabores e lembranças

Jorge Maia

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Eu era menino, e não faz muito tempo, quando as tardes de domingo eram esperadas com ansiedade. Depois do almoço a pressa em vestir a domingueira para ir à matinê, para os mais jovens, a sessão de cinema das 14 às 16. Era uma festa. Eu saia da Rua Leonídio Oliveira, antes chamada de Barra do Choça, cruzava a Otávio Santos, em seguida a São Geraldo e seguia em frente pela rua das Sete Casas, hoje Rotary Clube, parte nobre da cidade, onde ficavam as boas casas da cidade.

Um amanhecer na Beócia

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O dia amanheceu mais cedo do que costumava ocorrrer. Naquela época do ano em que a primavera ainda não havia decidido em brotar, o sol, ás vezes, em rasgo de atrevimento, surgia um pouco mais quente e brilhava mais cedo. Fenômeno próprio da Beócia, pois, situada em região serrana, mas próxima dos trópicos, permitia-se a ter um clima que oscila entre uns quês de mistérios, o que faz a Beócia aproximar-se de uma existência próxima ao realismo mágico.

Um raio de sol cruzou o pequeno espaço aberto pelo vento na cortina e feriu-me a visão, acordando-me. Consultei o relógio e percebi que era muito cedo, quatro e meia da manhã. Levantei-me e fui dar uma caminhada pela avenida florida, mas buscando um atalho para caminhar pelo centro velho da cidade e sentir o doce encanto daquelas ruas.

Brasil, um país cristão?

Jorge MaiaJorge Maia

Uma mulher quase nua desfila pelas ruas da cidade.

Seus trajes rasgados e fétidos chamam a atenção de todos.

Tudo bem, o Brasil é um país cristão.

Um homem examina uma lixeira à cata de comida, está faminto.

Tenho fé. O Brasil é um país cristão.

Multidões desamparadas frequentam antros de drogas, são zumbis.

Não me desanimo, o Brasil é um país cristão.

Sentimento de Justiça X Poder Judiciário

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Sempre me causa impacto a lembrança da cena em que Antígona, diante de Creonte, confessando  que desobedecera o seu decreto, sepultando o seu irmão Polinice, pois entre desobedecer uma lei de um homem e a lei dos deuses, preferia obedecer está àquela. A primeira manifestação do Direito Natural, pois entendia que sepultar os mortos era dever dos vivos, mas era um direito do morto ter um sepultamento. Um sentimento natural do ser humano, portanto era um direito natural do morto, ser sepultado.

Um lugar chamado Beócia

Jorge MaiaJorge Maia

Hoje retornei à Beócia. Suas praias de areias brancas e ardentes, seus resorts e seu povo bom sempre foram motivos para eu retornar  àquela região. Sim, a Beócia é uma região. Não é um país, um estado ou um município, mas pode ser qualquer um deles. Fica no sudoeste, em qualquer sudoeste. Às vezes muito próximo de você.

O avião Sobrevoou a cidade buscando a oportunidade para pousar, aguardando as instruções que vinha da terra. Enquanto isso, eu procurei identificar os pontos lá em baixo: à esquerda o poço claro, cuja água prende para sempre quem dela beber. É o meu caso. Não consigo viver sem retornar, vez por outra, eu  estou ali. Mais para frente o aeroporto “Trinta de Fevereiro”, assim denominado por ser a data magna da Beócia. Mudaram o nome do aeroporto para –Aeroporto Zé Guaxinim- nome de antigo politico da região. Claro que causou uma comoção, mas as pessoas se acostumam. O passado não interessa muito por aqui. O presente sim. Viver à esbórnia, como se não houvesse amanhã. O passado é coisa para gente velha e a história só interessa para os livros.

Ah! A velhice

Jorge Maia

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O homem, mais que a mulher, envelhece de modo rápido. A vida talhou a mulher para as maiores dores: cuidar dos filhos, dos idosos, cuidar da casa, enquanto o homem ia para a caça, para a guerra. Ás mulheres cabia esperar pela volta do companheiro e muitos retornavam sem vida ou se quer retornavam. Enfim toda a labuta da vida com as suas tormentas recaiam com mais vigor nos ombros das mulheres, o as levou a um preparo maior para enfrentar as durezas da vida, revigorando-as.

A vida moderna não mudou muito aquele quadro. A diferença é que a mulher além daquelas tarefas, agora, vai para o trabalho fora de casa, competindo com o homem, mas ajudando para aumentar a renda familiar. A diferença continua sendo em ser homem e ser mulher. O homem, mais racional, estabeleceu um código diferente, para atuar nas mais variadas esferas da sociedade; a mulher, usando às vezes, a lógica obliqua das emoções conduz de modo diferenciado os seus embates. Menos contidas, extravasam com as frustrações com as lágrimas, outras vezes com a ruptura de laços e comportamentos que fazem o homem recuar, inibindo uma reação da mesma intensidade.

Sabores, cheiros e sons da infância

Jorge Maia

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Eu era menino, e não faz muito tempo, saindo da infância e entrando na adolescência, morando na cidade, mas em casa com quintal. Sempre tive quintais, um canto da casa que hoje é desconhecido pelos mais jovens e urbanos. Naquela época meu quintal tinha abacateiro, cana caiana, em linguagem coloquial, adorável, pé de laranja e pé de pêssego. Havia galinhas poedeiras e em algumas oportunidades era tirada uma ninhada. Era um encanto.  Das frutas, o pêssego era a que eu mais gostava. O pêssego tem um encanto especial. Sua polpa macia  e seu doce sabor servia de merenda, pois era acompanhada da aventura de subir na fruteira para colher, ou mais perigoso ainda; subir  no muro do vizinho para pegar os pêssegos nas galhas  que pendiam para o nosso muro. Muitas vezes eu ouvia: saia dai menino, você vai cair, era meu pai, ou era a voz do vizinho que dizia a mesma coisa e nestas ocasiões eu descia desembalado do muro, quase caindo e quebrando  a perna ou o braço.