Direto da Praça

Segurança Pública, Segurança Social

Por Paulo Pires

Vou repetir o óbvio: Não haverá eficácia ou eficiência nas ações dos órgãos de Segurança Pública, enquanto não houver Segurança Social. Não adianta querer fechar o buraco da Barragem se o chiclete ou a quantidade de barro utilizado forem insuficientes para esse fim [ao que parece, sempre serão]. É certo que todo esforço para tentar esclarecer o que houve em Vitória da Conquista nos últimos dias merece louvor [isso sob o ponto de vista do Controle Social]. Todavia, quando pensamos que o fratricídio vai continuar, chega-se a clara conclusão que a questão é muito mais complexa, portanto, requer tratamento totalmente diferente. Não adianta tentar curar um câncer aplicando Doril ou Anador. O paciente está vivendo profundas lesões biológicas.

O que ocorre é que as pessoas pensam que terão Segurança Pública à medida que o Estado ofereça mais policial e mais viaturas para fazerem rondas nas ruas da Cidade. A isso, outrora, chamávamos de ledo engano. A questão da Segurança Pública não se atém apenas aos aspectos do controle judiciário e às ações da Policia Militar ou Polícia Civil. A coisa é muito mais grave. Ou profunda, como queiram. Enquanto não tivermos políticas sociais, educacionais, econômicas, estruturais, culturais, etc.etc. não teremos uma sociedade vivendo tempos de paz.  Aquelas passeatas pela Paz [são lindas e comoventes], mas totalmente inócuas sob o ponto de vista do equacionamento do Problema.

Segurança Social? Que conceito é este? Trata-se de um conjunto de medidas que começa pela questão da Justiça Social, envolvendo melhoria nas condições de moradia, emprego, distribuição de renda, presença do Estado nos direitos mais comezinhos dos segmentos sociais menos assistidos. E que passa também por uma reformulação dos Currículos Escolares, tempo de permanência do alunado nas Escolas, preparação e dignidade profissional para os professores [envolvendo melhores salários, condições de trabalho e ambientes democratizados]. Ampliação de redes de atendimentos capaz de universalizar a saúde com atendimentos humanizados e iguais para todos [ou quase todos], com ênfase em uma educação capaz de fazer de cada aluno um sujeito consciente de sua cidadania logo nos primórdios de sua vida estudantil mais estudos demográficos e sociais para soluções de Planejamento Familiar e por aí a fora. Para tanto precisaremos de pelo menos uns trinta anos, se não houver descontinuidade. Não se repara 500 anos de injustiça com uma canetada ou uma passeata.

Tentar fazer Segurança Pública depois que a bagaceira já está espalhada é como enxugar gelo com pano seco. Nos moldes que essa Segurança tem sido praticada, devo reconhecer que nossos policiais são verdadeiros heróis. Eles estão atuando como pessoas que tentam conter um Tsunami utilizando baldes de plástico comprados no Bazar de João Couto. Dá prá você? É um trabalho que nem Hércules nem Maciste agüentariam. Fico pensando aqui no stress dos nossos policiais quando saem às ruas para conter uma horda de meninos e meninas, que a rigor também foram e estão totalmente despreparados e desassistidos diante da Vida.

Diante do quadro que vivemos, chega-se a conclusão óbvia [também] que quase tudo está errado. Não se tem políticas do Estado Federal capazes de harmonizar os diversos setores da Sociedade. Os disparates são enormes. A mesma São Paulo que anda atolada na Lama é simplesmente a que tem a maior frota de Helicópteros particulares do Mundo e que hoje também se orgulha de ficar em segundo lugar na compra de Ferrari e Lamborghini. Fora outros indicadores burgueses que dão aos paulistas um status de grandeza  – e vaidade – só encontrado na velha Paulicéia.

Ora, se há injustiças sociais, certamente haverá [como há] violência marginal. Uma é conseqüência da outra. Infelizmente, muitos setores não veem o perigo de desníveis sócio-econômicos e ficam achando que isso é coisa do capeta.

Eu – se fosse rico – teria vergonha de viver no Brasil. Prá ser sincero, às vezes fico até constrangido com alguns pequenos e desnecessários gastos que faço. Alguns deles são impulsionados pelo meu inescondível espírito de pequeno burguês. Depois que os faço me recobro do descontrole e faço uma penitência ao bom Deus para me dar mais juízo e vergonha na cara e parar de ficar gastando com coisas que não preciso.        

Diz a lenda que o velho Sócrates [o filósofo, não o do Corinthians] certa feita ao entrar em um Bazar na histórica Atenas, viu tanta bugiganga que acabou expressando em alto e bom  som um pensamento: “Graças a Deus não preciso de tanta coisa para poder viver”. Seria bom que todos tivéssemos essa consciência. A Campanha da Fraternidade deste ano exorta-nos para essa reflexão. Para encerrar, diria que antes da Segurança Pública [coisa que se destina mais ao patrimonial] deveríamos dar mais atenção à Segurança Social, esta, além de patrimonial, tem por objetivo maior elevar [o] e a moral da Sociedade. Vamos em frente que atrás vem gente. Até a próxima um bom final de semana.


2 Respostas para “Direto da Praça”

  1. cidadã

    Nós poderiamos dar parabéns ao MP e a OAB se estes orgãos estivessem realizando um trabalho imparcial e de credibilidade, mas não é o que ocorre. Punir maus policiais sim, condenar inocentes (sem prova e sem jugamento)nunca. Vamos trabalhar direito, sobre os fatos e não sobre interesses políticos.

  2. cidadã

    Resposta a Danis

    Nós poderiamos dar parabéns ao MP e a OAB se estes orgãos estivessem realizando um trabalho imparcial e de credibilidade, mas não é o que ocorre. Punir maus policiais sim, condenar inocentes (sem prova e sem jugamento)nunca. Vamos trabalhar direito, sobre os fatos e não sobre interesses políticos.

Os comentários estão fechados.